- Pronto?
- Sim.
- Satisfeita?
- Até demais - dou uma leve escorregada na cadeira. Utilizando as costas como apoio para me manter "sentada".
- Por mais que eu saiba o quanto você está confortável nesta posição, temos a missão de fazer um trabalho hoje.
Com isso, adoto a postura que tanto amava. De uma profissional. Corrijo minha postura na cadeira e abro os arquivos que usaria como base no computador.
xxxx
- Que horas são?
- Não faço ideia
- Mas você está com o meu meu computador! - ele sussurra.
- Que horas são? - pergunto. Estávamos definitivamente morrendo de sono.
- Meia noite, trinta cinco minutos e seis... sete... oito... não importa os segundos.
- Preciso ir para casa - me levanto de supetão do sofá. Fazendo com que meu vestido subisse alguns centímetros, revelando mais centímetros da minha coxa.
- Durma aqui, você está morta de sono. Podemos dormir de conchinha! - ele diz, sem que eu e muito menos ele percebesse o real sentido da frase.
- Você sabe muito bem que não sou a Chloe.
Flashes de memória como esse aparecem em minha mente enquanto caminho em direção da sala de aula. Graças a Deus a sexta feira havia chegado, e com isso a última aula que Bernard daria essa semana.
- Bom dia - me aproximo de Bernard, que estava debruçado na mesa que ficava atrás da sala. Tentando resolver o problema entre ele e o projetor.
- Só se for pra você. - ele diz ainda concentrado no computador.
- Ok se não quer um pouco de energia para sobreviver a manhã de hoje,é só dizer: "Não Alessa, por mais que você seja linda e educada. Não quero o redbull que você está segurando para que eu possa ter o mínimo de animação possível para sobreviver a última aula da semana."
- Onde conseguiu isso? - ele pergunta enquanto tira o energético da minha mão e o abre.
- Máquina de bebidas no corredor do prédio de ciências sociais - espero que a coragem em pessoa pudesse beber o energético.
- Obrigada - Bernard me entrega a lata.
- Por favor, nunca mais. Nunca é uma palavra muito forte, mas em dias de semana não vamos acabar, ou pelo menos tentar, produzir tanto como ontem. - dou um gole no energético.
- Ok, mas... você acabou de me beijar - ele diz com seu sorriso cafajeste.
- Vai a farti fottere (vá se foder)
Me sento na última cadeira da fileira, já que claramente eu não estava em condições de ficar na parte da frente e ser obrigada a prestar atenção no que Bernard iria apresentar.
- Por que você não me esperou hoje? Achei que iríamos pegar o metrô.
- Precisei dar uma de intrusa no prédio de ciências sociais. Estava sem conseguir me manter de pé.
- Imaginei que estaria. Você chegou feito um zumbi em casa, achei que estivesse estudando.
- E estava, até decidir me embebedar com meu parceiro de estudos - brinco, mesmo sabendo que ela não acharia graça.
- Não faça isso, nem brinque com isso. Você sabe muito bem. - ela diz fechando a cara e me deixando com as lembranças tristes que lutavam para me atormentar.
Ao ver Annalise Keating (de How To Get Away With Murder) tendo que lutar contra o alcoolismo em meio a série, um sentimento de angústia cresce novamente. Aquele mesmo sentimento que eu tanto lutei pra esquecer, para guardá-lo nas profundezas do meu ser.
-x-
Ver Alessa levantar e sair da sala sem nenhuma explicação, realmente não foi fácil. Ela claramente não estava bem.
Atravesso a sala a passos largos, sabendo que o resto da turma estava concentrada demais em destacar certos pontos do episódio escolhido. Saio da sala e a vejo. A minha pequena mulher sentada no chão ao lado da porta, falando italiano enquanto tentava controlar as lágrimas.
- Vá bene, avevo solo bisogno di sentire la tua voce (Está tudo bem, só precisava ouvir sua voz). - sua voz era embargada.
Sem pensar, me sento no chão. Enquanto ela provavelmente escutava a resposta, pego a sua mão e beijo delicadamente sua palma. E ela, sutilmente, acariciava a minha barba.
- Ti amo Charlotte, dimenticarlo mai (Eu te amo Charlotte, nunca se esqueça disso).
- Está tudo bem? - pergunto quando ela desliga o telefone.
- Eu só precisava falar com minha sobrinha. - sua testa estava levemente franzida, e seu olhar não tinha o brilho de sempre. - Christian lhe contou como nos conhecemos?
- Não, ele disse que você saberia o momento certo.
- Minha irmã faleceu há três anos. No dia que completava um ano de falecimento, foi o dia da minha primeira aula com Chris. E eu não fui. Bem... eu cheguei até a faculdade, porém não consegui sair do estacionamento. Fiquei sentada a manhã inteira, encostada em um carro que só fui saber que era o dele na hora do almoço. Ele perguntou se eu queria almoçar e por insistência eu aceitei, lá eu desabafei e derramei todas as minhas lágrimas. Por mais que eu conhecesse Antonella a anos, ela também estava sofrendo, e eu não podia desabafar com alguém que estava mais instável que eu.
- Isso tem alguma coisa a ver com o mau humor dela quando você falou sobre se afogar na garrafa de vinho?
- Sim, tem. Eu não me lembrava dos meus primeiros seis meses de luto, eu estava afogada em bebida. Não lembro de nada, tenho flashes do dia que soube que fui aprovada na faculdade e da primeira vez que minha sobrinha balbuciou meu nome. Obviamente também me lembro do dia em que bati o carro que era da minha irmã. Eu tinha acabado de passar na conveniência do posto e comprado duas garrafas de vodca, bati o carro em um dos cruzamentos. Parei de beber vodca aí, naqueles dois meses que fiquei internada na ala psiquiátrica.
- Sinto muito. - beijo mais uma vez a palma de sua mão, e ela volta a acariciar minha barba.
- Obrigada. - com as costas da mão esquerda, ela secava algumas das lágrimas que insistiam em sair.
- Quer voltar para a sala, ou precisa de mais algum tempo?
- Não - ela funga - prefiro entrar, ao menos vou me distrair.
Levanto primeiro, estendo meu braço para que ela se apoiasse para levantar. Com a força do impulso, ela acaba se chocando com o meu peito. Ou o que seria a parte de baixo dele, por conta de sua altura.
- Você pode me fazer um favor? - ela diz contra o meu peito.
- Sim, o que quiser.
- Me abraça? Só um pouquinho.
Vejo a dor em seus olhos. Um de meus braços estava ao redor de sua cintura, a trazendo ainda mais para perto de mim. Com esse movimento, eu tentava indiretamente absorver toda a sua dor.
Minha outra mão se encontrava em seus cabelos, acariciando-os. Eram lisos, e deslizavam com facilidade entre meus dedos.
- Jordan? - seu tom de voz era doce.
- Oi
- Eu deixei uma manchinha de rímel em sua camisa - ela aponta para uma pequena mancha.
Minha mão em sua cintura apertava ainda mais contra o meu corpo, e por alguma vontade, acabei beijando sua testa. Que antes estava levemente franzida.
- Você vai lavar - e então ela ri.
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olá pessoas!! como estão? espero que estejam gostando desses dois porque está sendo a primeira vez que eu estou colocando dois pombinhos como professor e aluna hihi <3
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Cordialmente, Professor Bernard [CONTO, CONCLUÍDO]
RomanceAlessa Fontana, uma universitária que morou sua vida inteira com sua família na Italia e se mudou para Portugal com o intuito de se formar em jornalismo e ser a melhor jornalista que você poderia imaginar. No seu segundo semestre da faculdade acaba...