Capítulo 2: 1932

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~ • Dia 1 Após Tharfery • ~

Aquele dia estava estranho, um estranho bom. Emma acordou sem ajuda do despertador. Havia um tempo que isso não acontecia. Provavelmente aquilo pode ser felicidade em saber que já é sexta-feira, ou em saber que agora pode voltar mais cedo do trabalho e encontrar Tharfery no restaurante.

Emma saiu do metrô, indo em direção ao trabalho. Ela teve um dos dias menos produtivos desde que começou a trabalhar com eletrodomésticos, pois perdeu muito tempo conversando com Melanie sobre Tharfery.

Ao fim do horário de trabalho, ela voltava pelo metrô, trocando mensagens de texto com Tharfery.
De repente, um senhor de idade sentou-se ao lado dela. Emma se sentiu um pouco desconfortável, pois senhores idosos geralmente cumprimentam as pessoas ao lado, já aquele senhor simplesmente começou a encará-la a viagem inteira.
Emma cansou de ser observada, e perguntou para aquele senhor:

— Senhor, está com algum problema?

— Eu? Não, estou bem. Já você...

Emma se assustou quando ele disse isso. Ela sentiu uma sensação de que estava sendo ameaçada, então resolveu descobrir o que aquele senhor queria:

— Eu não estou com nenhum problema, pelo contrário...

— Esse é o seu problema. Você tem um jardim de flores maravilhosas, mas não enxerga que está cultivando uma flor venenosa. — Disse o senhor se levantando de seu banco e descendo do metrô.

Emma tentou ir atrás dele, mas quando desceu do metrô, não havia mais ninguém, era como se aquele senhor nunca tivesse existido.

~ • 1998 • ~

— Bom dia alunos! Na aula de hoje quero que vocês desenhem um prédio bem alto e bem bonito. — Disse a professora tentando animar as crianças. Ela passava pelos alunos observando os desenhos. A cada cadeira que passava sempre fazia o mesmo comentário: "Está incrível fulano" ou "que ideia criativa"

Algumas crianças desenhavam prédios com rostos que sorriam. Outros desenhavam prédios de chocolate ou de ouro, típicos da imaginação de escolares de 8 anos. Mas chegando numa das últimas cadeiras, estava aquele menino. Ninguém da classe gostava dele. Pelo simples fato dele parecer um adulto. Bom, um pouco mais além disso.

“Cansei de recomendar um psiquiatra para esse garoto, mas o pai dele sempre cria uma desculpa. Vamos ver o que ele aprontou desta vez…” Pensou a professora se preparando para ver o desenho dele.

Era um desenho extremamente realista. Nem parecia vir de um garoto de 8 anos. O desenho mostrava o suposto prédio em destaque. O garoto era detalhista. O edifício era bastante bem feito com um nível de detalhes avassalador. As janelas de vidro eram simétricas, e algumas continham um vaso de flor nas bordas. Haviam antenas no topo com um nível de detalhes avançado o suficiente para recriar as marcas reais de antenas parabólicas. A professora descia os olhos até a parte de baixo do prédio onde viu a portaria. Ela até poderia opinar sobre a porta se estivesse vendo-a. Uma multidão de pessoas com câmeras e microfones, a maioria pareciam repórteres, impediam a visão de qualquer um que tentasse visualizar um arbusto decorativo ou até mesmo a própria porta. Ao olhar o canto inferior direito da folha, a professora descobriu o motivo da multidão. Um corpo encharcado de sangue, jogado no chão como se fosse lixo. As pernas estavam quebradas torcidas para dentro e a multidão tirava fotos que seriam a primeira página da notícia. Ela esqueceu de reparar que no topo do prédio havia um homem de capuz, ele usava uma roupa totalmente preta, e uma máscara que parecia mostrar um número. O desenho era pequeno demais para poder decifrar a simbologia, mas pela lógica da história criada pelo aluno, ocorreu um assasinato que provavelmente foi confundido com suicídio.

Encontro Com TharferyOnde histórias criam vida. Descubra agora