Prólogo

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Há muitos anos, incontáveis anos, existia um mundo em que todos viviam da mesma forma. Campos. Harmonia. Compaixão. Gentileza. Todos daquela mesma forma, roupas simples, chapéus de palha e bambu. Todos estavam felizes. Foi então que a primeira guerra aconteceu.

Seu nome era Zhao Mu-Cheng. O primeiro tirano que apareceu em toda a história. Não existia divisões, eram todos um só. Nunca se soube o porquê de ter acontecido uma guerra. O porquê de uma revolta em que uma pessoa quis ter mais poder que outra. Foi então que a primeira terra do mundo surgiu: Xianjian. Um território imenso, um lugar que isolou milhares de pessoas, dividiu elas por idiomas, por culturas, por classes sociais. Zhao Mu-Cheng tinha o apoio de todos que eram privilegiados por ele. Foi então que mais duas terras surgiram. Yasaka e Chosanguk.

Yasaka apoiava Xianjian. Serviam ao império de Zhao Mu-Cheng. Chosanguk vivia na miséria. Não tinham comida. Não tinham recursos. Não havia nada além de restos de cadáveres de animais mortos. Em meio à fome, as pessoas que viviam em Chosanguk eram obrigadas a lutarem umas contra as outras para o mais forte poder se alimentar de seu oponente. Aquela foi a era mais sombria de todas em Chosanguk. Uma parte da história que todos ignoravam a existência pelo terror do que havia sido.

Um dia, um jovem garoto, Lee Jae-In, não aceitou viver no mundo em que ele havia sido colocado. Ele se revoltou, ilegalmente fugiu para Yasaka, conseguiu aliados após muito tempo vivendo às escondidas. Eles invadiram Xianjian. Muitos morreram. Muitos perderam a esperança. Mas Lee Jae-In não. Ele encontrou uma forma de assassinar Zhao Mu-Cheng, e quando fez isso, tornou-se o novo imperador. Chosanguk cresceu, todos que viviam naquele lugar foram para a antiga Xianjian. Um dia Chosanguk ganhou um novo nome: Coreia. As outras terras tinham nomes, mas o povo coreano deixou de se importar. Todos que não eram de lá passaram a ser chamados de estrangeiros. Viviam divididos da Coreia, eram outras terras que nunca mais cruzariam os territórios.

O império de Lee Jae-In crescia, todos os coreanos o amavam. Foi então que com o decorrer dos anos, a linhagem dos Lee ficou intocável, todos governariam a Coreia, sempre seria passada de pai para filho. E enquanto isso acontecia, os estrangeiros se erguiam, voltavam a viver em suas vidas simples, descansavam com a paz, eram unidos, divididos em várias vilas que sempre se ajudavam quando necessário. Cada vila com seus tipos de estrangeiros diferentes que apenas podem ser identificados pelos nomes. Muito tempo se passou, e dessa vez a Coreia passou a ser conhecida como a Dinastia de Lee Jong-Suk.

...

— Hm, onde será que ela se escondeu? Não consigo achá-la — uma mulher com longos cabelos pretos andava em torno de uma casa simples em meio ao matagal alto e amarelado que tinha.

Seu tom de voz era divertido, ela escutava uma doce risada de criança que se escondia debaixo de uma carroceria. Ela abria um sorriso e dava meia volta para deixar a criança alegre.

A criança colocava as duas mãos no rosto para abafar os risos, mesmo que não funcionasse de nada. Ela logo era puxada por trás pela mulher que a segurava nos braços de forma risonha, as duas riram e continuaram brincando uma com a outra.

A menina tinha cabelos pretos iguais aos da mãe, sua feição física era extremamente parecida com a dela. Sua mãe era jovem, bela, delicada. Seu pai logo aparecia, era bem mais velho que sua mãe, mas era um homem gentil, com um sorriso bondoso e os cabelos já grisalhos por baixo de um chapéu de bambu. Eles voltavam para dentro de casa, comiam uma sopa deliciosa de legumes com macarrão. Eram felizes com o que tinham, eram pobres, humildes, simples, mas felizes.

Felizes de uma forma que não havia palavras para descrever, apenas eram felizes. Felizes de uma forma que mais sorriam que choravam ou se lamentavam.

Em volta da vila, todos viviam da mesma forma, felizes e mais felizes. As luzes de lamparina iluminavam as casas, os pais cuidavam dos filhos, os amavam genuinamente. Todos vivam bem.

— Papai! — a menina chamou pelo pai com aquela voz doce, ele olhava para ela sorrindo, a via se levantar da mesa e ir até ele com um origami em formato de flor na mão. Ela subia em seu colo e entregava a flor de papel, ambos sorriam — essa flor significa família — ela disse — é para a nossa família continuar grande!

— Somos só nós três — ele disse risonho.

— Mas eu vou me casar, ter filhos para vocês virarem avós e nossa família vai ser grande.

— Não precisa disso — disse a mãe sorridente — o importante é você crescer bem e forte. Ser a menina mais amada de todas por nós, tendo saúde e sendo feliz conosco.

— E falando em ser feliz — o pai começou a dizer — o que acha de me ajudar com as flores amanhã, princesinha?

A menina sorriu alegremente, estava comemorando imensamente.

— Eu quero! Eu quero! Por favor, eu quero muito!

O pai riu com a emoção da filha.

— Papai, você vai me ensinar mais sobre flores, não é? Eu gosto daquela roxa grande bonita que demora florescer, você nunca me disse o nome dela. Eu quero saber. Me conta. Me conta.

— Calma, princesinha — outra vez o pai riu da empolgação da filha.

— Por favor! Me conta! Eu gosto da flor!

— Eu vou contar — ele sorriu e olhou para a esposa — o nome dela é... Hm, não me lembro. Você se lembra, querida?

— Não tenho ideia de que flor é essa — a mãe riu.

— Mas eu quero saber o nome da flor — a menina choramingou.

Foi então que seu pai a virou para ele e tocou em seu nariz, ele sorria alegre e beijou a testa da filha.

— Um dia você irá saber, mas por enquanto, lembre que amanhã será um dia incrível para nós dois.

— Certo! — disse a menina alegremente — vai ser o melhor dia de todos!

— Vai sim, querida — a mãe sorriu.

Nada acabaria com a felicidade daquela família. 

Minha Criada Yoo Su-hwa || sooshuOnde histórias criam vida. Descubra agora