2 - Renegados do céu

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Parado no coração silencioso da floresta, ele encaixou a flecha no arco e fechou os olhos

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Parado no coração silencioso da floresta, ele encaixou a flecha no arco e fechou os olhos.

A escuridão no interior das pálpebras o puxou para o âmago dos seus sentidos. Ele sentiu a mistura do cheiro das árvores, o deslizar sorumbático da neblina que cobria as encostas das montanhas, a umidade gelada que penetrava no couro das roupas e das botas.

Foi mais fundo na concentração, captando cada som, desde o farfalhar das folhas até o deslizar do riacho mais distante; e só respirou quando ouviu os passos inocentes que queria ouvir.

Ikaris abriu os olhos e se virou na direção exata do som; a flecha zuniu ao ser disparada.

O último som que o cervo fez antes de tombar sobre a terra foi um suspiro que se perdeu na névoa e na mata.

Ikaris prendeu o arco nas costas, junto à aljava, e caminhou até a presa. Retirou a flecha, limpou-a e a guardou com as demais.

Jogando o cervo morto nos ombros, ele seguiu pela trilha escorregadia, retornando para o lugar que era obrigado a chamar de "casa" desde que todo seu povo havia sido isolado ali sob leis rígidas e inquebráveis.

Para onde olhava, a névoa era uma presença constante. As montanhas onde vivia com seu povo eram inóspitas, úmidas e frias; mesmo durante o dia, era quase impossível receber um beijo do sol.

— Dê de comer aos mais fracos — ele falou, lançando o servo sobre o balcão de Darlan, o responsável pela distribuição dos alimentos.

— Como conseguiu caçá-lo com o tempo nestas condições?

— Apenas me concentrei até ouvi-lo.

Linhas nostálgicas se espalharam pelo rosto de Darlan.

— Ah, nos tempos gloriosos, nos tempos em que os céus nos pertenciam, os erelins costumavam...

— Os tempos gloriosos para nossa raça já se acabaram — Ikaris o cortou com rispidez; não tinha paciência nem vontade para ouvir velhas histórias que nada mais eram do que um eco naquelas montanhas solitárias. — Se não morrermos de fome ou frio, já estaremos ganhando.

Darlan se retraiu e começou a limpar o cervo.

Dando-lhe as costas, Ikaris continuou seguindo por seu caminho, sorvendo a imagem das casas feitas de pedras rudimentares e madeira; não havia nada de glória ou beleza ali.

Nada aqui se parece com a Cidadela Prateada.

As antigas histórias contavam que os erelins eram homens e mulheres de aparência divina; tão belos que bastava um olhar para diferenciá-los dos humanos comuns. Possuíam asas grandes nas costas, cujas cores variavam entre branco, prata e dourado. Os erelins puros se destacavam sobre os mestiços em vários aspectos; mesmo assim, era como se toda a raça houvesse recebido um beijo das estrelas.

Mas, assim como as montanhas sórdidas, tudo o que restara para os que haviam sobrevivido à guerra e para os que nasciam ali era somente uma herança rudimentar do passado.

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