Capítulo III

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Se minha vida é miserável? Tenho por mim que miserável chega a ser elogio.

Quando mais nova via a guerra diante meus olhos, uma guerra injusta, uma guerra que não havia motivo de existir. Vidas inocentes foram tiradas, todos os camponeses daquela vila foram levados, iriam viver como escravos. As mulheres serviriam em todas as casas, seriam empregadas, e dependendo de onde fossem parar, não receberiam nada, teriam sorte se conseguissem comer alguma coisa. Os homens seriam transformados em "mão de obra barata", sequer ganhariam dinheiro, sequer teriam moedas de ouro, bronze ou prata. Seriam todos escravos da dinastia de Lee Jong-Suk.

O que dizer do destino de cada criança? As moças seriam ensinadas a serem futuras criadas, seriam educadas para servir a casa de nobres, já os homens, serviriam ao exército do rei ou trabalhariam em tempo integral em plantações cada vez que um homem morresse de cansaço ou desidratação. Nem sempre as moças viviam bem só porque seriam um dia empregadas e teriam um teto que poderiam ao menos descansar, se a colheita precisasse de mão de obra e não tivesse homens suficiente, as mais indisciplinadas e incompetentes seriam jogadas nos campos com enxadas de madeira para realizar os trabalhos que restavam.

Eu era uma dessas moças. Meu nome? Yeh Shuhua. Eu tinha 9 anos quando fui levada, quando fui tirada dos meus pais que provavelmente foram brutalmente assassinados pelos soldados do Rei Lee Jong-Suk por não se permitirem servir a ele. Passei todos os dias da minha vida, desde que fui levada, fiquei sendo ensinada a como cuidar de uma casa, eu não falava coreano, sequer era coreana. Era uma estrangeira. Valia uma fortuna se fosse vendida. O homem pelo qual estava responsável por mim sabia que iria conseguir diversas moedas de ouro. Mas eu era um caso perdido, não queria aprender coreano, não queria limpar uma casa, não queria servir a ninguém. Eu sempre era espancada por aquele homem feio e gordo, ele me jogava nos campos, obrigava-me a trabalhar duramente, me fazia passar pelas piores crises, piores assédios, piores climas. Constantemente eu adoecia, ele se desesperava com medo de que eu morresse. E eu queria. Era tudo que eu queria. Só que eu nunca morria.

Eu havia crescido, me tornado uma "mulher", mesmo sendo jovem demais, mesmo sendo apenas uma menina que deveria mal ter feito seus 16 anos por não ter mais noção de tempo. Eu ainda trabalhava nos campos, mas com menos horas. Todos os dias eram cansativos, todos os dias eu me matava trabalhando com a esperança que partisse igual a todos os homens pela falta de água. Quase consegui meu triunfo. Mas um homem apareceu, ele era alto, forte, tinha um rosto sério, pela minha visão fraca não parecia ser feio, era um homem adulto, bem mais velho, mas não tão velho. Ele usava roupas de soldado, eu estava sozinha com ele naquele campo, sentia vontade de partir para cima dele e o estrangula-lo por lembrar de tudo que me ocorreu no passado. Eu levantei minha mão para atingi-lo, mas ele a segurou. Um sorriso escárnio formou-se em seu rosto, ele parecia contente por quase ser agredido.

- Exatamente como pensei que seria - disse o homem que soltou o meu braço e nem ao menos quis pegar a espada que carregava no corpo - é um prazer enfim conhecê-la, Yeh Shuhua.

Eu estranhei o fato dele me conhecer, queria me afastar, sair correndo daquele campo. Ninguém nunca me chamava pelo nome, parecia que sequer eu tinha um nome, que sequer eu tinha valor além das moedas de ouro que aquele homem asqueroso conseguiria quando me vendesse.

- Sou o General Hwan, Yoo Jong-Hwan.

Eu não me importava, para mim ele era um soldado como qualquer outro. Desprezível, nojento, repulsivo, um lacaio de Lee Jong-Suk.

- Sirvo a família do Conde Seo Dae-Jung - disse o general - venho de muito longe para lhe propor algo.

- Não quero acordo com a nobreza - eu disse com repulsa.

O General Hwan riu, parecia já esperar por essa reação. Ele colocou suas duas mãos na cintura, me olhou com a sobrancelha franzida e formou um sorriso nada encantador.

Minha Criada Yoo Su-hwa || sooshuOnde histórias criam vida. Descubra agora