A brisa fresca do começo da noite de verão balançava os fios negros do garoto sentado em frente ao lago. Seus olhos estavam distantes, conquanto mantivessem-se fixos no pequeno pingente bonito que prendera em seu chaveiro.
Seu coração ainda estava machucado; havia passado por sua primeira desilusão amorosa e não imaginava o quanto aquilo doía. Ainda que entendesse o que Law lhe declarou naquele dia, o sentimento que ele havia exposto, tê-lo visto com outro alguém a princípio o magoou, imaginar que ele pudesse gostar ou querer estar com outro alguém que não a si doeu, e por fim deu cabo a magia que a ilusão de uma imediata reciprocidade havia criado.
Mas no fim, com uma sensação infundada de rejeição e traição, agiu de forma imatura, sentindo raiva e mágoa como se ele tivesse alguma culpa pelos sentimentos que tinha por ele, por sentir o que sentia, ou qualquer obrigação com eles. Ele não era seu, eles não tinham um relacionamento e ele podia fazer o que bem entendia, ainda que lhe custasse aceitar.
Tudo era novo e estranho demais para si. Sempre foi alguém bem resolvido, todavia não sabia o que fazer agora. Ainda estava apaixonado, porém seu coração também estava ferido e bastante confuso, e não tinha a menor ideia que norte deveria tomar para mudar ou resolver aquela situação.
Sua mão apertou o pequeno objeto no amontoado de chaves quando ouviu passos se aproximarem, vendo Ace sentar ao seu lado.
— Você se lembra como eu era quando tinha 10 anos? – O silêncio evidentemente não durou muito tempo, logo o de sardas estava puxando um assunto repentino.
Luffy fez uma careta, voltando-se a ele.
— Você vivia com raiva, brigando, xingando e me batendo.
Ace revirou os olhos, acertando um cascudo no topo da cabeça do irmão, este que fez um biquinho levando as mãos ao local atingido.
— Eu sei que posso ter sido um pouco marrento, mas isso não vem ao caso. – Explicou cruzando os braços. — A questão é que eu era na verdade bastante insensível com todo mundo.
O garoto franziu o cenho sem entender o que o mais velho queria com aquela conversa, e Ace logo percebeu isso, suspirando em seguida.
— Quando eu digo isso, Luffy, quero dizer que já magoei muita gente com esse jeito, até mesmo pessoas incríveis que continuam ao meu lado, como você e o Sabo... Mesmo mais velho eu continuei daquele jeito, e foi quando eu magoei o cara mais incrível que já conheci, que confiava e acreditava em mim sempre, que eu entendi o que era responsabilidade afetiva, que a maneira com que agia poderia afetar muito alguém.
O trio de irmãos sempre foi sincero uns com os outros e contava sobre o que sentiam, o que passavam ou quaisquer amenidades. Contudo, de todos, Ace era o que mais evitava falar de sentimentos, sendo completamente fechado e ranzinza quanto a isso. O que mudou com o tempo, claro, ele e Sabo tiveram grande influência nisso. Só que, ainda havia coisas que não sabia sobre ele, então ainda era uma surpresa para si certas coisas que ele já havia feito ou passado, embora o nome do melhor amigo – ou algo assim – dele, Yamao, viesse em sua mente.
Será que ele havia passado pelo mesmo que estava passando agora?
— Hm, quer dizer que agora você se preocupa com tudo que faz por causa das outras pessoas? – Questionou incomodado. Era aquele conselho que seu irmão queria passá-lo, logo Ace?
— Não, Luffy, não é nesse sentido que estou dizendo. – Suspirou. — Sabe que não temos que fazer ou deixar de fazer nada porque os outros querem ou não, ou pelos outros e não pela gente. É só que, às vezes ser insensível e egoísta demais pode machucar desnecessariamente alguém, e nos machucar também. Você não precisa mentir, fingir ou fazer qualquer coisa que não queira para agradar alguém, mas pensar um pouco nos sentimentos alheios pode mudar muita coisa. Ninguém nasce sabendo o que tem que fazer ou a melhor decisão, só vamos nos aprimorando conforme amadurecemos. Às vezes o que temos que fazer é colocar não só a nossa liberdade acima de tudo, mas considerar a das outras pessoas também.
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Como (des)rejeitar alguém
Fiksi PenggemarA vida gostava de pregar peças e brincar com os sentimentos das pessoas, zombar das atitudes que desgostava e jogar pragas sem ver a quem. Luffy estava provando o gosto amargo de uma dessas peripécias ao ver-se em um irônico cenário de se apaixonar...