No Alemão 2 (DEGUSTAÇÃO)

Dois.

                      Guerrilheiro 🥋

Acabei de sair da boca, tava indo ver a coroa.

Meu coroa partiu mas deixou uma quantia gorda pra minha mãe antes dele morrer, o V2 também nunca deixou a gente na mão, o mano me criou como filho, o que ele dava pros filhos dele, ele dava pra mim também.

Agora se for pra botar na pista uma pessoa que eu não gosto, essa pessoa é a Ana. Por culpa dessa filha da puta que meu coroa morreu. Cresci odiando tudo, nunca fui de muito papo.

JP: Colé bandido? Vai brotar lá no campo? - Encontrei o mano JP no caminho e fiz o toque com ele. Menor é firmeza, cresceu lado a lado comigo.

Guerrilheiro: Vou nada. Vou lá pra casa ver a coroa, depois eu tenho contenção. - Passei a mão na nuca.

JP: Ainda... Mas aê, qualquer dia a gente marca a melhor forma e faz uma pelada maneira. - Eu assenti e ele logo foi embora, me fazendo continuar a minha caminhada.

No caminho pra casa, eu vi a Melissa. Passa pelo sujeito na maior marra, toda se bancando a pá. Eu falo com o NG e às vezes com a Maya, mas com essa daí eu não rendo homenagem nem fodendo.

Guerrilheiro: Eae Fernandinha. - Encontrei a Fernanda, sentada na calçada.

Fernanda: Tu viu a Jujuba? - Geral chamava a Júlia assim, se eu não me engano era porque quando ela nasceu, ela só queria ficar no colo, um grude do caralho.

Guerrilheiro: Vi nada. - Ela fechou a cara.

Nanda: Vocês também nunca vêem nada, af. - Bufou. - MEL... - Gritou a Melissa, que logo veio na nossa direção.

Guerrilheiro: Vou puxar o meu, jae? - Falei assim que a Melissa se aproximou.

Mel: Que isso Biel... Precisa sair só porque eu cheguei não. - Me olhou toda sonsa, odeio essa porra. Nem dou intimidade no bagulho e ela já vem puxando simpatia. Ignorei a presença dela, fiz o toque com a Nanda e segui o meu rumo.

Minha coroa odeia me ver nessa vida, ela falou que meu pai pediu para que ela nunca me deixasee entrar nisso. Mas eu não botei muita fé, quando ele morreu, eu ainda nem existia praticamente... Tinha nem como ele ter falado isso pra ela.

Porra, sinto falta pra caralho dele, é mó bagulho doido tu ter que crescer vendo os mano ao seu redor com a família toda junta e tu lá, sem um pai do lado. Geral fala bem dele, dizem que ele era sangue bom pra caralho e que se estivesse aqui, ia gastar a onda comigo.

O morro hoje até que tava calmo, teve invasão semana passada, foi parada de doido, quase fui pro saco.

UPP subiu de giro, se eu não brechasse, nem estaria mais aqui pra contar história. Vai achando que o crime é só flores, crime na vida real não é igual nos filmes, aqui o bagulho é mais embaixo.

Tenho uma passagem pela polícia, fiquei um tempão privado. Motivo? Homicídio e tráfico de drogas. Isso porque não souberam do resto...

A Ana conseguiu me tirar de lá, ela é advogada. Independente de qualquer coisa, nunca vou ser ingrato, se eu tô na pista hoje, foi porque ela me ajudou a sair daquele inferno.

No crime, ou tu tomba, ou tu caí. Se tem uma parada que eu aprendi foi que, antes a deles chorando do que a minha.

Desde menozin eu não gosto de UPP, os caras sobem de madrugada só pra fazer chacina na nossa favela. Eu cresci vendo isso, todos os dias, cresci vendo os mano caindo e subindo, vendo mano traindo e sendo cobrado por isso.

Desde menor eu vejo a morte de perto, ouço a bala comer desde que eu me entendo por gente...

Carla: Vai fazer o que hoje? - Cheguei em casa e fiquei jogado no sofá, até ela aparecer, dando um tapa nos meus pés e se sentando ao meu lado.