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"Preciso relatar o que eu fiz
Porque eu não quero fazer mais
E hoje perceber que o que parecia ser, não era
Eu fui saber a fundo com que o meu avô colava o meu sapato [...]"
(Menina tatuada, Salomão do Reggae)

]" (Menina tatuada, Salomão do Reggae)

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Caxias do Sul - RS, julho de 2005.

Começou quando Saimon Rangel era apenas um menino.

Filho de um caso extraconjugal, a sua mãe vendia o próprio corpo em algumas esquinas da grande cidade de Caxias do Sul a fim de sustentá-los. Quanto ao seu pai, este sumiu no mundo deixando muito claro o fato de que não existia espaço em sua família aparentemente perfeita para um bastardo. Sendo assim, Saimon passava a maior parte do tempo na companhia dos avós maternos - aqueles que lhe ensinaram a respeito do amor.

Oswaldo Rangel era o seu maior exemplo de masculinidade. O velho sapateiro era um cristão genuíno, um marido e pai muito amoroso e atencioso, e como se todos esses atributos não fossem o bastante, ele também era um dos cidadãos mais respeitados do bairro onde residia. O sonho do menino era se tornar um homem semelhante ao avô, mas para que isso acontecesse ele teria de percorrer um longo caminho repleto de espinhos e escolhas difíceis.

Após mais uma manhã abarrotada de aulas de matemática, português, ciências e tantas outras coisas que o garoto queria apenas esquecer, enfim adentrou a pequena e aconchegante casa dos seus avós - também conhecida como seu refúgio.

Era quando estava na companhia dos mais velhos que Saimon sentia-se livre para ser quem realmente era, sem precisar preocupar-se em se esquivar do bullying do qual era vítima devido a má fama da sua progenitora, à medida em que desdobrava-se no intuito de tirar notas boas o suficiente para não repetir de ano e trazer ainda mais desgosto para dentro do seu lar. Era ali também que ele encontrava paz.

Uma paz inexistente em sua casa, visto que a mãe estava sempre cansada e estressada demais por causa da profissão cuja desempenhava.

"Nossa Beatriz já foi uma menina muito doce e alegre, mas hoje ela tem colhido o que plantou: desobediência, rebeldia, orgulho, dentre tantos outros pecados" - era o que Oswaldo costumava dizer sempre que o neto tinha algum atrito com a mãe.

Beatriz Rangel era um mulher com pouco mais de trinta anos, dona de olhos e cabelos escuros enquanto a pele possuía um tom bronzeado. Em contrapartida, o filho tinha olhos esverdeados, cabelos escuros e pele alva. Quando olhava para o menino tudo o que Beatriz enxergava era imagem daquele que iludiu e partiu o seu coração sem nem pensar duas vezes.

Talvez, esse fosse um dos motivos pelos quais ela não conseguia demonstrar afeto por Saimon.

- Oi, vó - cumprimentou ao deixar a mochila sobre a poltrona pertencente ao avô.

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