Capítulo 4

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Uma certa claridade estava começando a adentrar meu quarto sem meu consentimento. Eu não conseguia acreditar que havia amanhecido. Parece que meu corpo precisava do dobro de horas para ter o merecido descanso, mas eu sabia que aquilo era culpa dos remédios. Ele me ajudavam em muitas coisas, mas também me deixavam mentalmente exausta de alguma forma, às vezes, parecendo um zumbi.

Eu queria muito parar de tomá-los, mas sempre ficava muito mal quando parava. Então eu nem ousava mais deixar eles de lado. Aos poucos fui abrindo os olhos e encontrando a luz que adentrava meu quarto e percebi que deixei a cortina aberta e por isso, estava acordada antes do despertador tocar. Respirei profundamente e fiquei encarando as folhas se movendo nas árvores, ouvindo os barulhos dos pássaros rodeando as mesmas. Era agradável, mas eu não queria levantar para viver aquela vida. Já estava angustiada por acordar e por ter que ir para a escola por mais um dia.

E para completar, uma certa loira não estava mais "autorizada" a ir a escola naquela manhã. Automaticamente meu corpo despertou um pouco, ao lembrar que ela estava ali, no mesmo teto que eu e minha mãe, bem ao fim do corredor, no quarto de meu irmão. Aquilo era um pouco incômodo, pois ninguém usava aquele quarto porque ele era quase um museu de lembranças que eu não tinha coragem de apreciar.

Era triste, mas essa era a verdade... Eu não entrava naquele quarto desde que meu irmão se foi. Mas Sarah não era uma pessoa ruim, certo? Ela era doce, agradável, parecia brincar um pouco de me provocar por ser tão linda, mas não era exatamente uma coisa ruim a se fazer. Se alguém poderia ficar no quarto do meu irmão, acho que poderia ser ela.

Por falar em beleza, tentei desenhar antes de dormir, mas não tive muito sucesso. Eu estava com um certo bloqueio. Após tomar meus remédios e tentar relaxar um pouco, desligando a minha mente daquele dia super estranho, nada surgia no papel. Meus dedos traçavam formas, círculos e variavam nas cores, mas as únicas coisas que apareciam na folha eram olhos, expressivos, tentadores, misteriosos. Ou bocas bem feitas, provocantes e carnudas. Tentei ignorar o fato de que aqueles traços se pareciam com os da garota no quarto no final do corredor e o sono me venceu, pois os remédios começavam a fazer efeito.

Coloquei o grampeador por cima das folhas e me arrastei até a cama, dormi profundamente e acordei exatamente do mesmo jeito agora. Esfreguei os olhos e comecei a me sentar, olhando para o relógio e percebi que havia acordado uns dez minutos antes do despertador tocar, então já desliguei o mesmo antes que o barulho estridente começasse a soar pelo quarto.

Ao lado dele, vi meu celular e pensei automaticamente em Giulianna. Senti uma certa ansiedade quando peguei o celular e lembrei que não havia falado com ela desde a aula do dia anterior e imaginava o quanto ela estava furiosa ou até mesmo preocupada com meu sucesso. Ao desbloquear o celular, vi várias notificações de chamadas e mensagens e confirmei: Giu ficou preocupada, mas agora ela estava furiosa. Li suas mensagens e tentei não rir com as últimas.

[Giu - 22:40]: Eu deveria me sentir culpada ou furiosa por você ter morrido, Juh Freire?

E continuava.

Dei uma risada e balancei a cabeça, começando a digitar rapidamente uma resposta.

[Juh Top - 6:02]: Estou viva até agora, mas agora admito que estou com medo de não estar depois que te ver. Obrigada por se preocupar, mas temos muito o que conversar sobre ontem.

Enviei e comecei a me levantar, indo até o banheiro com o celular enquanto comecei a minha higiene matinal. O celular vibrou e ela já tinha respondido.

Revirei os olhos e digitei de volta rapidamente.

[Juh Top - 6:10]: Venha alguns minutos mais cedo. Acho melhor que você veja com seus próprios olhos.

𝘾𝙧𝙚𝙚𝙥 𝘼𝙣𝙙 𝙒𝙚𝙞𝙧𝙙 • 𝙎𝙖𝙧𝙞𝙚𝙩𝙩𝙚 Onde histórias criam vida. Descubra agora