𝙊𝙉 𝙏𝘼𝙍𝙂𝙀𝙏; 𝑙𝑒𝑒 𝑓𝑒𝑙𝑖𝑥

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╰ Chapter Four

⟨ 𝐖𝐡𝐚𝐧 𝐘𝐨𝐮𝐫𝐚 𝐏.𝐎.𝐕 ⟩—————————

the next day

        Essa noite passou mais tranquila do que a última. Assim que acordei, o Felix não estava em casa, tudo parecia quieto outra vez. Abri todas as cortinas, e aos poucos, encontrei muitos post-its colados em cada canto canto da casa. Cada um avisava o que eu poderia ou não fazer.
         Poderia comer o que tivesse vontade na geladeira, menos os restos de Bibimpap.
        Tinha uma toalha separada caso eu quisesse tomar banho.
        Poderia usar qualquer blusa e casaco dele, porém o casaco seria em caso de fazer frio durante a tarde.
         Pela parte da manhã, outras pessoas vieram até a casa do Felix. Pela aparência, eu me lembrava vagamente de quem eles eram. Já os vi no centro de treinamento, e sabia que faziam parte da equipe do Felix. Não sabia de mais nada. Eles estavam ali pra trabalhar no jardim (mesmo que isso não fosse uma função deles). Não questionaram quem eu era, já sabiam vagamente.
         De quatro, três deles ficaram encarregados e cavar e plantar certas sementes na área de jardinagem na varanda, o que era quase injusto, visto que a casa tanto quanto o jardim são do Felix.
        Só um dos quatro meninos, se sentou comigo á mesa da cozinha e servimos chá verde para ambos enquanto conversávamos sobre novelas Coreanas.
       Ele era descontraído, tinha os olhos finos, e era um tanto quanto dramático...

— Já assistiu “So Not Worth It”? — ele questionou com ânimo

— Acredito que não Hyunjin.

— Vocês não tem TV lá no Norte?

— Óbvio que temos, mas tudo o que vocês assistem só é televisionado dez anos depois, e só temos quatro canais de TV.

— Isso é uma droga, não sei como você consegue viver lá há tanto tempo.

— Não é como se tivesse escolha — respondi bebendo do chá verde

       O Changbin se aproximou com passos firmes e os olhos fixos no Hyunjin como se fosse pular no pescoço dele.

— Você veio aqui pra trabalhar, não pra conversar sobre novelas. — ele disse, levantando o punho como se faltasse muito pouco pra paciência entre eles acabar

         Não questionei nada, antes que o trabalho sobrasse pra mim.
         Peguei as xícaras vazias e levei até a pia.

— Afinal, por que vocês estão fazendo isso? Isso não deveria ser responsabilidade do Felix?

— Deveria, mas ele não sabe cuidar. — o Hyunjin respondeu e deu de ombros

— O Felix sempre esquece de cuidar do próprio jardim, mas até que se esforça para mantê-lo florido e minimamente vivo, por que sua mãe gosta dessas coisas

— É tudo por ela?

       Tanto o Changbin quanto o Hyunjin assentiram

— E onde ela está agora?

— Na Austrália. Bem longe daqui. — o Hyunjin respondeu, dando meia volta e se afastando

      O Changbin soltou um longo suspiro, e parecia preocupado com alguma coisa.
      Sinceramente, quanto mais eu sabia sobre eles, mais eu sentia a vontade de conhecê-los melhor...

— Sendo sincero, eu preferia estar enterrando você do que essas sementes — ele disse com sinceridade

       Me controlei pra não matá-lo tão cedo.

— Qual o seu nome completo? — questionei

— Seo Changbin.

— Vou tentar mirar a flecha na sua cabeça quando formos competir um contra o outro.

      Ele mordeu a gengiva, como se tivesse achado minhas palavras uma afronta.

— Qual é o seu nome completo? — ele questionou

— Acha que sou boba? Por que te contaria o meu nome?

        Foi uma satisfação ouvir o Hyunjin tentando não rir do outro lado da sala.
        O Changbin parecia cada vez mais alguém facilmente irritavel.

— Aliás — recomecei outro assunto — Pode destravar o portão para mim?

— E por que eu faria isso?

— Por que já fiquei muito tempo parada. Meu joelho não dói mais como antes, e eu preciso voltar pro centro de treinamento.

        Depois de muita insistência, ele mesmo me emprestou a chave reserva que eles dividiam entre si.
        Não imaginava que á pé o centro de treinamento parecesse ficar tão longe. De acordo com o que poucos disseram, essa seria uma noite nevada, e que assim que a noite caísse, tudo seria uma explosão de branco, coberto por neve em todos os lugares. Pelo jeito de extremo drama, não acreditei em uma palavra do que disseram, mas ainda sim, levei um casaco de frio do armário do Felix, e esperava de coração que ele não se incomodasse com isso mais tarde.
         Dei mil justificativas aos meus colegas e ao meu treinador. Minha punição, era treinar minha pontaria até que não sentisse mais meus braços.
         Os olhos do Treinador Hyunbin ficaram pesando nas minhas costas todo o tempo. Ele parecia me odiar quando não fazia estritamente o que ele desejava, mas ainda dizia repetidas vezes que isso era o melhor pra mim.
        Não conheço muito sobre mim mesma, mas tenho certeza de que merecia coisas melhores.
        Treinei sem pausas da tarde até o anoitecer. Me sentia esgotada. Foi um alívio poder sair do centro de treinamento, ver a neve que caia na frente dos meus olhos, e sentir o casaco do Felix que me aquecia.
         A única coisa que iluminava a rua nesse horário, eram as luzes esbranquiçadas que vinham de dentro do centro de treinamento. Ouvi os passos de alguém que vinha pisando pela neve, meus olhos não acompanharam com tanta clareza. Só vi o rosto do Treinador Hyunbin completamente enfurecido segundos antes me bater na lateral do rosto.
         Meu celular caiu no chão, quebrando completamente, não sendo amortecido pela neve.
         Com a palma aberta, e a necessidade de descontar as frustrações em mim de forma violenta. Senti a lateral do meu rosto latejar e queimar por dentro, e de tudo o que passou pela minha cabeça, achei que pedir desculpas seria a coisa certa.
        Não tinha a menor consciência sobre meus erros, mas sempre achei que violência física viesse de uma vontade e não de uma razão.

— Você acha que pode dormir em qualquer lugar sem aviso prévio? Você sabe que errou, e mesmo assim não consegue me olhar nos olhos e pedir desculpas pelo que fez. Tudo o que eu faço é garantir o que é bom pra você mas é dessa forma que você retribui. Você é desprezível Youra. — ele cutucava minha cabeça, repetidas vezes a cada palavra que dizia — Você precisa aprender a me respeitar.

      Sussurrava baixo, quase inaudível, milhares de desculpas. Só queria que ele parecesse antes que tornasse isso em uma coisa pior ainda.
       Ouvi os passos mais leves vindo de trás de mim. A presença de uma terceira pessoa fez o treinador parar com a implicância desnecessária.
       Só pelos sapatos, não consegui julgar, meus olhos estavam avermelhados por tentar não chorar, então só o reconheci pela voz, e de aparência quando ele se colocou no meio da discussão.

— Agradeceria se não fizesse isso com a minha namorada. — o Felix anunciou uma mentira sem mais nem menos

— O que disse? — o treinador questionou mais para mim do que para o Felix

— Eu agradeceria se não tocasse mais na Youra, ao menos, não desse jeito.

      O Treinador Hyunbin colocou as mãos na cintura, arrumando a posição dos pés enquanto ria de nós.

— Esse é o seu plano? Arranjar um namorado no Sul pra sua vida tão pouco interessante? — ele alternava entre olhar para o Felix e para mim — Façam o que quiserem. Péssimas decisões não são feitas sozinhas.

      Ele deu de ombros, e levantou ambas as mãos enquanto dava meia volta, de volta ao centro de treinamento.
       Só consegui respirar normalmente quando ele já havia ido embora. Nunca compactuei com mentiras, e tinha minhas dúvidas sobre essa, mas se isso tivesse a mínima chance de me ajudar, eu seguiria com isso até o final.