CAPÍTULO 4: Um dia de cada vez

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Sempre tenho aquele sonho, aquele mesmo sonho todos os dias. Estou em um lugar branco e então vejo meus amigos dizendo algo para mim.
-- T.J por que você nos abandonou? -- Jonas me dizia.
-- Eu tentei, eu juro que tentei proteger vocês.
-- Covarde! Não passa de um covarde mentiroso.
-- Por favor não.
-- Nos ach...

Uma voz da vida real me acorda dizendo que estava na hora de irmos para o trabalho. Era Louis com seu carismático sorriso de sempre, agradecia sempre por tê-lo encontrado 1 ano depois da divisão social em uma colônia de uma das cidades costeiras inundadas antigos tsunamis e que eram abastecidas pelas constantes chuvas e atuais mudanças climáticas. Estava com um grupo nesta colônia procurando mantimentos e comidas típicas daquela área, ele estava ajudando alguns pescadores em troca de moradia e alimento, se encontrarmos depois de tanto tempo achando que cada um estava morto foi emocionante mas um momento de alegria novamente em nossas vidas.

-- Bora T.J a gente tem que estar no porto 4h40 e voce nem saiu da cama.
-- Já te disse que você é um estraga prazer?
-- Depende, mandar eu ir me foder ou tacar sua luminária em mim pode ser?

Dei risada e comecei a sair da cama para me arrumar para mais um dia de trabalho. Trabalhávamos agora nas estações de coleta do Minério, não era mais preciso passar uma semana inteira no mar extraindo um minério para uns riquinhos de merda usarem para seus brinquedos futuristas. Apenas ficávamos nos portos esperando o Minério vir em grandes barris, separá-los dos puros e não puros, as vezes tirar alguma larva alienígena grudada nas pedras e levamos eles para os caminhões, de lá eles são entregues nas muralhas de Cardano e usados pelos cientistas. A cidade era algo de tirar o fôlego sempre que olhávamos para cima, alguns de seus prédios ultrapassavam as nuvens fazendo os antigos prédios de Dubai parecerem bebês. No centro da cidade existia um grande círculo que conectava os principais edifícios, todo o poder de Cardano estava ali em um só lugar nos mostrando como eram grandes e poderosos e nós, éramos a escória, as sobras de suas comidas e sujeiras de seus sapatos.

-- Ei T.J pensa rápido! -- Louis jogou uma lancheira com o meu almoço, sopa de polvo e pães de duas semanas atrás não tinha coisa melhor. Peguei meio assustado e quis saber onde estava o almoço dele.

-- Vai comer larva de cometa no almoço?
-- Não dessa vez, vou levar a Duda para comer nos Docs.

Louis estava com a Duda fazia 7 meses e ele estava muito feliz com ela, dizia que ela a única coisa boa do apocalispe que tinha acontecido com ele e ela dizia o mesmo. Ela morava nos morros da antiga Nova York, eram pequenas casas construídas em cima dos antigos prédios conectados por pontes de madeira, se voce tinha medo de altura e morava nos morros era uma sessão de tortura todos os dias. Já as Docs não eram nada mais do que o prédio mais alto da cidade e era responsável pela vista mais bonita que você veria em toda a sua vida. Fazia com que esquecessemos por um momento a vida possuíamos.

-- Ah legal e imagino que vai tirar o resto do dia para passar com ela não é?
-- Qual é cara hoje sexta, uma folguinha não faz mal.
-- O ditado de "hoje é sexta" morreu a partir do dia que o mundo acabou.
-- Quase acabou.
-- Vai se foder Louis.
-- Um dia você vai achar a sua meu caro amigo. -- Louis disse rindo enquanto saíamos para o trabalho, Gi vinha logo atrás.

                            ○ ○ ○ ○

Já era 13h e nosso expediente havia acabado felizmente, logo após o Louis sair eu e Gi acabamos com todos os barris e entregamos para os caminhões, eu estava tão cansado mas feliz por ir embora mais cedo. Desejava minha cama como um bêbado deseja por uma garrafa de whisky, mas o Gi não.

-- Vamos para taverna do Whilys T.J! A gente merece depois do trabalho duro de hoje.
-- Olha se você quer se embebedar até ficar desacordado pode ir mas eu quero a minha cama neste instante.
-- Você tá irritado com alguma coisa. -- Disse ele em um tom irônico.
-- Só quero dormir. -- Ele estava certo, eu estava irritado.
-- Tabom então eu vou beber enquanto você vai tirar o seu sono da beleza para ver se sai esse mau humor de você.
-- Obrigado caro senhor.

  Eu realmente estava irritado com algo mas não queria dizer o que era, afinal iria acontecer daqui dois dias e todos saberiam que eu estava completando 24 anos. Depois de tudo que aconteceu odiava fazer aniversário, odiava lembrar o que aconteceu naquele maldito dia e odiava ainda mais que comemorassem aquele dia. Meu plano era fazer com que passasse despercebido por todos, sendo apenas mais um dia normal em Cardano, porém, minha ideia estava começando a ter erros já que Gi estava desconfiado de algo e como conhecia ele bem tinha certeza que falaria a Louis que sacaria na hora o que estava ocorrendo. Que merda não sirvo nem para esconder meu incômodo com aquele dia.
  Cheguei em casa por volta das 13h30, os prédios estavam cercados por soldados do exército Cardaniano que escoltavam as pessoas para longe dos edifícios enquanto o líder deles, foi o que imaginei pelas suas vestes e posturas dizia em seu alto falante.

-- Atenção todos! Temos ordens para evacuar essa área da cidade então por favor cooperem que logo tudo isso acabará e vocês voltaram para casa.

  Um homem em meio a multidão gritou em direção ao líder.

-- Evacuação para que? Não estamos infectados ou ameaçando atacar as muralhas. Por que estão fazendo isso?
-- Queremos evitar um possível ataque senhor.
-- Ataque do que? -- O homem então disse assustado com o que acabará de ouvir.
-- Não podemos dizer. Siga o seu grupo por favor.

  Mas era tarde demais, o tal ataque começou logo após o líder terminar de falar. Naves que eu nunca tinha visto lançavam o que pareciam ser tiros de plasma nos prédios e pessoas, os soldados em uma tentativa de contra ataque subiram em armas montadas e atiravam. Não adiantou os ataques seguiam cada vez mais violentos. Eu estava no meio de todo aquele caos tentando me esconder das bombas nos antigos prédios, foi então que uma das bombas acertou o grupo de pessoas que estavam sendo evacuadas, mas havia algo de diferente, eram bombas com uma espécie de gás que ao entrar em contato com um organismo vivo o transformava em humanoide magro e alto, pele negra e com braços longos e garras no lugar de dedos, a cabeça chamava atenção pelos olhos azuis e uma boca gigante coberta por longos dentes. O que um dia foi uma pessoa com amigos e família não existia mais, apenas um monstro restava ali com um único objetivo, matar o que estive em sua frente.

Os soldados que restaram não tiveram chances contra eles mesmo usando suas novas armas feitas com a nova tecnologia, não adiantou, o fim deles era ser esquartejado pelas feras ou virar alimento delas. O ataque agora era nos moradores, o massacre ficava pior a cada momento e eu precisava encontrar Louis e Giovani e se esconder até entendermos o que diabos estava acontecendo. Corri o mais rápido que podia pelas ruas da cidade antiga até a taverna do Whilys, encontrei Gi no caminho entre Whilys e a praça central onde vários comerciantes se localizavam mas que agora tentavam entender que explosões eram aquelas.

-- Que porra foi aquela? Eu estava bebendo e do nada um estrondo alto, tiros e gritos. Você está bem?
-- Gi eu juro que te explico no caminho para as Docs, precisamos buscar o Louis e a Duda antes que eles nos peguem.
-- Quem vai nos pegar?
-- Nem eu sei o que são, a única coisa que sei é que eles matam qualquer coisa que ande ou respire. Agora vamos embora daqui agora!

  Um som monstruoso e animalesco ecoava próximo de nós, eles estavam ali já a procura de comida, corremos pelos fundos do Whilys antes de virarmos petisco de alien.

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