Se podemos sonhar, também podemos tornar nossos sonhos realidade.Tom Fitzgerald
Mãos ásperas e gentis tocam as maçãs do meu rosto, passeam por cima das minhas feridas doloridas, um perfume reconfortante que me deixa ansiosa e com borboletas no estômago infestou o lugar em que eu me encontro.
Esse lugar calmo, aconchegante, podia jurar que eu estava por cima de uma nuvem, mas eu bem sei que é uma cama, uma cama de verdade na qual eu poderia hibernar e esquecer a vida que levo.O som da respiração de alguém se escutava pelo cómodo, em instantes senti também o calor que seu corpo emanava e de seguida lábios ligeiramente molhados pousaram sobre minha testa, me passando estranhamente a sensação de paz e proteção.
- Eu sei que está acordada pequena, vamos lá, abra os olhos...__ uma voz rouca reverbou pelo lugar.
A última lembrança que tenho é do suposto filho do Zurkin, vulgo anjo, dizendo que cuidaria de mim... Irónico nem? Enquanto o pai arranja maneiras de me ferir a todo custo, o filho diz que vai cuidar de mim... Esse só pode ser mais um jogo sádico daquele homem dos infernos, com certeza agora ele vai acabar com o meu psicológico.
Mas eu não sou tão burra quanto pareço, não vou cair nesse jogo, a intenção dele deve ser que eu me apegue emocionalmente a este homem, acreditar que ele é diferente pra no final das contas eles acabarem comigo.Eu não vou permitir isso!
Reuni toda coragem que eu tinha pra mandar o filho do demónio para longe e abri os olhos levemente, sentindo a irritação devido a luz se espalhar pelas minhas vistas me fazendo piscar demais.
- Seus olhos são tão bonitos... Parecem duas pérolas negras...__ o filho do demónio falou me fazendo fixar meus olhos em sua face.
Seus olhos eram de um verde brilhante e vibrante, eram absurdamente lindos! Seu sorriso contido mostrava de longe seus dentes extremamente brancos e bem organizados, acompanhados pelos lábios carnudos em formato de coração, com sobrancelhas grossas e de cor acastanhada, um loiro quase, assim como seus cabelos que estavam contidos em um rabo de cavalo mal feito me fazendo perguntar realmente se era filho daquele cão do inferno.
Cruzes!
Fiquei sem palavras, já havia me esquecido do quão bonito ele é!
- Sentes-te melhor?!__ perguntou num tom calmo e eu apenas assenti analisando o quarto em tons de preto e cinza.
- Ahmmm... A casa de banho é naquela porta a esquerda caso queiras te aliviar, vou buscar o pequeno almoço...__ meio nervoso?! E eu apenas assenti vendo o poste ambulante levantar da cama e sair do quarto me fazendo levantar de imediato e correr em direção a janela e me espantar com a vista do mar em minha frente.
Quando é que eu saí da fronteira?
Quantos dias eu dormi?
Lindiwe? Será que ela está bem?!Deus! Me ajude!
Caminhei de forma cuidadosa até a casa de banho e apreciei o local fresco com azulejos escuros, uma box coberta de vidro, um espelho enorme que me mostrava meu reflexo deplorável...
Olheiras profundas, lábios ressecados e ematomas no pescoço e na cintura.
Suspiro pesadamente e lavo o rosto com cuidado, pego numa escova nova e lavo os dentes, olho para o box e penso em tomar o banho para acordar o corpo, com certeza teria que voltar ao "trabalho" ainda hoje.
Tiro a vestido longo, entro no box, olho o chuveiro vendo dois botões, azul e vermelho. Clico o botão azul fazendo um jato de água gelada cair sobre meu corpo e arrancar um grito meu.
- Está tudo bem aí?!__ o filho do diabo disse depois de abrir a porta me fazendo gritar novamente pelo susto e cobrir os seios e a parte íntima.
- Você tem noção da palavra PRIVACIDADE?! Pelo amor de Deus! Você me assustou! E ainda olha pra mim desse jeito! Eu estou nua! Vira a sua cara!__ falei nervosa e cliquei novamente no botão azul fazendo a água parar de cair.
- Desculpa! Eu ouvi um grito, achei que estivesses a passar mal e vim ver... Eu só queria ajudar... Mas você não precisa se esconder, eu é que dei banho em você durante esses três dias então.... E clica no vermelho se quiser água quente...__ piscou descaradamente e saiu.
Três dias? Eu dormi por três dias?
Agora vou ter que "trabalhar" feito uma louca pra alcançar a meta do mês e escapar das mãos dos bêbados.É assim que o jogo funciona, caso não alcance as metas do mês, passa directo pra ala dos bêbados, que pagam pouco e tem os fetiches mais estranhos.
Depois do banho, procurei por uma toalha nos armários e passei pelo corpo, coloquei o vestido de volta e fui até ao quarto.
O homem estava sentado na cama de frente pra mim com uma expressão normal.- Obrigada por ter cuidado de mim...__ expressei minha gratidão, por mais que eu não quisesse acreditar ele cuidou de mim durante esses dias todos.
- Não há de quê... A propósito sou Ivan...__ levantou-se e esticou sua mão na espectativas de dar um aperto.
- Zurkin presumo...__ apertei sua mão.
- Sim e você a famosa Aina... É um prazer finalmente te escutar, já que tinha te visto...__ sorriu e se afastou deixando espaço para que eu sentasse sobre a cama.
- Não sei se posso dizer o mesmo de você... Sendo filho de dia..., do senhor Zurkin...__ peguei em uma uva e meti na boca.
- Eu não sou nada parecido com o meu pai...__ disse com a voz contida.
- Fisicamente não... Mas de resto...
- Você terá muito tempo aqui pra perceber que não...__ cortou minha fala.
- Quanto tempo vou ficar aqui? Você sabe da Lindiwe?!__ olhei para seus olhos e ele sorriu.
- Acho que essa será sua nova "casa"... A Lindiwe está no quarto de baixo, em recuperação. Depois de você se alimentar direito e tomar os analgésicos poderá descer para vê-la e conhecer melhor a casa.__ suspirei fundo de alívio por ter minha bebê por perto.
- E vou ter que voltar hoje ao trabalho?!__ perguntei receosa, porque ainda estava com as costas doloridas.
- Não bebê, só voltará ao trabalho quando estiver devidamente recuperada...__ tomou um gole do café.
- Mas e as metas? E o valor semanal? Eu preciso...
- Minha casa, minhas regras! Você só voltará para aquela merda de trabalho quando estiver bem. Você está segura agora...__ sorriu de leve fazendo meu coração acelerar e meu estômago dançar.
Estou salva?
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Dama De Preto
RomanceNascer mulher tem sido um problema desde os primórdios tempos. São perseguições, preconceitos, humilhações, desprezo, violências e por aí vai uma longa lista de desvantagens. Algumas mulheres são sortudas, outras nem por isso, e Aina também não era...