• O Rapaz da Porta do Lado •

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• O Rapaz da Porta do Lado •

PARTE TRÊS

Ele estava de terno, se é que isso fazia alguma diferença, mas Gustavo se sentiu mais amedrontado como ele vestido daquela maneira tão formal, quase como... Como se pudesse acreditar que algo de ruim lhe aconteceria. Isso só piorou quando ele percebeu o olhar raivoso de Ângelo quando este, percebeu, havia notado um pequeno corpo adormecido em meio aos lençóis e travesseiros. Seu filho, Jonas, dormia profundamente depois de ter recebido cafuné de Gustavo. O sono da criança não seria afetado até que alguém decidisse acordá-lo.

Ângelo, porém, não estava querendo que isso acontecesse agora.

— O que meu filho está fazendo aqui? — Questionou ele, friamente. Pausadamente.

Até mesmo seus ossos gelaram.

Ele demorou alguns segundos para responder.

— E-ele apareceu aqui. Disse que teve um pesadelo. Só isso. — Frisar parecia ser importante, afinal.

Ângelo apertou, com seu dedão e seu indicador, a ponte do nariz, pedindo paciência aos céus. Mas Ângelo sabia que a culpa não poderia ser de Gustavo ou até mesmo do filho, já que sempre vinha o procurar quando os pesadelos aconteciam, e aconteciam com frequência. Talvez ele possa dar a culpa a si mesmo. Sua vida nunca fora fácil, seus pais haviam o abandonado cedo demais, o deixando a própria sorte com um tio nada legal, porém, com a determinação de um búfalo, Ângelo decidiu que queria estudar e sair da cidade, priorizar uma parte da sua vida que ele nunca tinha pensado tanto desde que fez 11 anos: a riqueza.

Com sua cabeça ágil e sua determinação, ele havia conseguido subir na vida, e fez isso do jeito mais complicado e honesto possível. A história com a mãe de Jonas foi uma das coisas que o deixou profundamente abalado depois que ela decidiu fazer o mesmo que seus pais e abandonar o menino, então mais uma vez ele teve de ser forte duplamente. Sua história não havia sido fácil, e ele tentava fazer diferente com Jonas, queria que ele tivesse uma vida feliz e um pai de quem se orgulhar.

— Jonas — Ângelo se aproximou da cama bagunçada e sacudiu o filho pelo ombro, devagar, carinhosamente. — Acorde. Você tem que ir para o seu quarto.

— Não — Jonas gemeu descontente, ainda embalado pelo sono. — Não.

Enquanto pai e filho conversavam, ainda que um deles grogue, Gustavo observava com nítido interesse. Quando Jonas finalmente acordou, ele olhou para o quarto como se fosse a primeira vez que o visse. Não reconheceu seu pai, o aquele homem com que jogou videogame por uma hora inteira, não sabia o que estava fazendo ali.

Então piscou e lembrou, principalmente do pesadelo.

Seu rosto ficou ainda mais pálido.

— Não quero ir. Eu tive outro pesadelo daqueles!

— Já conversamos sobre eles, Jonas. Pesadelos não são nada.

— Para mim, são! Eles são assustadores. E acontecem todo dia.

Gustavo entendia aquela frase tão bem que, ouvi-la de uma criança de dez anos de idade fez com que seu estômago embrulhasse. Ele sentia a necessidade de esticar as pernas, de sair daquele quarto e ir diretamente para sua casa, porque a insegurança estava serpenteando seu corpo, o traçando como ele bem conhecia aquela sensação e tão quanto, a odiava. Ele olhou para Jonas, que tinha ficado com o rosto enrugado, tentando entender por que seu pai queria enfiá-lo de volta no quarto escuro que era seu, logo depois de um pesadelo horrendo.

As horas que eles dois passaram nesse quarto adjacente já haviam sumido da cabeça do garoto. O medo retornara a sua pele, o arrepiando.

— Papai... Por favor...

• Os Garotos do Hot • (CONTOS ERÓTICOS | Livro Extra dos Irmãos Laurent)Onde histórias criam vida. Descubra agora