E X P E C T A T I V A S

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ERA VÉSPERA, DE MANHÃ.

Todos já estavam de pé, desci para tomar café, ainda meio sonolento, na cozinha.

Kakyoin fingia não ouvir os lamentos de Joseph enquanto Jotaro o mandava calar a boca.

Meu pai colocava açúcar no café e minha mãe o impedia de adoçá-lo demais enquanto passava manteiga em seu pão quentinho.

Todos estavam quase amontoados na mesa da cozinha, mas parecia uma boa imagem de comercial de margarina.

Estava frio lá fora, mas o sol deu o ar da graça. E os aquecedores da casa fizeram o seu trabalho.

— Bom dia, querido – Dona Mary me recepcionou, quando dei um beijo em seu cabelo castanho.

Dei um abraço em meu pai, que me bateu forte nas costas, mas ignorei a dor que irradiou-se para meu ombro esquerdo.

Sentei-me numa cadeira vaga e acenei para os demais.

— Você está bem? – Jotaro perguntou, arqueando a sobrancelha.

Acenei positivamente. Bocejei com a mão na frente da boca.

— Dormi tarde.

Os sonhos com Dio estavam ficando cada vez mais... simbólicos do que eu esperava.

Às vezes, sua imagem aparecia aleatoriamente em um cenário, com algo nas mãos como se quisesse me entregar, mas que eu nunca conseguia ver o que era. E outras, simplesmente, surgia em meio às chamas para me abraçar e me consumir.

Não sabia como interpretar essas estranhezas, por isso, no meio da noite, procurei pelo livro de sonhos da minha mãe, só pela curiosidade.

Como não encontrei o bendito livreto, voltei a dormir tentando não pensar tanto nisso.

Ainda assim, a sensação é de certo incômodo quando me pego pensando nesses fragmentos remanescentes, pois parecem me dizer alguma coisa que eu ainda não sei o que é.

Mas será que estou dando importância demais para um sonho?

Penso que é apenas a mente trabalhando com as imagens e sentidos que se teve durante o dia. É a maneira de organizar os pensamentos, reciclar memórias e testar o nosso instinto de sobrevivência.

Bom, pensar assim, ameniza bastante meu incômodo, então...

— Se a gente não chama pro almoço, ontem – Joseph falava para me alfinetar, tirando-me dos meus devaneios. — Não teria saído do quarto... Estava conversado com... aquela pessoa lá?

Kakyoin deu uma cotovelada em Joseph, que reclamou.

— Por que esse suspense, posso saber? – Dona Mary indagou.

— Não é nada, mãe – respondi com a mesma animação que demonstrei ao chegar. — Joseph está pegando no meu pé... porque não saio mais com ele e o Caesar.

— Mãe! – Joseph resolveu mudar de assunto. — Caesar vai passar o Natal aqui.

Desta vez, meu pai se fez presente na mesa enquanto abria o jornal do dia.

— Ah, que bom, então, vocês se acertaram?

Joseph mordeu o pão e balançou a cabeça em positivo.

Minha mãe, que bebericava o café, falou:

— Brigaram por causa de uma aposta, George. Hoje em dia, essa molecada não sabe o que quer. Mas que bom que ele virá, meu filho, Caesar é um bom menino.

Meu pai fez uma cara de quem não entendeu nada, mas também não quis perguntar.

— Mary, esse é aquele rapaz loirinho que gosta de usar fitinhas? – Embora isso ele quis saber. Às vezes, meu pai se faz de sonso e acho só engraçado.

Tormenta [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora