Desço do carro olhando tudo à minha volta enquanto aperto minha jaqueta em meu corpo, sentindo as rajadas de vento o cortar.
— Precisava ser hoje, irmão? — pergunto bufando irritado.
— Sim, Otto, logo voltará para seu treinamento.
Reviro meus olhos.
Desde que Heinz assumiu a In Ergänzung a mordomia acabou, pois ele mudou quase todas as normas deixando tudo ainda pior. Sei que futuramente vou agradecer, mas agora tudo que mais quero é acabar esse treinamento o quanto antes.
Caminho ao lado de Heinz, um dia ainda vou ser igual a ele, meu irmão tem uma pedra no lugar do coração e é isso que quero, afinal me espelhar nele é um orgulho para mim.
Subimos três lances de escada, o som do meu coturno ecoa no assoalho de madeira da varanda.
— Será que pode andar em silêncio? — adverte Heinz.
Para provocá-lo bato ainda mais meus pés.
Logo que nos aproximamos da porta, que é aberta, uma senhora nos olha assustada.
— Sejam bem-vindos, o senhor Lehmann os aguarda na sala. — Aponta com a mão.
Heinz não dá ouvidos e primeiro manda alguns soldados entrarem para fazer a vistoria do local.
Fico ao seu lado olhando tudo entediado.
— Por que eu tenho que me casar? Por que não pode ser você? — pergunto bufando.
Sem virar o rosto na minha direção ele diz baixo quase imperceptível:
— Primeiro, seu casamento será daqui dezoito anos, segundo, sou eu quem decide como pretendo fazer.
Reviro meus olhos.
Nossa entrada é permitida, sigo Heinz por um hall em tons claros e coloco as mãos nos bolsos do meu jeans olhando em volta curioso.
— Sejam bem-vindos — um senhor rechonchudo diz vindo em nossa direção. — Sentem-se. — Aponta para um dos sofás.
Meu irmão é o primeiro a se sentar e posso vê-lo endireitando suas costas, acredito que a arma deve estar incomodando, mas ele não anda sem uma e não vejo a hora de ter a minha.
Eu me sento ao lado dele, avisto um carrinho de bebê e ali está ela, minha futura noiva, admito que tenho vontade de gargalhar alto.
— Então, Lehmann, em troca do seu silêncio e da sua ajuda com meus negócios vamos assinar o contrato agora que a criança já nasceu com vida — Heinz diz indo direto ao assunto.
Uma mulher que embala o carrinho olha apavorada, será ela a mãe?
— Quer algo para tomar? — Herbert Lehmann pergunta pegando uma garrafa de whisky ao lado no seu minibar.
Heinz recusa.
— Pretendo ser breve, odeio sair da minha casa! — Heinz cruza suas pernas. — Já acertamos tudo antes, agora precisa apenas assinar o contrato.
O senhor se senta ao lado da mulher.
— Sabe que trabalho na prefeitura da cidade e posso te deixar a par de tudo.
Heinz concorda fazendo sinal para um dos seus homens entregar o contrato ao Herbert.
Observo uma jovem criança que olha assustada em um canto, não sei quem ela é e não tenho interesse em saber.
— Otto tem atualmente treze anos — Heinz diz com firmeza. — Ele terá trinta e um quando for se casar e a sua filha dezoito.
Passo uma perna por cima da outra enquanto a mulher pega as folhas em sua mão.
— Herbert, tem certeza? — diz com a voz temerosa.
— Sim, tenho!
— Aqui está escrito que ele pode fazer o que quiser com nossa filha após o casamento, por favor, Herbert, isso é loucura. — A voz da mulher se torna embargada.
— Tragam uma caneta.
A mulher se levanta indo embora com o carrinho e agradeço interiormente assim posso respirar melhor sem aquela pequena coisa ali.
Herbert assina todas as folhas sem nem ao menos ler direito o que está escrito, ele realmente não se importa com o bem-estar da bebê apenas com o status de uma filha pertencer a família mais poderosa da Suíça.
Ele se levanta e entrega o contrato na mão do meu irmão, que assina todas as páginas.
— É um prazer fazer negócios com você, Lehmann — Heinz diz autoritário.
— Saiba que tenho uma filha mais velha, caso queira se casar, Don — o senhor diz ambicioso.
Meu irmão não diz nada, ele não faz esforço algum para responder perguntas idiotas.
Herbert em nenhum momento me olha, nem ao menos está preocupado com quem sua filha se casará.
Levanto assim que Heinz o faz e sigo seus passos saindo da residência dos Lehmann.
Olho o céu nublado prevendo uma nevasca em breve.
Posso ter treze anos, mas tenho consciência suficiente de que nunca me casarei por amor, afinal esse sentimento não pertence ao nosso clã.
Deixo Heinz para trás enquanto ele se despede de Herbert, vejo a porta do carro aberta sendo segurada por um soldado, por isso entro e sou acolhido pelo calor do automóvel.
Tiro o celular do bolso do meu jeans quando sinto o banco afundar ao meu lado e o cheiro almiscarado do meu irmão invadir o ambiente.
— Vamos, Hadrian — meu irmão ordena. — Jordan mandou mensagem informando que pegaram o contrabandista.
Olho para o lado empolgado.
— Me deixa extrair as informações dele, Heinz?
— Com certeza, hoje é seu dia de sorte.
Pelo menos um fato bom no dia.
Heinz entrou neste mundo muito cedo, assim ele está fazendo comigo e eu agradeço.
— Estou pensando em tomar uma parte de Nova Iorque, dizem que os negócios por lá estão bons.
Meu irmão fisga minha atenção.
— Vou passar um ano por lá, deixarei o território pronto e depois colocarei alguém de confiança para cuidar.
Heinz não dá ponto sem nó, sei que algo ele tem em mente, por isso espero que continue a falar:
— Quando tiver idade suficiente será meu subchefe e provavelmente tomará a frente dos negócios de Nova Iorque.
— E quando isso acontecerá? — pergunto animado.
— Quando completar dezoito anos e eu sentir que está pronto.
— Sério? — Reviro meus olhos. — Mas isso é só daqui cinco anos.
— Um bom motivo para se esforçar mais nos treinos sem deixar os estudos de lado.
— Como se já não bastasse essa merda de casamento arranjado!
Heinz não diz nada diante do meu resmungo e certamente iria me surpreender se ele falasse algo.
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OTTO - PROMETIDA AO SUBCHEFE (DEGUSTACÃO)
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