Capítulo 06

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POV CAMILA

Sem saber para onde ir, tomei a direção da minha segunda casa o escritório-fachada da Triple-Click. Era tarde, mas Ally ainda estava lá. Olhou para mim e, sem hesitar, buscou uma cadeira confortável para que eu pudesse sentar.

Respirei fundo e... contei a ela as novidades.

— Como é que é?

Respondi com uma cara de reprovação, pois já não tinha sido fácil cuspir as palavras da primeira vez. Além do mais, ela havia compreendido muito bem toda a história e não precisava ouvir tudo de novo.

— A agente que tínhamos ordem para matar, a mulher que tentou me matar, era um elemento conhecida. Quer dizer, relativa mente conhecida: minha esposa.

— Mas tudo isso é tão implausível! - disse Ally, puxando uma cadeira onde pudesse se jogar. — Uma chance em um milhão... - Ela balançou a cabeça.— Mas poderia ser pior, Camila.

As farpas que meus olhos lançaram na direção dela poderiam ter derrubado um touro no chão.

— É mesmo?

Ally encolheu os ombros de um jeito engraçado, e eu teria rido fossem outras as circunstâncias. Falávamos como duas amigas que compartilham os detalhes sórdidos da infidelidade de seus maridos. Só que, no meu caso, a traição ia muito além de um simples affair com a vizinha ou de uma bebedeira inconseqüente numa viagem de negócios.

“Preferiria mil vezes não saber de nada...” diria a esposa ultrajada à amiga solidária. “Ah, se eu pudesse fazer de conta que nada disso aconteceu...”

Mas não sou uma mulher como as outras nem minha vida é como a delas. Já ia longe a encruzilhada diante da qual eu havia escolhido o caminho menos percorrido. Fazia muito que estava em paz comigo mesma. Mas então Lauren entrou na minha vida e complicou tudo. Fez com que eu sentisse coisas que jamais havia imaginado poder sentir por alguém. Fez com que eu desejasse uma vida sabidamente impossível. No calor da hora, eu havia deixado que a excitação e o perigo de Bogotá me turvassem a razão; deixado que o inimigo capturasse a última coisa que eu gostaria de um dia ver capturada.

Meu coração.

Ally me havia alertado, mas não lhe dei ouvidos. Felizmente minha melhor amiga era uma profissional casca-grossa dos serviços de inteligência e tinha muito mais a oferecer que um lenço e um copo de água com açúcar.

— Tudo bem - ela disse.

A situação é um pouco esquisita.  A julgar pela expressão no olhar, Ally já tinha visto aquele filme antes. Um filme nada agradável de se ver. E pela primeira vez imaginei como seria a vida dela fora do trabalho. Esse era um assunto sobre o qual raramente falávamos nos domínios da Triple-Click. Comecei a brincar com minha aliança de casamento.

— Olha - continuou Ally — isso tudo tem um lado positivo... Você não ama a mulher. Precisa matá-la. Ora, ninguém faz isso melhor que você!

— Fiquei calada.

Podia sentir Ally olhando fixamente para mim, tentando ler meus pensamentos.
 
— Espera aí - ela disse. — Não vá me dizer que você ainda ama a sujeita...

Depois de perceber o olhar severo em meu rosto, Ally saiu da sala por iniciativa própria. Era uma agente calejada e sabia como evitar o fogo amigo. Ah, paciência... Eu me desculparia depois; por ora, estava contente por ficar sozinha.

Fui até o frigobar do escritório e busquei um copo com gelo e uma garrafa de scotch.
Servi a bebida como se fosse Coca-Cola Light; depois segurei o copo com as duas mãos e mandei tudo para dentro com um único shot. Nada muito elegante, eu sei. Mas resolveu o problema. Aquela era  afinal uma ocasião especial. Enchi o copo outra vez. Depois tirei a aliança e fiquei olhando para minha mão. Uma aliança pálida e fantasmagórica permanecia na pele, onde, durante tantos anos, o ouro havia protegido a carne das vicissitudes da vida.

Fired: Srt.s JaureguiOnde histórias criam vida. Descubra agora