Capítulo 2

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Takemichi abre os olhos e vê apenas preto. Não era como se ele estivesse no escuro, o lugar era todo preto.

Mesmo confuso e assustado, Takemichi se levanta e olha em volta, mas apenas vê uma imensidão de preto. Não havia nada, o lugar era silencioso e de certa forma era relaxante.

Esse seria o purgatório? Não, ele não imagina que o purgatório seja assim.

Talvez o limbo? É bem provável, já que não há nada aqui a não ser uma imensidão de preto.

" Bem-vindo ao limbo, Takemichi Hanagaki." Uma voz do além é ouvida.

Takemichi olha para todos os lados na intenção de achar a pessoa que disse isso, mas não teve sucesso.

"Quem é você?!" Takemichi, por incrível que pareça, não estava com medo. Ele já havia morrido, não há nada mais para temer.

" Alguém que irá te ajudar" A voz desconhecida respondeu com carinho.

"Me ajudar? Eu não preciso de ajuda." O loiro não estava entendendo nada.

Ele não precisava de ajuda. E mesmo que precisasse, ele não teria essa ajuda, a morte já lhe abraçou, e nada pode ser feito contra isso.

" Pobre alma, não negue ajuda se precisa dela" A voz se refere ao loiro como pobre alma.

"Então... Como você pode...me ajudar?" Takemichi estava começando a achar que era loucura tudo isso.

Ele tem certeza de que estava morto. A sensação da morte se aproximando e lhe abraçando era real demais para apenas ser um sonho. A corda apertando seu pescoço e seu pulmão implorando por ar era real demais para ser um sonho. Ele realmente morreu.

Céus, nem mesmo após a morte ele poderia descansar? Tudo o que ele quer agora é descansar seu corpo e mente.

"Eu lhe darei outra chance." Isso não foi muito detalhado, voz do além

" Você ganhará outra vida. Esqueça toda dor e sofrimento dessa vida, esqueça todos os problemas que lhe cercavam. Esqueça o Takemichi que vivia pelos outros, e viva pelo próprio Takemichi. " A voz dizia sempre calma e gentil.

" Outra vida?" Takemichi pergunta curioso. Aquela voz tinha "poder" para fazer isso?

"Sim, mas tem um preço." Pode ser percebido um leve tom de malícia nessa frase.

"E qual seria esse preço?" Por que ele estava perguntando isso? Ele não queria apenas descansar? Então por que simplesmente não falava que a única coisa que queria era aproveitar sua morte o máximo possível.

"Por dezessete anos de sua vida, você vai viver o próprio inferno na terra."

Takemichi não estava entendendo o que fez a voz achar que ele aceitaria essa proposta ridícula. Ele por acaso tem cara de masoquista? É claro que ele não queria viver mais uma vez o próprio inferno.

" Mas quando o relógio marcar meia-noite, e você fizer dezoito, eles te acharam e iram cuidar de você." A voz misteriosa diz com animação.

Eles? Quem são eles? E porque ele teria que viver dezessete anos de azar? Não poderia ser menos não?

"Eles? Quem são eles?" Takemichi pergunta a coisa mais importante.

"Você saberá na hora certa, pobre alma. Mas lembre-se de uma coisa; o encontro de vocês era trágico, e nesse momento, você ficará entre a vida e a morte, e eu irei te perguntar se deseja viver ou morrer." A voz estava séria.

" Se eu me lembrar dessa conversa de agora eu logicamente iria dizer que quero viver." Takemichi não estava entendendo a lógica disso.

"É ai que está a questão mais importante. Você não se lembrará de nada, nem de sua vida anterior, e muito menos da nossa conversa."

Oh, isso seria um problema grande.

" Se você disser que quer viver, irá conhecer eles, e depois de conhecer eles,nada de ruim acontecerá com nem um daqueles que você ama. Nada lhes fará morrer, à não ser a velhice." Takemichi já estava ficando angustiado para saber quem era eles.

" Como eles saberão que sou especial para eles?" Quanto mais tempo se passa, mais a conversa ficava estranha e sem sentido.

" Confie em mim. Eles saberão."

Confiar em uma voz do além? Será que é mesmo uma boa ideia?

" Então aceita minha proposta?" A voz estava animada para saber a resposta que receberia da pobre alma.

" Eu... não sei se estou pronto para enfrentar o mundo mais uma vez..." Takemichi não tinha certeza se aguentaria essa dor outra vez.

" Pobre alma, esqueça tudo o que sofreu. Aquele mundo não merecia te ter, você era lindo e puro demais para viver naquele lugar. Eu estou te mandando para um lugar que irá sofrer? Sim, mas depois desse sofrimento, nada e nem ninguém irá tirar a alegria que em seu coração começará a brotar. Eu apenas peço que confie em mim."

Enfrentar o mundo outra vez? Talvez fosse estupidez dizer sim, essa ideia até parecia absurda depois de tudo que ele viveu.

Mas...ele queria sentir a sensação de estar vivo novamente. Ele queria sentir a mesma sensação que sentia ao estar ao lado daqueles que ama. Ele queria sorrir de verdade mais uma vez. O sofrimento que ele iria passar seria cruel? Com toda a certeza, mas ele era Takemichi Hanagaki, um garoto que nunca desiste de nada, um garoto que enfrentou o mundo várias vezes, que se levantou após vários e vários tombos que a vida lhe deu.

Draken e Mikey com certeza lhe dariam um cascudo por isso que iria fazer. Ele estava literalmente dizendo sim para sofrer. Mas ele queria sentir a alegria que iria brotar em seu peito. Então que Mikey e Draken lhe perdoe, mas ele não iria recusar aquela oferta.

" Eu aceito!" Takemichi diz com aquela confiança que sempre teve, e que de um tempo para cá, estava perdida dentro de toda aquela escuridão que dominou seu interior.

"Então lhe desejo boa sorte." A voz disse com um tom carinhoso.

Takemichi sentiu uma tontura lhe atingir. Pouco depois, sua visão embaça e tudo começa a girar. Uma forte sensação de estar caindo também lhe atinge. Era enjoativo e ruim, mas para sua felicidade tudo isso para de uma vez e ele perde a consciência.

Os olhos do bebê se abrem, revelando um azul oceano que a enfermeira nunca tinha visto em sua vida.

"É lindo." A enfermeira sussurra para sua colega de trabalho, que encara o bebê e também fica admirada com a beleza do mesmo.

"Sim. Eu tenho a certeza de que ele terá uma boa vida" A outra enfermeira diz olhando para aqueles lindos olhos azuis.

Mal sabia elas que aquele bebê era Takemichi Hanagaki, uma alma destinada a sofrer dezessete anos de sua vida apenas por nascer fraco e meio afeminado em uma família de alta classe que vangloria os fortes e aqueles que tem poder social.

Mal sabia elas que aquele bebê iria sofrer na mão daqueles que deveriam lhe amar e lhe proteger.

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