Nos três primeiros dias depois de descobrir parte da atrocidade cometida contra seus pais, Eren se sentiu deprimido.
Deprimido era uma palavra muito forte, em sua opinião. Ele apenas vivenciava um estado de exaustão mental que o impedia de agir adequadamente. Mesmo nos poucos momentos onde se encontrava com Armin e Mikasa para discutirem o trabalho de sociologia, as palavras saídas de sua boca eram quase monossilábicas, levando o louro, que não fazia ideia do que se passava, a olhá-lo com genuína preocupação.
— Só fiquei até tarde revisando as matérias — garantiu Eren. — Sabe, estou um pouco atrasado em... Enfim, tudo.
Não era, em parte, uma real mentira. Embora soubesse que não podia se dar ao luxo de perder a bolsa e por isso precisava manter as notas acima da média, não tinha espaço em sua cabeça para pensar em questões acadêmicas.
— Escuta, Eren, não precisa se preocupar com isso sozinho. Podemos ajudá-lo a manter as notas boas até você se acostumar com o ritmo. Não é, Mikasa?
Do outro lado da mesinha de centro, Mikasa trocou um olhar com Eren antes de concordar.
— É, claro.
Ele desviou o olhar. Os três marcaram de se reunirem na casa dos Ackerman na parte da tarde porque Armin encontrara uma reportagem de 1986 sobre Movimentos Sociais, mas Eren não havia trocado mais de duas frases com a garota depois da noite em que ela o havia trazido de volta à realidade; tinha a impressão de que talvez ela fosse desvendar o que se passava em sua cabeça e, ao mesmo tempo que aquilo o atraia, também o alertava para ficar longe.
— É sempre bom acrescentar fontes antigas nas pesquisas — disse Mikasa ao checar o livro trazido pelo louro.
Eren, rabiscando distraidamente, murmurou sem pensar:
— Uhum. Mostra que, se desde sempre existiram problemas negligenciados por alguns, também existiam outros dispostos a resolvê-los.
Os dois colegas o encararam, parecendo um pouco surpreso por ele querer compartilhar sua opinião. Armin sorriu.
— Você parece se interessar por sociologia, Eren.
Ele deu de ombros. Os assuntos abordados em matérias como sociologia e história eram os que mais lhe chamavam a atenção; antigamente, o jovem era fascinado por aprender sobre o passado de outras pessoas, observar seus erros e acertos e formar sua própria visão. Achava extremamente necessário conhecer a realidade em que viviam e descobrir o que os levaram até ali como um todo.
Vendo que ele não pretendia falar mais nada, Arlert continuou:
— O professor tinha citado aquele filme "Selma", se não me engano, e se passa na época de 1965 — ele virou a tela do notebook que trazerera consigo para Mikasa e Eren verem as informações sobre o tal filme. — Viram? Muitos provavelmente vão usar o filme como referência, mas o livro também será de grande ajuda. E nos garantirá uma nota máxima, eu espero.
Depois disso os três fizeram rascunhos das partes importantes que não podiam ficar de fora do trabalho e trocaram algumas ideias extras. Felizmente, estavam adiantados em relação ao tempo de entrega: Armin era muito inteligente e Mikasa, apesar de falar pouco, tinha uma mente incrível. Pararam poucas vezes, uma para lanchar e outra quando Gabi descera as escadas empolgada — ao avistar a companhia desconhecida, no entanto, a menor franzira a testa e se calara, desconfiada.
— Esse é o Armin, Gabi, de quem te falei antes. Da escola, lembra?
— Você é a Gabi, então? — o louro sorriu de forma simpática. — Ouvi muito sobre você.
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o paraíso dos quebrados | eremika
FanficA vida de Eren Yeager começou a estilhaçar no momento em que seus pais foram assassinados, deixando-o a mercê de toda a raiva, melancolia e desespero que um adolescente de 17 anos poderia sentir em uma tal situação devastadora. Meses depois, ele e a...