• Fogo, amor e todas as coisas vermelhas •

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PARTE UM



FOGO, AMOR E TODAS AS COISAS VERMELHAS.

Paulo Marquês sempre soube que nunca teria um bom futuro.

Mais velho de três irmãos deixou de ficar em casa pelo preconceito dos seus pais que já começava a envenenar seus irmãos mais novos, o de 14 anos que fazia piadinhas para toda a rua ouvir e o de 12 que mal conseguia ficar no mesmo canto que Paulo por mais do que dez minutos sem olhá-lo como se ele fosse o próprio anticristo reencarnado.

Paulo não podia viver naquela casa por muito mais tempo, então fugiu. Andou por cinco quilômetros inteiros antes de desabar em uma parada de ônibus em frente a uma loja de materiais de construção. Seus pulmões estavam em chamas e o único dinheiro que tinha no bolso estava contado para suas passagens de ônibus; se decidisse comprar uma garrafa de água faltaria dinheiro. Ele não podia se dar ao luxo de comprar uma mísera garrafa d'água por dois e cinquenta! E era muito tímido para chegar na casa de qualquer pessoa e pedir por um copo de água para saciar sua sede.

Descansou por meia hora apenas antes de começar a andar de novo para um novo ponto de ônibus, um que tivesse luz adequada para que não fosse assaltado ou coisas piores.

Às quatro da madrugada Paulo pegou seu segundo ônibus e seu destino foi uma grande cidade. Ele poderia ter escolhido uma cidade pequena onde boatos não aconteciam e fofocas eram sempre coisas fúteis, mas a cidade grande sempre lhe foi atrativa, e havia mais possibilidades de trabalho. Claro que Paulo não tinha muita experiência com trabalhos de cálculo, era de humanas e adorava fazer trabalhos braçais, isso lhe rendeu músculos e mãos calejadas. Sua primeira parada foi em uma loja de jardinagem. Não havia vagas. E foi assim por duas intensas horas pelo sol da manhã que, apesar de não ser desesperador, ainda ameaçava ficar.

Às dez após andar como um zumbi, Paulo parou à porta de um lugar um pouco afastado de tudo; não era um local urbano nem nada, mas a rua estava silenciosa, e as casas imensas que ali ficavam estavam fechadas como se ninguém ousasse perturbar seus sonos profundos de eras. Quando olhou para o letreiro vermelho como fogo, seu coração deu um pulo e se contraio de dor; mais que isso, ele sentiu que poderia vomitar o que quer que tivesse em seu estômago vazio.

Uma boate. Uma boate gay.

Isso despertou lembranças dos gritos do seu pai lhe dizendo que esta boate era o tipo de lugar que ele sempre iria ficar, como se estivesse destinado a ser um garoto sexual para sempre, nada mais do que um boneco que era pago e... Paulo sentiu um arrepio na espinha e pensou pelo lado racional, o lado que lhe parecia menos assustador.

Se fosse contratado pelo dono da boate teria dinheiro no bolso, poderia comprar água e comida e até achar um lugar para ficar. Um pouco melhor que isso poderia ficar apenas por um ano e depois zarpar para conseguir seu sonho: ser ator. Ator porque ele conseguia distinguir emoções como ninguém, conseguia interpretar qualquer personagens que lhe desse e mesmo assim não se sentia culpado de mentir um pouco de cada vez. Personagem era personagem e Paulo conseguia distinguir cada pessoa como um de seu próprio palco.

Respirando fundo tomou coragem e entrou na boate.

O lugar é enorme e mesmo assim Paulo se sentiu grande demais para caber nas cadeiras ou nos sofás. Quase tudo ali era de uma cor provocante: vermelho — que representava amor ou fome —, violeta — que representava calma e sabedoria —, dourado — representando poder. E mesmo assim, Paulo não se intimidou. Não até conhecer Rafael Laurent.

• Os Garotos do Hot • (CONTOS ERÓTICOS | Livro Extra dos Irmãos Laurent)Onde histórias criam vida. Descubra agora