CAPÍTULO 5: Sombras do passado

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Em cima de um prédio e à caminho das Docs, eu e Gi nos deparamos com a parte alagada da cidade. Após sairmos pelos fundos da taverna percorremos um caminho totalmente novo para nós, sabíamos para onde estávamos indo apenas pelo grande edifício das Docs que se destacava por toda a cidade.

-- Venha vamos por cima dos carros que não estão totalmente submersos até aquele prédio. -- Disse para ele.
-- De lá vamos para onde?
-- Subimos até o 10° andar, lá vamos atravessar pelo resto do prédio tombado até o outro edifício. Vamos andar metade do percurso sem precisar se molhar.
-- Se você quer se matar não precisa me levar junto. -- Gi disse em um tom sarcástico.
-- Vai logo e para de graça. -- Disse para ele em um tom ríspido.

O caminho foi um tanto difícil. Os carros estavam cobertos por musgo então estavam um tanto escorregadios, então rapidez era nossa inimiga naquele momento se quiséssemos chegar secos. Em algumas partes do trajeto eu parava e admirava aquele cenário apocalíptico, era incrível e ao mesmo tempo um tanto assustador pensar que um tempo atrás, aquelas ruas que hoje estavam alagadas eram cheias de pessoas correndo de um lado para o outro atrasadas para o trabalho ou buscar o filho na escola. Ruas que um dia foram exemplos de modernidade e revolução com carros que não precisavam mais de um piloto, uma família feliz podia se sentar confortavelmente em seus bancos e aproveitar o passeio, os celulares se tornaram parte de nós com os implantes oculares. A humanidade estava evoluindo cada vez mais mas não percebemos isso.

-- Como você conheceu o Louis? Digo, como se tornaram amigos? -- Gi me perguntou enquanto eu pulava de um carro para outro.
-- Quando cheguei na escola não possuía nenhum amigo, era só eu e minha sombra no meio de milhares de adolescentes com seus grupos sociais, eu ficava na minha durante as aulas e nos intervalos, comia no banheiro. Um dia enquanto comia no meu reservado um grupo de garotos alvoroçados entrou no banheiro, carregavam alguém com eles e esse alguém era Louis, escutei o líder deles dizer que iriam afogar a cabeça dele na privada e depois expô-lo na cantina da escola.

-- Deixa eu adivinhar, você saiu e acabou com todos ali salvando ele? -- Comentou Gi.
-- Sim e Não. Eu sai de lá para ajudar ele mas acabei tomando uma surra, porém, não fizeram nada comigo além e Louis, o coordenador chegou e levou todos eles para a diretoria. Naquele dia não mais com Louis.
-- Poxa nem um obrigado?
-- Eu fui levado também mas para a enfermaria enquanto Louis voltou para onde seja lá estava. No outro dia eu estava indo comer no mesmo lugar de sempre ele me chamou para se sentar com ele e mais dois garotos, eram Jonas e Gaspar. Dali pra frente viramos melhores amigos. Pedri e Sarah chegaram anos depois para o grupo.
-- A surra serviu para algo.
-- Acho que sim. -- Eu disse rindo.

De repente minha risada foi cortada por um grito animalesco, era grotesco e assustador o som emitido. Eu já havia escutado isso quando os Mosphens apareceram pela primeira vez então aquilo não era bom sinal, era bom o Gi saber nadar.

-- Que porra foi essa? -- Ele disse.
-- Sabe os monstros que te contei alguns minutos atrás e você riu dizendo que eu estava inventando? Pois é esse grito veio de um deles.
-- Ótima forma de provar que estava certo. -- Gi disse em um tom irritado.
-- Eu falaria obrigado mas acho melhor irmos o mais rápido possível até aquele prédio.
-- Boa ideia!

Começamos a correr e pular o mais rápido possível em direção ao prédio, faltava apenas alguns carros até a entrada dele. Sentia que a qualquer momento escorregaria por causa do musgo e afundaria na água, felizmente isso não aconteceu. Percebi que algo se aproximava pela água muito rápido em nossa direção, sua velocidade era inacreditável e incrivelmente rápida. Ela tinha seus alvos bem onde queria. Girei e gritei para Gi:

-- ABAIXA!

  Meu aviso foi interrompido por um Morphem saltando da água e agarrando Gi caindo com ele na água. Sangue subia pela água enquanto eles afundavam, e eu, eu estava parado vendo tudo. NAO. Eu não vou deixar outro amigo meu morrer enquanto fico aqui parado, não dessa vez. Agarrei uma viga que estava em cima do capô do carro em que estava e saltei.
  Avistei gi sendo arrastado pela criatura, sua mandíbula estava presa no ombro esquerdo dele, agradeci por aquele ser o motivo do sangue e não algo pior. Com o impulso do salto cheguei por trás do Morphem e atravessei seu corpo repetida vezes com a tal viga de ferro, seu sangue azul estava por todo lugar se misturando com o de Gi, porém, consegui chamar a sua atenção para mim fazendo-o soltar o ombro no qual estava com seus dentes cravados. Gi estava livre para subir até a superfície. Quando o Morphem se virou em minha direção fui golpeado por suas garras bem no peito, o movimento fez com que eu abrisse a boca e gritasse de dor e perdesse o ar acumulado, o choque era insuportável e meu corpo todo se contraia de dor, mas eu tinha que tentar, não importa a dor eu tinha que tentar. Então eu tentei. Aproveitei que ele estava ainda se recompondo do ataque e enfiei a viga no seu olho direito, golpe certeiro e fatal, o tal Morphem se contorceu por alguns segundos para depois parar por completo de se mexer, a consequência de ter dado o golpe final foi perder todo o meu fôlego e começar a me afogar, minha última visão foi o rosto feio da criatura com uma viga em seu olho e então apaguei.
  Quando acordei estava com dois rostos em cima de mim falando algo, olhei para o lado e havia mais uma pessoa deitada e coberta por sangue ao meu lado, minha visão foi voltando e então percebi quem era, Gi estava deitado com uma marca de mordida por todo o seu ombro com seu sangue jorrando. As duas pessoas que falavam comigo eram Louis e Duda, eles estavam ali mas não sabia como.

--Acorda cara a gente precisa sair daqui! Aquelas coisas estão vindo para cá. -- Louis disse eufórico. Parecia que ele estava todo molhado.
-- Duda fica com ele, vou tentar afastar eles daqui.
-- Não faz isso Louis, tá ficando louco? Me ajuda levando ele para dentro do prédio!
-- Não temos tempo...

  Um Morphem que estava já próximo de nós saltou da água e tinha caído bem atrás de Louis, era seu fim.

-- LOUIS CUIDADO! -- Duda gritou.

  Sangue azul cobriu o corpo de Louis, o Morphem estava sendo perfurado por balas assim como seus companheiros que estavam na água também eram alvejados de balas, uma nave parecida com um helicóptero estava se aproximando para pousar bem onde estávamos. Na cauda do helicóptero existia um símbolo que eu já tinha visto em algum panfleto de Cardano, TK-66, o símbolo das forças especiais do governo. As forças especiais era tão poderosa e misteriosa que eles não se associavam ao exercício, trabalhavam por conta própria em missões secretas e tinham uma taxa de 100% de eficácia em suas missões. Eram liderados pela Baba Yaga, ninguém fora das muralhas tinha visto seu rosto apenas seus companheiros de esquadrão, sabíamos apenas que ela era mais letal que as forças especiais e o exército Cardaniano  junto e que seu nome era Alyssa. Os caras eram fodas.
  O helicóptero sobrevoava onde estávamos atirando nos Morphens um pouco mais distante enquanto Baba Yaga e mais 3 soldados das F.E desciam por cordas, um dos soldados aproximou-se de nós e disse:

-- Um deles possui uma mordida no ombro direito e parece ter perdido muito sangue e está desacordado. O outro está com um corte no peito e parece consciente.
-- Ótimo. -- Disse a líder.

  Ela estava vestida com uma armadura cibernética, parecia ser um pouco mais avançada que o restante dos soldados, carregava uma katana em suas costas e um pistola semiautomática em um coldre. Um Morphem surgiu em meio a chuva de tiros programava suas garras na direção de Baba Yaga, ela saltou e no ar aplicou um golpe com sua espada fatiando o bicho em dois. Os tiros pararam quando os Mosphens restantes fugiram, eu estava prestes a desmaiar quando um dos soldados olhou para mim e Louis e disse surpreso:

-- T.J? Louis? Vocês estão vivos?!
-- Sim, senhor é... Desculpe mas você nos conhece, senhor? -- Louis disse confuso.
-- Meu Deus são eles mesmos! -- O soldado que nos atendia disse. -- Eu não havia percebido.
-- Puta merda os desgraçados estão vivos. -- Disse o soldado de pé e alguns metros longes.
-- Quem são vocês? -- Eu perguntei com uma voz fraca.

  Então todos eles tiraram seus capacetes ao mesmo tempo assim revelando seus rostos, Gaspar, Jonas e Pedri estavam vivos. Desmaiei logo em seguida.

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