Capítulo 8: Mentalmente Instável

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~ • Dia 10 Após Tharfery • ~

— Bom dia senhorita Lockwell, estou feliz em saber que você trocou seu horário para o turno da Manhã, é um horário tranquilo para pensar e conversar sobre a nossa mente. Hoje vamos falar um pouco sobre sua infância e adolescência. Você pode me contar, ao menos  o que lembra? Suas amizades, suas opiniões, suas ideias… Tudo isso foi importante no passado para que você se tornasse quem é no presente.

— Posso dizer que fui uma criança muito feliz. Eu tive um pai muito incrível. Ele era uma pessoa adorável. Lembro-me que nos meus 10 anos ele começou a fazer apresentações. Como uma criança qualquer, eu ficava impressionada. Ele tinha truques muito perigosos que até hoje me lembro de aplaudir. Infelizmente há dois anos atrás, eu recebi a notícia da morte dele. Era um número comum, até que o tigre se soltou das cordas e atacou ele.

— Isso… é muito triste, Emma. Como ficou sua mãe?

— Arrasada, me lembro que nesse dia ela tomava café em sua caneca favorita quando recebeu a notícia por telefone. Eu só consegui ouvir o som de algo de vidro quebrando.

— E como era a convivência com seu pai?

— Acredito que foi a melhor convivência que tive com alguém até hoje. Todos os dias, desde que eu era uma garota, ele nunca mudou comigo. Sempre me acordava de manhã com um sorriso no rosto. Tinha uma felicidade contagiante, mesmo em dias ruins.

— Pelo visto Sam Lockwell é um ótimo pai.

Emma espantou-se com a frase de Bracklier. Ele sabia o nome do falecido pai da família Lockwell, e o uso do verbo “Ser” no presente também levantou suspeitas. Termo geralmente usado para quem está atualmente vivo.

— Como você sabe o nome do meu pai!? Adam, tem alguma coisa que não me contou?

— É difícil encontrar alguém que não conheça. Falando nisso, uma pessoa que você conhece está a caminho. A sessão de hoje inclui a presença dele para uma conversa. Enquanto ele não vem, vamos iniciar nosso primeiro teste.

— Teste?

— Teste de rorschach, Emma. É uma técnica bem conhecida de avaliação psiquiátrica. Com isso, vamos apenas conhecer mais sobre a sua personalidade. Não é nada que cause efeitos colaterais.

Adam trouxe uma pasta com alguns arquivos, papéis que continham imagens em preto e branco. Tecnicamente, as imagens não representam nada. O intuito é descobrir a perspectiva do paciente e assim se baseando na criatividade dele para julgar qual seja suas intenções mentais e descobrir medos profundos. Em momentos como estes, deve-se abusar da criatividade para encontrar uma lógica em manchas aleatórias.

A primeira imagem era estranha. Naturalmente o correto seria dizer que é o “estranho do estranho”, já que normalmente as imagens não deveriam ter uma forma tão óbvia e explícita. uma figura borrada e randômica é o que deveria ser. Neste caso, a imagem era sim em preto e branco, mas não eram manchas.

— Vamos começar por aqui. O que você vê nesta imagem, Emma?

— Eu vejo uma sala com muitas mesas no fundo, há algo mais próximo de mim. Acredito que pelo formato curvado seja uma taça de vidro, e uma garrafa de vinho ao lado. Esgotada pela metade. — Um cenário como esses entregava que Emma não estava totalmente em paz com os últimos ocorridos.

— Interessante. — Bracklier fez algumas anotações, e em seguida tirou a próxima imagem. Esta também era um pouco óbvia.

— Eu vejo um garotinho. Um garotinho abraçado com o pai. Os dois são assustadoramente semelhantes, apesar de eu não conseguir ter detalhes de seus rostos. Mas sinto que eles são como o reflexo de um espelho.

Encontro Com TharferyOnde histórias criam vida. Descubra agora