Jennie Point Of View
"Quando poderei doar meu pulmão à Jennie?"
Eu só podia estar delirando. Aquelas palavras não poderiam ter saído dos lábios de Roseanne. Ela não deveria sequer ter considerado aquela possibilidade absurda. Sentindo o sangue ser drenado do meu cérebro latejante, eu adentrei naquela sala enxergando tudo vermelho, sem me importar com o barulho ou com os outros dois rostos que provavelmente estavam voltados para mim. Meu principal foco era Roseanne.
- Você enlouqueceu!? – Eu explodi me aproximando dela, que se encolhia na cadeira a medida em que eu a encurralava. – Dá para me explicar que porra foi essa que eu acabei de ouvir, Roseanne?
- Jennie...
- Cala a boca, Irene! – Eu gritei sem nem mesmo olhar para o rosto de Irene, eu só queria... eu não sei... eu só queria gritar com Roseanne – Depois eu me resolvo com você. –Eu não conseguia conter minha respiração alterada – Anda Roseanne, explique essa merda que eu acabei de ouvir!
- Eu só... – Ela começou a falar com a voz fraca e eu a observei umedecer os lábios.
- Você só o quê? – Eu soquei o braço da cadeira, vendo Roseanne piscar com o baque dos meus punhos no metal acolchoado - Só decidiu ser uma idiota e se arriscar numa porra de cirurgia ilegal? Só decidiu esconder essa babaquice da sua mim e sua família? Porque claro que eles não sabem dessa porra... Que merda Roseanne! Você não pensa na sua família? –Suas mãos quentes empurraram o meu peito com força e ela se levantou com a expressão completamente transtornada.
- Eu penso em você, sua idiota! – Ela gritou se aproximando de mim, empurrando o indicador contra o meu peito. – Eu penso nessa porra defeituosa que você tem ai dentro que daqui a pouco vai te tirar de mim. – A medida em que ela falava o embargar em sua voz aumentava. Seu punho se fechou e ela começou a desferir socos contra o meu peito - Eu penso todas as noites no seu peito subindo e descendo freneticamente em busca de ar e penso no momento no qual você não vai mais conseguir fazer isso, sua babaca! – Seus socos foram perdendo a força - Eu penso no seu corpo cada vez mais magro e sinto medo ver você sumir diante dos meus olhos... – Seus braços penderam ao lado de seu corpo - Eu só quero ajudar e...– Ela tomou fôlego para continuar, mas eu a interrompi.
- Eu não te pedi nada... – Murmurei segurando os seus pulsos finos e rígidos, fechando os olhos ao sentir sua testa recostar-se nos meus ombros e o aroma cítrico de seus cabelos penetrar em minhas narinas – Eu já aceitei que vou morrer, Roseanne. Por que você não faz o mesmo?
- Eu não quero aceitar, você não percebe? – Ela levantou o olhar para mim e o desespero contido nele acertou-me como um caminhão desgovernado. – Eu não quero aceitar você morrendo aos poucos diante dos meus olhos, eu não quero aceitar que não vou poder construir meu futuro ao seu lado, não quero aceitar que vou ficar sem você... – Seus braços finos me rodearam, mas eu permaneci imóvel com uma vontade imensa de retribuir seu abraço. – Viver sem um pulmão vai me trazer muitas limitações, eu sei disso, mas você acha que eu posso viver sem você?
Eu refleti rapidamente sobre suas palavras. Eu iria ser uma babaca. Iria machuca-la de uma forma que jamais havia feito em todos os anos de estupidez, mas eu não poderia deixa-la fazer aquilo por mim. Aceitar aquele absurdo não era uma possibilidade. Vestindo minha pior máscara de indiferença, eu afastei os seus braços do meu corpo sentindo um frio repentino percorrer-me de alto a baixo sem o seu calor. Ela precisava entender.
- Você tem que parar de romantizar as coisas. – Eu inspirei profundamente contendo qualquer indício de embargo na minha voz – Ninguém morre de amor, Roseanne. As pessoas morrem por causa de atitudes estúpidas como essa que você ia tomar. Nenhum sofrimento é eterno, você vai chorar no máximo por alguns meses e depois a dor vai sumindo aos poucos... – Eu desviei o meu olhar para um ponto próximo ao seu nariz porque eu não tinha coragem de olhar em seus olhos naquele momento – Você vai para a faculdade, conhecer pessoas novas e aos poucos você vai esquecer que eu não estarei lá... existirão outros braços para te aquecer, outros lábios para te beijar e outras pessoas para infernizar a sua vida. Vez ou outra você vai se lembrar de mim e talvez chorar um pouco, mas suas lágrimas logo serão substituídas por sorrisos que outras situações vão te proporcionar... – Eu limpei minha garganta e segurei seus ombros – Você conhecerá outros amores e um deles será o seu marido ou sua esposa, com quem você vai plantar uma bananeira estúpida e ter tempo para vê-la crescer e frutificar e finalmente eu vou me tornar apenas uma lembrança. Uma lembrança que talvez você mencione para seus netos quando eles aparecerem com perguntas sobre o seu passado, uma lembrança do seu primeiro beijo, uma lembrança da sua primeira vez, uma lembrança da sua atormentadora. – Eu me aproximei de seu rosto, sentindo sua respiração contida bater contra minha pele enquanto meus dedos pressionavam com um pouco mais de força o seu braço – Vai chegar um momento que eu serei apenas o seu passado, então não venha me dizer que você não consegue viver sem mim porque isso é uma estupidez sem tamanho. – Eu a soltei, tentando a todo custo impedir meu corpo de tremer e as lágrimas rolarem.
- Você é uma imbecil, Jennie! – Ela gritou com os punhos cerrados.
- Não sou imbecil Roseanne, sou realista! Naquela noite na praia eu te ofereci tudo o que eu tinha. Eu te ofereci o presente, mas eu vejo que apenas ele não é o suficiente pra você. Você quer mais do que eu posso oferec... – Ela me interrompeu.
- Não, sua idiota! Eu não quero porra nenhuma de você, eu quero dar tudo o que eu tenho, por que você não aceita? – Ela gritou.
- Porque isso é muito mais do que eu posso receber, Roseanne. – Eu gritei de volta.
- Você é incompatível... –Eu me virei para o doutor John, que até aquele momento eu havia esquecido que estava na sala ouvindo toda a conversa. Ele tinha uma expressão desolada no rosto. – Os exames revelaram a incompatibilidade com Jennie, você não poderia ser a doadora, eu ia contar isso a você antes da Jennie entrar na sala, sinto muito...
Como uma merda como aquela poderia ter um efeito tão positivo em mim? Um sorriso ameaçou nascer em meus lábios, mas morreu no momento em que olhei para Roseanne. Ela olhava para o médico estática como uma estátua e aos poucos seu queixo começou a tremer e seu rosto petrificado se transformou em uma máscara de sofrimento a medida em que as lágrimas escorriam pelo seu rosto.
- En-então... então quer dizer que nem pra isso eu sirvo? – Ela perguntou num fio de voz e Irene a abraçou.
- Não fica assim, Rosé... a culpa não é sua... – Eu queria estar lá, eu queria estar no lugar de Irene, abraçando o corpo frágil de Roseanne, murmurando palavras bonitas que viessem a consolar seu coração, mas ao invés de fazer isso, eu virei as costas e a abandonei.
Talvez fosse a hora de eu começar a me tornar uma lembrança.
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You Hate Me While I Love You (Chaennie Version)
FanfictionComo vou conquistar a garota que eu amo? A resposta é simples: Infernizando-a (Essa fanfic não é de minha autoria, estou apenas trazendo uma adaptação. Fanfic original: https://www.wattpad.com/story/98633617 Autora Original: @lynmarquis