Quinto passo: (Des)rejeitar uma declaração

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"Não fique até tão tarde jogando e vá dormir, uma boa noite de sono é importante para o cérebro… Quem sabe assim o seu funcione um pouco melhor... Já vai ser um milagre…", ainda que as palavras fossem um tanto insultantes, Luffy ouvia-as de bom grado ao aproximar o aparelho celular da orelha, deixando a voz grave com uma aspereza de rouquidão lhe preencher os ouvidos. "Boa noite, Mugiwara-ya", aquele final carinhoso, mesmo disfarçado, era o motivo para o sorriso radiante que pintava seu rosto logo cedo, ainda que o áudio fosse da noite passada.

Já havia algum tempo desde que Luffy tinha ido até a casa do Trafalgar se desculpar com o mesmo. Havia entendido que ele se afastava de si por algum motivo que não compreendia – por mais que devesse –, porém respeitou a vontade dele de não falar sobre. O que não significa que não interpretou aquela conversa franca como um convite aberto para se aproximar a partir de então.

E de fato fez de tudo para ficar o mais próximo possível do mais velho, desde fazer visitas esporádicas inesperadas, tentar arrastá-lo para comer consigo durante os intervalos entre as aulas e até acompanhá-lo na biblioteca, mesmo que fosse para dormir enquanto ele estudava. Obviamente havia sido trabalhoso fazer com que ele deixasse-o forçar a entrada das barreiras ao seu redor e aproximasse mais do que permitia até então, mas Luffy estava feliz com o pequeno avanço.

Até mesmo para si os frutos dos seus esforços eram notáveis; conseguiu o número dele e essa foi uma das razões para as conversas mais frequentes, desde de manhã bem cedinho às madrugadas do fim de semana; estavam mais próximos; e ainda havia aquele clima intimista entre eles, desde diálogos à apreciar a presença alheia, era como entrar numa bolha confortável e apetecível que levava o menor a crer que estar apaixonado era a melhor coisa que existia.

Contudo, nessa distração sequer percebera que ainda não havia feito a coisa mais importante: ser sincero sobre como se sentia com ele. E agora que se deu conta disso, estava disposto a falar com ele imediatamente sobre o assunto. Sobretudo porque era o último dia antes das semanas de provas finais e Law sempre evaporava nesses momentos, além de ele mesmo ter uma promessa a cumprir a seu avô e precisar se dedicar a ela também.

Então teria que resolver tudo ainda naquele dia se não quisesse ter de aguentar mais duas ou três semanas para fazê-lo.

Afinal, Luffy já estava se sentindo angustiado guardando aquele sentimento apenas para si; queria e precisava contá-lo sobre a paixão que estava nutrindo por ele, e principalmente saber como ele se sentia também, o que o deixava bastante inquieto, conquanto estivesse confiante em declarar seu amor e a resposta que teria.

Sendo assim, aproveitando que finalmente após semanas seu tornozelo e pulso estavam livres, logo que bateu o sinal da primeira aula, correu para fora da sala sem nem esperar os amigos que costumeiramente o acompanhavam para todas as aula.

Chegando em seu armário, pronto para jogar os livros que não usaria mais – já que pretendia faltar para achar o moreno, nem que precisasse fuçar cada vidraça das janelas para isso – no entulho de coisas que tinha preguiça de organizar no pequeno cubículo, a primeira coisa que viu ao abri-lo, entretanto, foi um papelzinho azul bem dobrado cair de lá. A curiosidade o fez jogar os livros de qualquer jeito no armário e se abaixar para pegá-lo.

“Venha até a sala do grêmio depois da última aula. Preciso falar com você.”

A caligrafia era bonita, a mensagem era autoritária e ainda havia um cheiro levemente amadeirado nela, Luffy nem precisava ver o nome de Law no canto do papel para saber que era dele. Como não recebeu qualquer resposta dele ainda, nem vira o seu status online, provavelmente ele sequer havia tocado no celular ou esquecera-o em casa.

De toda forma, aquele bilhetinho simples foi o suficiente para causar um calor confortável no peito e pôr um sorriso amoroso nos lábios, a ansiedade de vê-lo voltando a mil. A sorte parecia sorrir para si, pois nem precisaria se dar o trabalho de procurá-lo mais.

Como (des)rejeitar alguémOnde histórias criam vida. Descubra agora