Capítulo 16

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Isamel
Mansão Kendrick, Los Olivos
19 de setembro de 1995, 22:23

 Em junho de 1991, Ayrton Senna disse algo que faz todo sentido agora "O medo faz parte da vida da gente. Algumas pessoas não sabem como enfrentá-lo, outras — acredito que estou entre elas — aprendem a conviver com ele e o encaram não como uma coisa negativa, mas como um sentimento de autopreservação."

 E foi dessa forma que Michael pela primeira vez se colocou em prioridade. Se retirar daquela situação, correr de la o mais rápido possível foi autopreservação. Se ele ficasse sozinho lá, só Deus sabe o que aquela situação teria feito com a mente dele

 O corpo agiu mais rápido que o próprio cérebro, talvez Rachel nem esteja morta. Talvez apenas tenha desmaiado. Nunca saberemos porque, ele ficou tão assustado, pobrezinho. Como eu gostaria de o envolver em meus braços

 Queria ter o acalmado com ternura e muito amor, mas, não posso. Ainda não posso. Tudo o que ele me disse foi na hora do desespero e não posso me aproveitar disso para nada, não é certo

 Quando ele se sentir melhor e, então me disser tudo aquilo novamente, poderei me aproveitar dessa coisa linda o abraçando e enchendo de beijos, mas, por enquanto vou respeitar seu espaço

 Michael sempre foi muito medroso, isso já o salvou inúmeras vezes. O medo faz com que tiremos forças de onde nem sequer imaginamos existir de infinitas formas. Até a dor ela nos faz esquecer!

 Parecia que Michael não estava sentindo como os pés estavam, ele só se importava com a própria vida e pelo que tinha "feito" com Rachel

 Essa pureza de Michael é que me mata e me arrasta para ele de novo e de novo. Claro que não foi culpa dele, foi ela que tentou matar ele e se ele não fosse esperto estaria morto agora mesmo!

 Ao pé da cama o encaro dormir com uma feição angelical sobre a cama. Se eu não estivesse cuidando de seus pés um pouco antes de ele dormir, teria se encolhido todo

 Foi após um longo choro dolorido pelo medo de ter tomado um gole de seu vinho do brinde junto com Rachel e claro, a culpa por trocar os copos, Michael dormiu e eu o trouxe com a ajuda de Monique para meu quarto, o pé dele precisava de cuidados, é literalmente sua ferramenta de trabalho e ele ficaria arrasado se acontecesse algo irreversível

 Eu os lavei delicadamente com água morna, para tirar as pedrinhas que estavam presas em sua carne, e claro, o sangue. Agora estou os enfaixando com um pouco de pomada. Espero que só isso resolva por hora

 O pé dele estava em um estado que eu tenho certeza, Rachel de forma alguma cuidaria dele como fiz. De jeito nenhum ela colocaria as mãos sobre sangue seco e novo, tiraria pedra por pedra e ainda lavaria passando as mãos nuas pelo pé praticamente em carne viva

 São nesses momentos em que descobrimos quem realmente está conosco e quem realmente é para sempre.

 E ele poderia ter se escondido em Neverland, olha o tamanho daquele lugar, mas, ele escolheu me procurar. Escolheu correr para mim, para onde era seguro. Ele sabe bem que em meus braços ele está seguro!

 Ninguém seria capaz de tentar o atingir em meus braços. Ninguém está a fim de perder os dentes e ter alguns ossos quebrados

 Por isso os fãs de Michael tem tanto carinho por mim. Eles sabem que eu sempre irei cuidar dele. Sempre, não importa o que aconteça

 Também, não existe como não ter esse zelo por ele. Foi dez anos juntos, dez anos é muita coisa. É uma vida, várias vidinhas poderiam ter sido formadas nesse tempo todo

 Espera, os sete filhos de Rachel! Como vão avisar-lhes o que aconteceu? Arregalo meus olhos e direciono meu olhar para um ponto fixo na parede um pouco acima da cabeceira da cama

 Sem dúvida esse foi o primeiro pensamento dele, o pensamento que trouxe o medo e pavor. Como contar aos sete filhos desta mulher, que ela está morta?

— Isa — Monique chama por mim na porta, termino de enfaixar e ando até a porta. Abro a porta e encaro Monique que está com sua carinha de se segura porque lá vem problema — Daniel me ligou agora mesmo — respira profundamente — Ela não morreu, na verdade, esta ótima agora! Os filhos estão com ela no hospital e Daniel também, você sabe, pela imprensa, eles vêem o melhor amigo de Michael lá e já entendem que por forças maiores, Michael não pôde ir!

— Ainda bem que essa porcaria não morreu, seria um peso morto na vida dele e ele se culparia para sempre mesmo sem culpa alguma! — cruzo meus braços e olho para o outro lado. Agora sim, posso respirar aliviada, a morte de Rachel teria ferrado com a vida dele

— Vou voltar a dormir, se precisar de qualquer coisa liga para o meu quarto! — ela se aproxima e beija minha testa com ternura. Fechando mais um pouco seu roupão ela volta para o seu quarto que fica no final do corredor

 Fecho a porta do quarto e me viro para o encarar. Ainda está dormindo tranquilamente. Ando até a cama novamente. Sento-me ao lado de seus pés que estão enfaixados. Espero que você possa me dizer tudo o que me falou quando souber que ela está viva. Se não disser, saberei que foi apenas coisa da adrenalina.

Alarve | Michael JacksonOnde histórias criam vida. Descubra agora