Tiveram paciência comigo, quando eu não tive

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Duda tinha insônia.

Harry não se lembrava bem o porquê, nem quando começou, mas o fato era que Petúnia sentava ao lado da cama de seu primo todas as noites, pontualmente às 9:15, e só ia embora depois da onze.

Harry sabia disso majoritariamente porque também tinha o sono conturbado e dificilmente pegava no sono antes da meia noite, mas como fora mais do que bem ensinado, nada na casa dos Dursey dizia respeito a um Potter como ele.

Sendo assim, quando o filho único dos Dursley finalmente dormia, era decretado silêncio absoluto na casa. Nenhum passo, espirro ou trancar de porta era autorizado. Murmura durante os sonhos? Problema seu, arrume um jeito disso parar. Precisa buscar um copo de água na cozinha? Melhor ficar com sede.

Tudo podia esperar até as sete, quando Duda enfim acordaria.

Retornando ao presente, que é o que importa, Harry queria muito fazer xixi.

Possuía a rígida rotina de sempre ir ao banheiro antes de dormir, mas algo no conforto da nova casa e na presença do padrinho o fez baixar a guarda e esquecer desse velho costume. Se penalizava agora, por isso e pelo grande copo de água vazio em sua cômoda, observando o relógio da cabeceira enquanto os minutos passavam excruciantemente devagar. Não faltava muito para o amanhecer, se pudesse ao menos esperar mais uma hora...

Sabia que a casa era grande e que o banheiro ficava logo no fim do corredor, então havia uma chance considerável de ir e voltar sem que ninguém percebesse. Mas também sentia seu coração querer sair pela boca só de pensar na possibilidade de perceberem, e seu corpo completamente paralisado pelo medo, incapaz de sair do lugar ainda que o cérebro ordenasse.

Ele não queria fazer aquilo ali. Não naquele colchão novinho em folha, não na colcha que era trocada todo mês. Não quando já tinha oito anos, não quando os adultos o olhariam com desgosto, com razão. Quanto mais pensava pior ficava, até que ele se viu obrigado a cobrir a boca com a fofa manga do pijama para abafar os soluços.

Isso fora outra coisa que a insônia de Duda o causara: a capacidade de chorar sem emitir absolutamente nenhum som. Ele não sabia ao certo se isso era bom ou ruim.

Incapaz de se desviar mais da questão, Harry precisava muito, muito fazer xixi.

Ele só parou de chorar quando ouviu o despertador de Sirius e Remus tocar.


- Bom dia, Harry! Hora de acordar.

O Potter teve a decência de fingir que estava dormindo enquanto Sirius abria as cortinas, a claridade invadindo o quarto de maneira normalmente acolhedora. Hoje, não. Hoje ela denunciava o crime e o decretava culpado.

Se sentou e dobrou parte da colcha, de maneira que escondesse os vestígios de maneia temporária.

- Pode deixar que eu me troco e desço até a cozinha. Para tomar café. – disse, na esperança de que o padrinho saísse o mais rápido possível do recinto.

- Tudo bem pequeno Prongs, só não demore muito ou as panquecas de Remus vão esfriar.

Ele foi até Harry e beijou sua cabeça, o que fez o garoto murchar, se sentindo péssimo. Terrivelmente não merecedor daquele gesto, quando tudo ao seu redor era sorrateiramente frio e molhado.

Sirius franziu as sobrancelhas, uma pergunta na ponta da língua, mas Harry fingiu um bocejo, o que pareceu convencê-lo a enfim se retirar.

Agora vinha a parte realmente difícil. O que ele ia fazer?

Olhou para o copo na cômoda novamente, considerando fingir que derramara água. Mas aquilo não ia adiantar, afinal, água não tem cheiro.

Se sentia péssimo, péssimo, péssimo.

The kid you used to beOnde histórias criam vida. Descubra agora