Lucien deu um salto da cama.
Olhou ao redor e se levantou num pulo ao sentir que havia algo dentro do quarto.
A luminosidade da lua que passava pelas cortinas finas das portas da varanda de nada servia para que enxergasse melhor naquele breu.
Tirou o punhal de baixo do travesseiro ao sentir um vento frio lhe atingir a lateral do corpo.
Firmou os pés no chão e procurou.
Seu coração batia na garganta e quanto mais tempo se passava em silêncio mais apreensivo ficava.
Ouviu um barulho alto vindo do lado de fora, como se algo pesado houvesse batido na parede, e foi então que decidiu que não ficaria mais ali.
Não estava enxergando porra nenhuma e somente quando correu até onde sua intuição dizia ser a porta entendeu o que acontecia.
Sombras tomavam conta do corredor e entravam por debaixo das portas dos cômodos, se estendendo pela casa inteira e não deixando uma parte sequer sem estar no completo breu.
O que diabos estava acontecendo?
Analisou bem as gavinhas que serpentevam agitadas ao seu redor, e só confirmou o que já suspeitava. Eram as sombras do Mestre Espião.
Quanto mais andava pelo corredor mais confuso ficava. Onde estava a porra do quarto dele? As sombras o confundiam, estavam densas demais e eram como uma névoa negra. Lucien não conseguia enxergar nada com mais de um palmo de distância.
Quando mais andava por aquele corredor, mais sentia que estava indo pelo lugar errado, e quando virava a direita ou esquerda temia estar se distanciando de seu objetivo ao invés de se aproximar.
Tropeçava mais vezes do que gostaria e dava com a cara na parede com frequência. Estava começando a ficar puto.
De repente, algo mudou.
Começou a ouvir um barulho agudo, ainda que fosse baixo. Pareciam ser vários gritos ao mesmo tempo, todos esganiçados e parecendo desesperados. Sua respiração acelerou conforme seus passos começavam a tomar rumo praticamente sozinhos.
Que porra estava acontecendo? Onde estava o Mestre Espião?
As sombras começaram a falar todas ao mesmo tempo, sussurrando palavras em línguas antigas e inteligíveis. Quando mais elas gritavam e sussurravam, mais nervoso Lucien ficava. Aquela merda estava começando a assustá-lo.
As gavinhas circundavam seu corpo enquanto caminhava apressado, praticamente correndo pelos corredores que pareciam nunca ter fim. Elas pareciam querer se agarrar a qualquer coisa e Lucien podia sentir seus cabelos e pijamas sendo tocados e alisados enquanto subia um lance alto de escadas.
Os sussurros ficaram mais altos e Lucien decidiu levar aquilo como sinal de que estava perto.
Dobrou cerca de dois corredores, e quando estava dobrando o terceiro sentiu um agarre firme em seu braço. Olhou e viu as gavinhas enroladas ali, lhe puxando para o lado contrário. Ele foi, morrendo me medo daquelas coisas em contato com sua pele, mas decidiu que não era a hora de se borrar. Elas o soltaram quando passou a seguir o caminho indicado.
Viu, através da névoa densa, uma luz fraca vindo por debaixo de uma porta. Torceu para que aquele fosse o quarto do espião, afinal as sombras não o levariam até ali sem motivo, não é?
Deu dois toques e nada.
Ouviu novamente o barulho de algo batendo na parede.
Entrou sem pensar duas vezes, segurando o punhal firmemente com a destra e preparado para arremessá-lo.
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Corte de Sombras e Pesadelos •LURIEL
Roman d'amourOs pesadelos eram velhos amigos de Azriel. Sempre presentes, sempre à espreita, sempre prontos para lembrá-lo de acontecimentos antigos e torturá-lo durante a noite. A questão era que Lucien também partilhava dessas mesmas amizades antigas, e sabia...