Minha Criada Yoo Su-hwa || sooshu

Capítulo IV

Novamente acordei assustada no meio da noite. Seo Soojin gritava no quarto em frente ao meu. Eu respirava ofegante tentando raciocinar o que eu deveria fazer. Normalmente eu deveria apenas não ligar para isso, ignorar completamente, mas agora eu era a criada. Eu tinha de fazer alguma coisa. Eu precisava fazer com que ela calasse a droga da boca para que eu pudesse dormir tranquilamente. Levantei e corri para o seu quarto, minha visão era de alguém totalmente desesperada. Ela não parava de se remexer na cama, derrubava tudo que estava ao seu lado, parecia estar completamente perturbada mentalmente enquanto dormia. Eu tive de acordá-la. Foi um susto para nós duas. Seu peito subia e descia desesperadamente quando respirava, nós nos olhávamos, ficavamos em silêncio. Eu não conseguia deixar de reparar em seu rosto, mesmo com os cabelos bagunçados, eles eram lindos. Longos e negros, muito bem cuidados, com um aroma maravilho. Seu rosto, mesmo assustado, era bonito, um tanto redondo, mas em um formato ótimo. Sua boca era chamativa, estava entreaberta por respirar por ela ao invés do nariz. Eu reparei em cada detalhe de seu rosto, via seus sinais, a cor escura de seus olhos, sentia o toque das mãos delas segurando em meus braços enquanto me encarava. Eu só pude notar que ela não era uma criança. Era uma jovem. Uma jovem dama.

- Eu a vi.

Senti-me confusa quando ela falou isso, não entendi ao que estava se referindo. Pisquei meus olhos algumas vezes e continuei a olhando.

- Viu quem?

Mais uma vez ela parecia nervosa, dava para sentir seu corpo tremendo. Ela tinha me soltado, se afastou de mim e levantou da cama andando em círculos pelo quarto. Eu estava começando a ficar nervosa com o nervosismo dela. Enfim ela parou de andar, encarou uma das janelas do quarto e seus olhos se arregalaram, ela abraçou o próprio corpo e dessa vez fui eu quem senti um arrepio desesperador. Ela estava olhando para mim com um rosto apavorado. Como se tivesse visto um fantasma.

- No próprio quarto, ela suicidou-se no próprio quarto. Levaram o seu corpo para fora no meio da noite, eu a vi. Eu a vi por essa janela.

Eu não soube como reagir. Não que esse assunto para mim fosse chocante, mas sim pelo fato de ser a primeira coisa que eu estava conversando com Seo Soojin. Ela estava perturbada, provavelmente alucinava, sonhando com o suicidio de sabe-se lá quem. Soojin caminhou mais uma vez pelo quarto, veio à cama e se deitou. Eu conseguia escutar o som desesperado de seu coração. Quis tocá-la para acalmá-la, mas lembrei-me que isso seria demais para alguém que sequer deveria saber o meu nome ou a minha existência como nova criada. Yoo Su-Hwa não era nada para Seo Soojin ainda. E por isso, viu seu olhar para mim.

- Retire-se.

Ela parecia calma, falava com uma voz suave, mas eu sabia que estava me mandando sair por não ter ideia de quem eu era. Não iria protestar, assenti com a cabeça e me retirei de seu quarto. Não queria pensar sobre esse nosso primeiro encontro, não queria pensar no quão bonita a filha do Conde era. Parecia uma garota inofensiva, retraída, que precisava de alguém para cuidar dela. E eu teria de ser essa pessoa, mas de forma alguma eu queria ser essa pessoa. Jamais queria ter a responsabilidade de cuidar de alguém. Cuidar de mim mesma já era um desafio.

Foi então que o dia amanheceu, eu não deixei de pensar em Seo Soojin, não consegui apagar essa noite da minha cabeça, de ver o quão perturbada ela estava por conta de um pesadelo. Éramos muito diferentes, isso não daria certo. Quando me dei conta, lá estava ela em minha frente de novo. Penteava os longos cabelos de frente para a penteadeira, usava um hanbok delicado, as cores cremes, que combinavam perfeitamente com ela. Ela não olhava para mim, estava de costas, eu apenas via sua silhueta elegante, a postura impecável, parecia tão diferente de como estava a noite. Sequer parecia lembrar que tivera um pesadelo por tamanha calma.