Que eu eventualmente aceitei guardar

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A mansão Black não era a mesma sem Remus Lupin. Talvez, em grande parte, porque Sirius Black não era o mesmo sem Remus Lupin.

Depois daquele fatídico dia, seu padrinho explicara a ele que tio Lupin tinha sido mordido quando era criança, e se transformava todo mês desde então, mas somente na noite de lua cheia e sem machucar ninguém além dele mesmo.

"Mas eu entendo que você tenha medo, é tudo muito novo" ele dissera "tio Moony vai passar uns tempos em outro lugar por enquanto".

Harry assentiu na ocasião, e tinha sido isso. O padrinho não voltou a tocar no assunto, e parecia muito determinado a disfarçar qualquer incômodo, o que não impedia Harry de notar as olheiras roxas embaixo de seus olhos, ou as unhas do polegar roídas até a carne.

Se fosse para ser totalmente sincero, Harry sentia falta de tio Lupin também. Ele quase se ressentia dele, por ter sido o único exemplo de um adulto calmo e paciente e normal que ele já tivera, e então subitamente ter revelado um segredo desses e saído de sua vida.

Por essas e por outras que, quando Sirius o acordou às cinco da manhã de um sábado, quase um mês depois de Remus ter ido embora, entregando a Harry um copo de leite e pedindo que o menino fosse imediatamente com ele até o carro, ele não questionou.

Era o tom de voz mais preocupado que Harry já tinha ouvido sair da boca de seu padrinho.

Harry já tinha bebido todo o leite quando eles estacionaram na frente de um prédio verde, os dois subindo as escadas até o terceiro andar. Sirius tirou uma chave do bolso, e eles entraram em uma pequena sala, com um sofá marrom abarrotado e uma estante de livros.

Seu padrinho imediatamente se voltou para o curto corredor e abriu a porta do que devia ser o quarto. Harry foi atrás dele, mais devagar, e espiou o que acontecia lá dentro.

Sirius corria os dedos pelo cabelo de tio Lupin, segurando a cabeça dele contra seu peito.

Harry perdeu o fôlego.

Remus estava deitado em uma cama, no canto do cômodo. Havia muito, muito sangue. Mais sangue do que Harry já tinha visto. Mais sangue do que ele achava que alguém podia ter.

Os olhos dos dois se encontraram por um milésimo de segundo, e Harry voltou a se esconder atrás da parede.

Ele ouviu um suspiro frustrado vindo de dentro do quarto. 

- Por que você trouxe ele?

- Eu não podia deixa-lo em casa sozinho. É sábado.

- Então era melhor não ter vindo.

- Remus – a voz de Sirius relatava cansaço – Eu nunca te vi tão mal desde... Sei lá, o quarto ano? Não sei nem se consigo resolver isso, quem dirá você sozinho. Talvez precisemos chamar a Madame Pomfrey...

- Não. Está tudo bem, só termine as poções e pegue aquelas talas. Ali. Depois pode ir embora.

Houve um longo silêncio preenchido somete pelo barulho de potes se abrindo e algo borbulhando, antes que Sirius continuasse, a voz perigosamente lenta.

- Isso é por causa da rejeição dele, não é? Você está achando que merece os cortes.

- Cale a boca, Sirius.

- Isso não é racional. Harry é uma criança, é só uma questão de tempo até ele processar melhor a informação...

- Ele é o filho de James e Lily. E ele me odeia. – o tom era aguado e fino, como se pudesse quebrar – E eu nem posso culpa-lo.

The kid you used to beOnde histórias criam vida. Descubra agora