À S • L Á G R I M A S

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ERA O CORAL.

Um belo coral de crianças que bateu em nossa porta e cantou músicas natalinas para nós.

Tentei sorrir para elas enquanto meu pai apareceu vestido de Papai Noel e saiu distribuindo as lembrancinhas, quase atrapalhando a apresentação delas.

Depois, me impediram de subir para o meu quarto, pois era a troca de presentes.

Eu havia comprado um quadro de artista de rua para os meus pais, que realmente gostaram do trabalho, e ganhei de Joseph um chaveiro de uma estrela azul, de formato irregular como nossa marca de nascença.

Jotaro brincou com alguma coisa relacionada ao chaveiro e Joseph começou uma discussão, mas eu já não estava mais presente, não mentalmente.

Dio não veio.

Não apareceu na véspera e nem no dia de Natal.

E também nem no dia seguinte.

Acabei estragando o meu Natal ao alimentar o monstro da expectativa. E por este erro, meu peito parecia queimar de frustração e arrependimento.

Se eu não tivesse fantasiado demais teria aproveitado mais a companhia de minha família e de meus amigos, como sempre foi.

E o que eu fiz? Foi deixá-los preocupados com algo que eles desconhecem. Por uma paixonite não correspondida.

Fiquei no meu quarto o resto da manhã.

Não mandei mais mensagens, cansei de perguntar onde ele estava e se havia acontecido alguma coisa, porque, por mais que elas chegassem até ele, Dio não as lia.

As ligações não eram atendidas.

Torci para que, ao menos, não tivesse acontecido nada de grave com ele, mas pensar na outra alternativa fazia meu coração sangrar; a de que ele não veio por vontade própria.

E eu tive a confirmação de que era deliberadamente ignorado quando sua última vez online foi a dezenove horas atrás.

Larguei meu celular no criado-mudo e parei de me torturar com isso.

Era fácil dizer.

Quando Kakyoin e Jotaro bateram em minha porta, e o ruivo perguntou se estava tudo bem, eu desabei em lágrimas como nunca aconteceu antes.

— Desculpa... – dizia eu. — Fui idiota. Não queria preocupá-los.

— Não, está tudo bem – disse Jotaro enquanto fechava a porta.

Kakyoin se sentou ao meu lado e deu tapinhas nas minhas costas enquanto eu explicava a causa de minha frustração.

— Jonathan, quando estamos apaixonados, sonhamos demais – disse Kakyoin.

— Acho que apressei as coisas pra mim mesmo... que nem devem ser recíprocas e estou aqui, criando situações na minha cabeça que podem não significar nada pra ele.

— A gente sempre supõe o pior das situações, pois, quando elas acontecem, nos machucam menos, acreditamos, eu sei. – Kakyoin segurou a minha mão e olhava para Jotaro. — Quando me apaixonei pelo seu irmão, não tive a minha típica petulância de chegar e jogar a bomba pra cima dele, pelo contrário. Eu chorei muito e sofria caladinho, porque Jotaro parecia inalcançável pra mim.

Jotaro foi ao banheiro e me trouxe um rolo de papel, o peguei e assoei o nariz.

— Mas vocês se conhecem há muito tempo e se gostam desde o início.

— Sim, porém, eu sonhava mais do que me permitia viver o que eu queria com ele – Kakyoin esclareceu. — Porque eu não sabia que era recíproco, pois eu havia estabelecido que Jotaro era inalcançável. Porque supor o pior daquela situação, não me machucaria, embora eu continuasse sofrendo.

Tormenta [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora