Carlos sabia que sempre que ele levava o filho na escola Thiago se sentia como uma criança no jardinzinho, e ele fazia questão de manter as coisas assim. Ele estacionou o carro na porta do colégio, apesar dos protestos do filho, e saiu do carro para se despedir do garoto (antes que este fugisse).
"Ah, pai, qual é? Me larga! Duvido que você fizesse isso com a Letícia." Thiago tentava, sem sucesso, se soltar do abraço do pai.
"Então, pergunta para ela o que eu fiz no primeiro dia de faculdade dela." O homem ria e acenava para os adolescentes que passavam, apontando para Thiago repetindo: "Esse é o meu filho."
O garoto saiu correndo na primeira oportunidade que teve. Ele parou em seu armário para pegar o material, olhou em volta e não viu Elisa em seu armário. A Sabrina já deve ter sequestrado ela, ele pensou.
"Oi, Thiago..." O garoto olhou para o lado e viu uma menina magrinha e com o cabelo bem preto e escorrido. "Eu sou a Stephany, sou da outra turma do primeiro ano."
Thiago sorriu e a menina entendeu isso como um sinal verde para continuar puxando assunto. Eles foram conversando até suas salas e o garoto percebeu os pequenos sinais que a menina estava dando para ele: mordidinhas no canto do lábio, o excesso de toques no braço dele, os dedos brincando com o cabelo... Ele já tinha visto tudo isso antes. E, sem querer parecer convencido nem nada, estava bem óbvio que ela estava dando em cima dele.
"Então... Você também pegou aquele questionário enorme de biologia? E é de anatomia ainda! Eu sou bem ruim nessa parte. Será que a gente não podia fazer ele juntos?" Ela perguntou com aquele ar de quem estava só arrumando desculpa.
"Claro! Você pode ir lá em casa hoje, se você quiser."
"Ah, que ótimo! Seu pai vai estar lá?" Ao ver a confusão no rosto do garoto, ela se explicou. "É que minha mãe não vai deixar eu ir, se ele não estiver."
Thiago fez cara de pensativo. "Hoje ele fica até tarde no consultório, mas amanhã ele deve ficar em casa."
"Vou falar com a minha mãe." Ela sorriu um sorriso bem largo e feliz, o que confundiu Thiago ainda mais.
"Meu professor acabou de entrar, então... A gente se fala mais tarde?" A garota acenou positivamente e ele saiu com um sorriso no rosto.
***
Mais tarde, enquanto ele jantava com a família, Thiago avisou ao pai que ele ia estudar com uma menina no dia seguinte e do pedido imposto pela mãe.
"Ué, achei que os pais da Elisa já tivessem aprovado você." Carlos disse.
"Não é a Elisa, pai. É uma outra menina. Stephany, o nome dela. Ela vem aqui pra gente fazer o trabalho de anatomia." O pai e a irmã se olharam com sorrisinhos de lado e o garoto revirou os olhos, embora ele estivesse torcendo para que acabasse no que os outros dois estavam pensando. "Enfim, eu queria pedir para você dar um oi para a mãe dela e depois sumir. Principalmente, não me faz pagar mico."
"Como assim, Thiago? Você vai fazer um trabalho de anatomia e não vai querer ajuda dos médicos da família?" Letícia zombou fingindo estar ofendida.
Thiago só revirou os olhos e retrucou com "Você nem é médica ainda," antes de voltar a comer.
Carlos disse que atenderia o pedido do filho sem problemas. "Não quero atrapalhar o... Como é que vocês dizem hoje? Esquema? Não quero atrapalhar o esquema do meu filho." Letícia e Thiago riram da tentativa do pai de parecer descolado, que fingiu estar magoado com as risadas.
***
No dia seguinte, o garoto se enfiou no banheiro assim que terminou de almoçar. E não importava quantas vezes Letícia gritasse e tentasse derrubar a porta, ele só saiu quando teve certeza de que estava bonito e cheiroso para a sessão de estudos que ele teria naquela tarde. Ele arrumou as coisas na mesinha de centro, o que o fez lembrar da primeira vez que ele esteve na casa de Elisa. Ele só esperava que Stephany não o fizesse esperar tanto quanto ele tinha feito a amiga esperar naquele dia, ou que judiasse dele como a garota sempre fazia. Quando Stephany chegou, Carlos foi até a porta com seu filho para cumprimentar a mãe da menina.
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Arquivos da Senhorita Óbvio
Roman pour AdolescentsAi, não. Ele tá vindo na minha direção. Ai, meu Deus. Ai, meu Deus! Ele tá vindo na minha direção! Ok, só relaxa. Ele é só um garoto popular. Bom, mesmo se você é um dos garotos mais populares do colégio, você ainda é tão humano quanto qualquer outr...