Capítulo 08

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POV CAMILA

Uffff. Soco no estômago.

Meu rosto? Imagem em close-up. Meu perfil mais favorável voltado para a câmera. Interpretação digna de um Oscar: apertando as pálpebras como se avaliasse cuidadosamente a proposta dela, falei:

- Gosto da idéia. Foi aqui que você me pediu em casamento; a simetria chega a ser bonita.

Lauren puxou a cadeira vazia.

- Posso me sentar?

- Por favor.

Tão logo ela se sentou e acomodou o
guardanapo no colo, um garçom de verdade se aproximou da mesa.

- Champanhe, senhorita?

Em nenhum momento Lauren despregou os olhos de mim.

- O champanhe é para as comemorações.
Ela permaneceu em silêncio o suficiente para que eu me lembrasse: ela havia dito a mesmíssima coisa naquela noite do passado. Mas desta vez acrescentou, áspero: - Vou querer um martini.

A interpretação de Lauren era seca, controlada, talvez um pouco à la Clark Gable. "Isso deveria ser um filme", pensei.
Sem quebrar o nosso olhar recíproco, aproveitei a deixa dele e disse ao garçom:

- Vou acompanhá-lo no martini.

O garçom recolheu minha taça de champanhe e desapareceu. Lauren estudava meu rosto através do lume das velas, e eu me esforçava ao máximo para parecer bonita e indiferente.

- Você não pediu que levassem o meu prato e os meus talheres - ela disse depois de um tempo. - Não estava esperando por mim, estava?

Dei de ombros.

- Digamos que eu seja uma mulher sentimental.

- Está surpresa?

- Por não ter atirado ainda.

Não pude conter o riso. Para duas pessoas determinadas a matar uma à outra, éramos extremamente parecidos. Eu deveria ter imaginado que, sob o guardanapo de linho, ela escondia mais do que as jóias da família. Afinal, na qualidade de profissional calejada, eu tinha feito exatamente a mesma coisa. Obedecendo a um reflexo, eu havia tirado de um coldre que fazia as vezes de liga de meia uma pistola minúscula que depois escondi sob o guardanapo. Naquele exato momento a arma estava apontada diretamente para os... miolos dela.

- Não, isso também não me deixa surpresa - respondi.

E assim deixamos claro um para a outra que sabíamos muito bem qual era a situação ali. Sorrimos como dois inimigos que, de tão semelhantes, acabam por desenvolver uma estranha amizade.

- Sabe do que mais gosto nos restaurantes?- Lauren brincou. - Estão sempre cheios de testemunhas. - E com um sorriso propôs uma trégua. - Mãos sobre a mesa?

"Será que posso confiar nela?" pensei.
Claro que não.

Acontece que estávamos no meio de um restaurante sofisticado. Um lugar onde éramos conhecidos. Nada adequado para um assassinato. Além do mais, quem de nós saísse vivo daquela situação jamais conseguiria uma mesa ali novamente.
Lentamente levantei as mãos do colo e coloquei-as sobre a mesa. Lauren fez o mesmo.

"Se não veio aqui pra me apagar, Lauren, por que diabos veio então?"

- Achei melhor resolvermos nossos assuntos de trabalho durante os aperitivos, antes que pedíssemos a comida.

O chef daquele lugar era um gênio da culinária, e subitamente me senti faminta.

- Então eu disse você veio aqui para discutir os termos do divórcio.

Fired: Srt.s JaureguiOnde histórias criam vida. Descubra agora