𝘾𝙧𝙚𝙚𝙥 𝘼𝙣𝙙 𝙒𝙚𝙞𝙧𝙙 • 𝙎𝙖𝙧𝙞𝙚𝙩𝙩𝙚

Capítulo 1

A ponta do lápis passava pela folha de forma habilidosa sob o meu controle. Capturar aquela imagem perfeita era o meu foco enquanto o vento frio e delicioso balançava meus cabelos, e provavelmente estava bagunçando ele mas eu não me importava. A lua estava no seu melhor momento, cheia e viva no meio do céu. Estava iluminando a noite com um brilho que só ela poderia proporcionar e as nuvens tentando ofuscá-la era um dos motivos pelo qual tornava tudo mais belo ainda.

Eu tentava me concentrar para que meu desenho ficasse o melhor possível, mas uma voz... Aquela voz irritante da minha melhor amiga Giulianna, estava tirando o melhor do meu dom. Eu respirei fundo tentando não revirar os olhos e permiti que sua voz adentrasse os meus sentidos para que eu entendesse o que ela falava já que ela não parava. Virei os olhos para ela que estava andando pela arquibancada de um lado pro outro, tentando se equilibrar enquanto tentava ir de um lado a outro na sua maior velocidade sem cair. Eu tentei segurar o riso quando a voz dela ganhou um tom mais alto quando ela quase se desequilibrou. Ela me olhou assustada e parou de correr, tentando não rir de si mesma.

- Juliette! Você pode largar esse caderno de desenhos e me escutar, por favor?

- Por que, Giu? - Larguei o lápis e prestei atenção nela que voltava a caminhar pela arquibancada e eu me preocupei por um instante agora percebendo que estávamos no degrau mais alto, de frente com o campo aberto que no momento estava deserto e pouco iluminado. Ali ocorriam os jogos onde os torcedores como nós, nos juntávamos para ver o nosso time de futebol americano de Riverdale High School, os Bulldogs, jogar. Me lembrando que o quase-namorado de Roberta, era justamente o capitão do time, - Você vai me falar sobre o quanto o Rodolffo é burro novamente?

Ela ficou boquiaberta, como se estivesse ofendida.

- Ele não é burro! Só... Talvez um pouco, mas isso não vem ao caso. Eu só preciso descobrir se quero ou não continuar com ele. E gostaria da sua ajuda, preciso de conselhos amorosos. - Ela disse colocando as mãos na cintura, descendo alguns degraus e depois subindo de novo.

- Eu não posso te ajudar, pois não tenho uma vida amorosa e nem quero. - Suspirei pensando por uns instantes na bagunça que era a minha vida - Você sabe que a minha vida tem sido horrível desde que... Meu pai e meu irmão foram assassinados.

Ela me olhou atentamente como se estivesse sentindo a minha dor por ter dito aquilo em voz alta e me olhou com comparecimento. Abaixei a cabeça e meus olhos estavam marejados. Olhei para o desenho inacabado na folha do caderno e uma lágrima desceu, caindo até a folha. Aquela lua pela metade representava como eu me sentia em relação a perda de duas pessoas importantes na minha vida. Meu irmão era apenas uma criança de dez anos e meu pai foi brutalmente assassinado, tendo o coração arrancado do peito de uma forma inexplicável por muitos legistas, que diziam que a única forma para aquilo era que alguém tivesse força o suficiente para arrancar o coração com a própria mão, mas isso era algo humanamente impossível. Não era?

Um tempo depois, minha mãe disse que para evitar mais sofrimento, deveríamos apenas tentar encontrar o assassino e esquecer a causa da morte em si. Eu tentava fazer isso, mas aquele detalhe ainda me intrigava e ela sempre parecia esconder detalhes. Pois o meu irmão, que morreu no mesmo local, parecia que estava apenas dormindo quando foi encontrado e não tinha um mero arranhão, no final do Sweetwater River ao lado de Greendale, cidade vizinha.

- Juliette? Você está bem?

- Eu estou bem! - A voz de Giu que se aproximou de mim fez com que eu saísse de meus pensamentos e levantasse a cabeça para olhá-la, limpando qualquer rastro de lágrimas, forçando um sorriso para deixá-la tranquila e ela se sentou ao meu lado, olhando meu desenho.

- Para uma abestalhada, você é praticamente uma artista, sabia? Nunca vou me acostumar. - Falou sorrindo, tentando mudar o clima desconfortável daquele assunto. - Bom, voltando ao assunto... Você deveria tentar ter uma vida amorosa. Isso pode ser uma boa distração, Top.