- Aina! O cliente não pode esperar! Não é porque és a queridinha do Zorkin e dos clientes que vais fazer as coisas quando bem entenderes!__ Dora gritou furiosa, não me dei nem ao trabalho de lhe responder, de todas as meninas da casa ela era a mais invejosa. Eu não entendia o motivo daquilo, para quê ter inveja de uma atividade tão suja quanto aquela?!
Respirei fundo, observei meu reflexo no espelho, passei um pouco de perfume e coloquei um sorriso falso no rosto. Peguei meu pingente com força e fiz uma prece pedindo proteção de Deus. Com uma lufada de ar, ganhei coragem e saí do quarto caminhando sobre o salto alto como se tivesse nascido com ele, não era pra menos, eram dez anos de prática.
Logo no finalzinho do corredor avistei o "meu quarto", todo escuro como eu gosto, já era bastante me usarem como um objeto, não ver o rosto deles era um alívio para mim.
A cortina estava meio aberta dando um pouco de luminosidade ao local, o cheiro de cigarro infestava cada canto fazendo meu estômago embrulhar.Eu já sabia o que fazer, tirei o robe e me ajoelhei. O homem parou exactamente a minha frente e puxou os meus cabelos.
- Olá macaquinha cheirosa!__ disse com o sotaque carregado e cuspiu em mim. - Anda! Faça o seu trabalho!__ vociferou e eu me apressei a fazer.
Foram duas longas horas de tormento, enquanto ele fazia suas sujeiras em meu corpo eu viajava para o dia que aquele tormento começou, hoje fazia exactamente 10 anos que estava longe de casa.
Então sim, hoje eu fazia 24 anos, e como sempre o dia estava nublado assim como meu coração, meus olhos e minha personalidade.
No início daquela noite eu despedi-me da vovó e voltei para casa mais feliz do que nunca, o jantar estava posto, mamã parecia feliz enquanto apreciava seu novo colar de ouro, Isabella brincava com sua boneca, Ryan intercalava a comida e seu livro sobre carros e meu padrasto servia seu vinho enquanto falava algo ao pé do ouvido da mamã.
Naquele momento estavam todos felizes, eu estava feliz e aquele era o melhor presente de aniversário que eu podia ganhar. Depois do jantar tirei a mesa e lavei a louça com ajuda da Isabella, subimos para o nosso quarto e ficamos conversando sobre o futuro.
- O que você vai ser quando crescer?!__ Isa perguntou segurando seu ursinho de pelúcia.
- Quero ser pediatra... Ou abrir uma creche! Quero poder cuidar de crianças e dar muito amor... E você?!__ comentei feliz.
- Eu quero ser professora. Tem muita gente precisando de bons modos, principalmente os adultos...__ comentou emburrada e eu desci até sua cama abraçando-a.
- Você detesta maus modos mesmo...__ sorri fazendo carinho em seus cabelos longos, mas meu sorriso logo sumiu assim que escutei um estrondo ecoar pela casa.
- O que foi isso Aina?!__ Isa perguntou assustada.
- Não sei, fica aqui e deixa ver o que está a acontecer...__ sussurrei e saí do quarto, pela ponta do pé parei atrás da porta."Então Zaida, achavas que te ias esconder para sempre?!
Viemos cobrar a dívida que o seu falecido marido deixou!"- Olha, nós não temos dinheiro no momento. Podemos esperar até amanhã e pagaremos tudo o que exigirem...__ senhor Carlos disse tentando apaziguar os ânimos.
- Vamos uma ova! Eu já paguei tudo o que devia a vocês! Vendi até o meu corpo pra saldar essa dívida, então não me venham com essas conversas...__ mamã gritou nervosa e um dos homens sacou a arma apontando bem no meio da testa dela.
" Somos nós que decidimos quando a dívida será saldada! Eu até estava disposto a aceitar a proposta do branquelo, mas a tua boca estragou tudo! Quero o meu pagamento hoje e agora senão todos vão morrer!"
Saí assustada, caminhei em direção ao quarto de Ryan forçando-lhe a ir até ao meu quarto.
- Isa, Ryan! Homens maus estão lá na sala e eu acho que nos vão matar, precisamos fugir! Não façam barulho...__ sussurrei enquanto abria a janela do quarto.
- Como assim?! A mãe e o pai? Eles estão bem?!!__ perguntou chorosa e um disparo ecoou pela casa.
- Saiam rápido e corram para casa da avó. Não olhem para trás e só voltem amanhã com a polícia...__ disse empurrando-lhes para que saíssem, enquanto escutava o som de passos se aproximar do quarto.
Assim que eles estavam fora tentei sair, mas um braço forte segurou minha cintura tirando-me do chão.
- Olha só o que temos aqui... Uma linda menina... Cheirosa... Sabe a inocência...__ o homem disse com um sorriso diabólico.
- Deixa ela em paz! Eu pago tudo o que pedirem!__ senhor Carlos gritou aflito.
- Oferta tentadora... Mas ela vale mais que isso... Com certeza ganharei muito dinheiro... Agora estamos quites!__ o homem disse caminhando porta fora.
- Mamã! Mamã! Mamã! Socorro! Eu te amo, prometo me comportar... Não deixe que eles me levem... Mamã!!!__ chorei aflita, vendo minha mãe indiferente aos meus apelos...
Gritei pela dor de ser rejeitada pela própria mãe e por sentir o calor do cigarro em minhas costas... Estava absorta em meus pensamentos que não notei quando o homem asqueroso começou a queimar e a marcar meu corpo com seu cigarro, eram 3 grandes feridas abertas, ardentes e expostas.
- Você realmente é um docinho, foi um dinheiro muito bem gasto! Com certeza você é a melhor de todas. Vou falar como o Zurkin para que sejas só minha...__ disse sorrindo atirando dinheiro sobre meu corpo e saindo do quarto.
Respirei aliviada, homens como aquele eram muitos, bonitos, chefes de família e com fetiches estúpidos! Vinham todos com ar obsessivo para cima de mim, sorte ou azar, eu era peça cara e não podia pertencer a somente um, por isso todos os dias era feito um leilão para decidir quem seria o dono do meu corpo por duas horas.Por vezes eu perdia a conta de quantos homens passavam por mim num só dia. Aquele era o primeiro do dia, vinham 10 ou 12, dependia do Zurkin.
Dolorida, levantei-me da cama em direção ao dormitório, assim que passei pela porta Lindiwe veio ao meu encontro com um mini bolo e deixou sobre a cabeceira.
- Feliz aniversário manaaaa...__ gritou me abraçando e eu logo me afastei.
- Ahhh, obrigada Lindi...__ agradeci sorrindo com uma careta de dor.
- O que foi?! Aquele sujo feriu-te?!!__ perguntou preocupada.
- Finalmente agora somos iguais, acho que ele caprichou no presente...__ dei um sorriso sem humor mostrando as costas marcadas.
- Precisamos limpar e colocar uma pomada para cicatrizar... Venha, tenho muita experiência nisso...__ Lindiwe me puxou para sua cama e começou a tratar as feridas expostas. Ela sabia fazer aquilo como ninguém, porque ela era vítima constante dos fumadores.
- Obrigada por cuidar de mim...__ disse grata.
- Não há de quê mana. Eu cuido de você e você cuida de mim.__ sorriu amorosamente. Lindiwe era a mais nova da casa, com 17 anos. Era eu quem cuidava dela quando era recém chegada, tinha apenas 7anos, era pura e inocente, eu me recusava a deixa-la ser deflorada por aqueles homens antes dela fazer 16 anos.
Diversas vezes eu me entreguei no lugar dela para evitar que fosse violentada, eu queria dar um pouco de felicidade para ela. Infelizmente quando ela fez 14 anos, não pude mais defender-lhe, ela teve que ir "a guerra", mas eu prometi para ela que nunca a deixaria sozinha e que cuidaria dela...Seríamos nós duas, para sempre.
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A Dama De Preto
RomanceNascer mulher tem sido um problema desde os primórdios tempos. São perseguições, preconceitos, humilhações, desprezo, violências e por aí vai uma longa lista de desvantagens. Algumas mulheres são sortudas, outras nem por isso, e Aina também não era...