❧ Capítulo II

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Existem muitas coisas importantes na vida, mas, para os meus pais, nada supera a sua imagem na sociedade

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Existem muitas coisas importantes na vida, mas, para os meus pais, nada supera a sua imagem na sociedade. Segundo eles, não há nada de mais valioso do que ser alguém bem visto perante todos, ser alguém de respeito e muito bem quisto.

Bom, eu não sei se eles estão certos, porém não faço questão de descobrir. Eu zelo pela minha imagem como se zelasse por um tesouro, não que isso seja muito difícil de se fazer. Em geral, é só eu ser o cara legal e cumprimentar todo mundo, sorrir com confiança para as garotas e dar o meu melhor no time de futebol. Não é a pior das obrigações, na verdade, é até que legal.

O problema é que tem hora que cansa ser assim.

Existem momentos em que eu só queria ser invisível na escola, ser um zé ninguém de uma família de zés ninguéns. Acho que deve ser bom a sensação de andar sem sentir olhares curiosos em suas costas, acompanhando cada passo seu, à espreita de que você pise na bola e possam vir tacar lhe pedras como se fossem verdadeiros santos.

Entretanto, isso é impossível. Não tem como eu ser invisível quando mais da metade da cidade pertence a minha família, e eles adoram reiterar isso com uma frequência questionável. Se existe algo que os Collins gostam de sentir em seu domínio é poder, muito poder de preferência. Para meus pais, tios e avós, status é quase que análogo a necessidade de respirar.

Ah, existe também outro momento que me fez ansiar por ser um cara insignificante, e ele aconteceu ao fim de uma aula de física, no último horário de uma quarta feira, estrategicamente logo antes do almoço.

Escola não é o meu forte, isso é fato. Eu odeio ficar sentado estudando por horas a fio, me sinto esvaindo em tristeza. Nasci para estar em movimento, estar em campo jogando. Meu lance é o futebol, isso sim eu sei fazer com maestria.

Então, quando o professor Richmond me chamou um pouco antes que eu escapasse pela porta, eu soube que estava ferrado. Antes mesmo que ele abrisse a boca, eu sabia que havia uma bomba a caminho, mais uma nota vermelha para atormentar minha cabeça.

— Sim, professor? — tentei soar o mais calmo possível, mas já estava me corroendo só de pensar no sermão que iria escutar do meu pai sobre a importância vital de se ter boas notas e ser tido como alguém inteligente.

Senhor Richmond me encarou através de seus óculos quadrados. De sua boca pendia um projeto de biquinho que seria cômico, se não fosse por seu semblante sério e inflexível.

— Você foi mal no teste surpresa, Collins — sua voz grossa ecoou pela sala vazia, retumbando em meus ouvidos — Muito mal mesmo, você conseguiu zerar um teste de quinze questões.

— Sinto muito, senhor — engoli em seco, enfiando minhas mãos no bolso do casaco — Eu vou me esforçar mais no próximo.

Ele cruzou suas mãos sobre a mesa, prestando atenção em suas anotações por alguns segundos.

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