E me deu um quarto, em sua casa

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Já estavam a cerca de cento e quarenta quilômetros de Godric's Hollow, o pequeno vilarejo onde os Dursley moravam, quando Sirius desviou da estrada principal, estacionando em frente a um restaurante de beira estrada não muito distante dali. Harry se questionou se eles comeriam de novo: pelo que parecia a primeira vez em sua vida, ele não sentia a menor fome.

- Viemos buscar um amigo. Seu nome é Remus, acho que você vai gostar dele.

Remus. Harry testou as palavras na ponta da língua, decidindo que era mais um nome exótico e interessante para sua lista.

- Ele conhecia meus pais?

Harry conseguia ver o sorriso de Sirius pelo retrovisor.

- Ah, como conhecia! Estudou conosco também. Ele e sua mãe eram melhores amigos.

Dito isso, o Potter também sorriu.

Não demorou mais que dez minutos para que um homem de cabelos castanhos alto e um pouco magro demais saísse da loja, carregando algumas sacolas e uma mochila.

O rosto de seu padrinho se transformou em uma expressão que Harry não reconhecia, mas mudou rapidamente para um franzir de sobrancelhas quando o estranho chegou mais perto.

- Você não disse que só saia às cinco? Eu...

- Fui despedido. – cortou quem deveria ser Remus, com um olhar tão decepcionado que fez Harry se encolher - Não importa...

A mudança foi tão drástica que o Potter teve de se esforçar para acompanhar. Em um segundo Remus parecia prestes a cair no choro, e no segundo seguinte, quando ele abriu a porta e viu Harry no banco de trás, a insatisfação pareceu ter sumido, sendo substituída por uma combinação de reconhecimento, surpresa, choque e o mesmo que ele viu nos olhos do padrinho, na primeira vez que se encontraram, mas que não soube nomear.

- Ah, Meu Deus, é claro! – disse o homem – Com todas as outras coisas eu quase esqueci que você tinha aceitado vir com Sirius. É um prazer te ver de novo.

De novo?

- Nós nos conhecemos?

- Faz muitos anos. – ele e Sirius trocaram um olhar, menos revelador - Desculpe por não ter vindo antes. Bom, de qualquer forma, eu sou Remus Lupin.

Remus Lupin se sentou no banco da frente e estendeu uma mão para ele, que a aceitou.

- Harry Potter.

Remus soltou uma pequena risada, qualquer reminiscência de tristeza deixada para trás.

- Disso eu sei.

Após apenas mais vinte minutos de viagem eles subiram uma Serra, que terminou em um planalto com um enorme portão de ferro. Sirius desceu do carro e destrancou-o, dando a Harry a visão do que (ele imaginava) ser a casa do padrinho.

Mas chamar aquilo de casa era quase um eufemismo. Se tratava de um jardim enorme, seguido de um gramado maior ainda, seguido de uma mansão, daquelas que Harry pensava que só existiam em filmes de Hollywood.

- Eaí, Harry, o que achou? – questionou Sirius, e Potter o devolveu o olhar embasbacado.

Remus achou graça.

- Espere até ver como é lá dentro, criança.

Harry tinha acabado de descer do carro quando Sirius estendeu a mão para ele. Franziu as sobrancelhas, confuso com o gesto. Eles já se conheciam, certo? Para que um aperto de mãos?

- Venha. – insistiu ele, balançando levemente a mão em questão.

Quase desconfiado, Harry colocou a mãe na do padrinho, e se surpreendeu quando foi puxado por ela. Já havia dado três passos quando compreendeu o gesto: Sirius estava dando as mãos a ele, igual tia Petúnia fazia com Duda quando atravessava a avenida. Foi um pouco estranho no começo, Harry sentindo que sua mão suava mais do que deveria, mas após uns dez passos – o percurso era grande – a estranheza se transformou em outra coisa. Uma coisa que ele não se lembrava de ter sentido antes, que queimava em seu estômago. Que o fazia querer que aquele momento, caminhando sobre a grama fresca e ensolarada junto com o cara das botas legais, durasse para sempre. A coisa que ele viu nos olhos de seu padrinho e de Remus quando o viram pela primeira vez.

The kid you used to beOnde histórias criam vida. Descubra agora