Capítulo Um

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Ano 1861

   — Alguma noticia do idiota do meu irmão? — Irritada, a garota cruzou os braços, plantada de pé em frente da grande casa na área mais nobre de Londres.

   — Não, senhorita. — O cavalariço abaixou a cabeça.

   Quatro dias que o irmão mais velho não dava o ar da graça. Naruto nunca foi o mais inteligente da família, nem o mais sensato, e ainda por cima tinha o sangue quente que só o fazia atrapalhar.

    O que o maldito tinha de coragem, também tinha de imprudência.

    — Prepare a carruagem para mim.

    — Senhorita, já são onze horas da noite, seria perigoso da sua parte embrenhar-se pelas sarjetas londrinas atrás de Lorde Haruno. Permita que eu o procure.

     — Quatro dias sem notícias do meu irmão. — Inspirou nervosa. — Se ele não estiver morto, eu mesma o matarei.

    Ela poderia supor onde o irmão deveria estar enfiado, em alguma cama imunda, bêbado como um gambá e com as calças arriadas na altura dos joelhos. Mesmo sendo bons sete anos mais nova que ele, ela poderia garantir que tinha muito mais juízo, não conseguia acreditar na coragem que o pai deles teve em exigir que o primogênito zelasse por sua segurança e honra durante a temporada de bailes em Londres. Já que mal dois bailes a acompanhando e ele já desaparecia por quase uma semana.

    A carruagem era escandalosa, toda vermelha com o brasão dourado da casa Haruno. Uma flor em um escudo ladeada por dois estandartes pontudos. A honra de sua família em defender a Inglaterra dos bárbaros.

   — Senhorita, eu entrarei primeiro. — O rapaz disse ao parar frente à primeira casa de damas da noite.

    Ela aguardou sentindo seu sangue ferver, Naruto só podia estar a testando. Ela só tinha vinte e um anos, deveria estar no calor de sua cama luxuosa e não se esgueirando por vielas sujas, sofrendo o risco de ser abordada por ladrões. Ela o faria pagar. Ah se o faria.

    O funcionário voltou tenso.

   — E então?

   — Ele não está aqui. — Mas não havia muita segurança em sua voz. — É melhor nós voltarmos.

   — Nem começamos a procurar direito. — Ponderou. — Tem um salon, Red Velvet, acho que ouvi esse nome em uma conversa de meu irmão há alguns dias atrás.

   — Lá... Lá não é adequado...

   — Ande. Me leve até esse salon, senhor.

   O lugar era pior que o anterior, parecia um galpão mal iluminado. E, antes que o funcionário pudesse dizer que verificaria, Sakura saltou da carruagem segurando seu vestido de um suave tom salmão para que não esfregasse as barras no chão molhado e imundo.

    — Por favor, senhorita. — Preocupado o homem a seguia.

   Ela era uma dama, e damas não eram comuns naquele ambiente.

    Assim que atravessou as portas, ela deparou-se com a densa fumaça do tabaco e o cheiro azedo de álcool. Os homens que bebiam esparramados em mesas e cadeiras cessaram completamente para olhar a jovem garota que caminhava em passos duros pelo salão, atenta a todos os rostos presentes.

   Sakura era linda, fora de qualquer padrão existente, seus grandes e límpidos olhos verdes contrastavam com os cabelos de um rosa atípico, nem loiro como o do pai, nem ruivo como o da mãe, uma mistura curiosa e nunca vista antes.

    Ninguém ousaria pôr-se na frente de um Haruno, ainda mais de uma dama tão bem nascida como aquela.

    A jovem desviou de um brutamonte que bebia escorado na pilastra, seus sentidos a guiavam para outro ambiente. Um recheado com vozes masculinas, e sons de pancada.

   O primeiro vislumbre que teve foi de um tatame manchado de sangue, com cordas folgadas e rodeado de homens gritando apostas. Mas o pior estava em cima, nos dois seres que se socavam impiedosamente. E um deles... Era seu irmão.

    Um soco forte desferido pelo outro homem arremessou o irmão de encontro às cordas, mas o movimento também desequilibrou o atacante. Ambos estavam sem camisa, descalços no pó de serra e com os calções sujos, sem falar em todo o suor e o sangue. Eles deveriam estar lutando faz tempo, mas se recusavam a cair. Parecia que a maior luta era na verdade, para quem seria o último a continuar em pé.

   Seu irmão era um baita de um idiota!

   Enquanto tentava chegar até o ringue, viu o irmão avançar contra o adversário lhe dando socos no abdômen, e recebendo de volta outro poderoso soco no rosto, que o derrubou no chão, o grupo de espectadores urrou. Ela não reconheceu quem o irmão enfrentava, sequer reconheceria o irmão se não fosse pelo cabelo loiro claro e os olhos muito azuis.

   E, antes que alguém tentasse a impedir, Sakura atravessou as cordas e entrou na área de embate. O adversário muito maior que ela abaixou as mãos de supetão, surpreso pela invasão feminina.

    — O que significa isso? — Naruto questionou ao levantar desajeitado. — O que faz aqui, Sakura?

    — Eu que o pergunto. — Céus ela estava quase cuspindo labaredas de fogo.

   — Vá embora. — Tentou segurar em seu braço e a tirar do meio do embate.

   — Não sem você. — Sakura quase gritou o segurando firme de volta. — Você mal se aguenta em pé.

   — Então essa é a sua irmãzinha? — A voz do outro lado chamou-a a atenção.

   Ele era bonito. Como era bonito. Mesmo todo machucado, mesmo sangrando. Alto e forte com cabelos negros, tendo alguns fios colados ao rosto e olhos tão escuros quanto. O pior foi o sorriso, como o de um diabo cafajeste, com os dentes manchados de vermelho enquanto que os olhos a devoravam da cabeça aos pés.

   — Não se atreva a olhar assim para minha irmã, Uchiha desgraçado.

   Sasuke não era o melhor exemplo de homem, ele bebia muito e se metia em qualquer briga em que fosse convocado, mas algo poderia garantir; Ele sabia como foder uma mulher. Sabia onde tocar e como tocar. Sabia absorver cada uma das reações femininas e orgulhava-se por ser o causador. Quando aquele delicado ser feminino invadiu o tatame para salvar o irmão de uma briga perdida, ele só conseguiu pensar nas variadas maneiras de jogá-la sobre seus ombros e lavá-la para a cama. Mas algo naqueles olhos intensos dizia que a pequena Lady poderia ser bem mais perigosa que o paspalho do Naruto.

   — Melhor escutar sua irmãzinha, meu caro. Saia enquanto ainda tem todos os dentes. — Uma piscadela para a dama.

   — Nós ainda não acabamos, Uchiha.

   — Para falar a verdade, adoraria passar um tempo com a outra Haruno. Tenho ótimas ideias para as próximas apostas. — Ele disse em alto e bom tom para que os homens em torno do ringue ouvissem e rissem.

   Era isso, o homem a estava provocando.

   Naruto avançou para cima do outro, mas antes que alcançasse o rival, Sakura se colocou na frente. Forçando o irmão a parar bruscamente. Ela precisava acabar com aquilo e tira-lo dali o quanto antes.

   — Agradeço vossa boa vontade, senhor Uchiha. Mas devo alertá-lo que o senhor não possui cacife o suficiente para vencer uma aposta como essa. — Ela o olhava tão firme que ele pensou que tombaria para trás. — Deveria continuar apostando em cavalos ganhos com uma ou duas moedas de prata. Ou... Seria menos?

   Os homens em volta urraram com a ousadia da jovem dama. Ela sequer tremeu ou envergonhou-se com as palavras baixas proferida pelo outro herdeiro, uma dama recebia criação para correr e temer frente a qualquer grosseria ou avanço masculino. Talvez todo o sangue dos guerreiros Harunos tenham ido para a caçula. Ela fazia jus à frase de sua casa "Nunca ceder, nunca cair".

   Ele nada respondeu apenas deteve-se a ficar parado contemplando a pequena leoazinha arrastar o irmão pela orelha dali. O problema era que Sasuke era dado a desafios. Ainda mais feitos por belas damas.

O duque que me odiavaOnde histórias criam vida. Descubra agora