Lembro-me daquele dia como se fosse a pouco tempo que me ocorreu. Uma lembrança recente, os gritos de dor, o choro de desespero. O medo. Eu vi o fogo crescendo para todos os lados, vi pessoas sendo jogadas na lama, tendo seus corpos chutados, tendo lâminas atravessando seus corpos, eu via a morte, aquelas bandeiras com um símbolo vermelho da realeza, o nome do Rei Lee Jong-Suk sendo gritado pelos homens fardados de vermelho e o cobre potente com couro de suas armaduras segurando suas armas, aquelas espadas e lanças, tendo seus cabelos presos em coques cobertos pelos capacetes negros. Seus rostos frios e sem empatia. As mulheres daquela vila choravam ao ver seus maridos mortos no chão com o sangue derramado por todos os lados, elas agarravam os filhos nos braços e imploravam por misericórdia. Eles eram arrancados delas, alguns ficavam vivos, outros não, apenas inocentes bebês que morriam sem razão. Elas eram levadas embora de forma bruta, suas vestes podres, seus rostos sujos, as lágrimas que continuavam escorrendo por suas belfas que se misturavam com a chuva grossa que caia do céu. Uma mão forte me empurrava para perto de outras crianças, eu escutava gritos, via celas, sentia correntes em meus pulsos, via mais pessoas gritando, outras crianças gritando, todos sendo levados e amarrados. Meus pais estavam longe demais, eu não os via, eu não sabia onde estavam, não sabia se sequer os veria outra vez, se viviam ou não. Foi então que eu o vi. Um homem alto com cabelos longos soltos e negros, aquele cavanhaque longo que pegava exclusivamente uma pequena parte de seu rosto. Aquelas roupas da realeza, o hanbok vermelho elegante, o cavalo negro que montava, o rosto esculpido com um sorriso escarnio vendo toda a destruição a sua volta por conta daqueles que se opuseram a servi-lo. Ele apenas permanecia com uma pose elegante, tinha uma espada com ele, uma espada já banhada em sangue. Ele era um homem satisfeito.
— Por aqui basta, levem esses para o estoque. Avançaremos para a próxima vila agora — disse o Rei Lee Jong-Suk.
8 anos depois....
Diversas garotas na faixa de seus 16 anos estavam paradas em uma grande fila organizadas sendo avaliadas por suas posturas e seus rostos. Um general passava na frente delas, avaliava cada detalhe que havia nelas com cautela. As roupas velhas e encardidas, os cabelos engrenhados e mal cuidados, a sujeira em toda suas cavidades. Todas horríveis. Com exceção de uma. O general parou em frente a uma jovem que manteve seu olhar baixo, seu rosto era razoável, suas roupas eram mais limpas que as outras, seus cabelos negros escovados e lisos. Ele levantou seu rosto com a ponta dos dedos, a avaliou mais de perto com aquela expressão séria. Seus olhos eram comuns como os de qualquer outra estrangeira, mas sobressaltou a elegância que procurava. O general minimamente sorriu, soltou-lhe o rosto e continuou a andar.
— Vou levar aquela.
O homem baixo e barrigudo com uma calvície notória andou para perto do general, estendeu a mão e recebeu ao saco de moedas de ouro que ele carregava.
— Irá adorá-la, General Hwan — disse o homem — de todas aqui, ela foi a que mais aprendeu a ser uma serviçal. Trabalha com tamanha convicção, obedece a cada pedido. Você ficará muito satisfeito, tenho certeza de que..
— Não é para mim — o general olhou para o homem que arregalou os olhos — É para o Conde Dae-Jung.
— O Conde?
— Precisam de alguém jovem na casa.
O homem ficou hesitante, pareceu nervoso, engoliu a seco e afirmou diversas vezes com a cabeça com seu sorriso que escondia desespero.
— Tenho certeza de que ela irá servi-lo bem.
O general olhou para o homem, franziu o cenho e ignorou o desespero que ele deveria sentir. Ele chamou dois soldados que o acompanhavam, sussurrou para eles e olhou na direção que eles iam para buscar a jovem garota. Ela era tirada de perto das outras, levada para perto dele e o olhava com aquele olhar de quem não fazia ideia de como seria sua vida dali em diante.
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Minha Criada Yoo Su-hwa || sooshu
RomanceEm meio uma era de dinastias, diversos grupos de camponeses foram capturados e levados à força para servirem como escravos para a dinastia do Rei Lee Jong-Suk. Yeh Shu Hua, também chamada por Yoo Su-Hwa, foi tirada muito jovem de sua família para s...