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"No momento, as coisas estão meio loucas

E eu não sei como parar ou diminuir o ritmo disso"

 (Never Be Alone – Shawn Mendes)


Minha professora de cognição social está me encarando

E eu com certeza a entendo, mesmo que por alguns minutos pense que a culpa não é minha de fato. É claro que o fato de eu ter aceitado a bebida cor de rosa bonitinha que minha amiga me ofereceu enquanto eu tentava me manter acordada foi culpa minha.

Eu não deveria, mas fiz mesmo assim

Mas a culpa não é toda minha - eu penso enquanto tento focar os meus olhos na prova diante de mim e não na professora com olhos de águia – a culpa foi do meu irmão que me acordou de madrugada para perguntar sobre as chaves de seu carro

- Está tendo alguma dificuldade srta. Thompson? – merda, merda. Inspiro e pigarreio ao mesmo tempo enquanto subo o olhar da prova para o rosto desconfiado da professora

Jennifer geralmente não era tão má assim, na verdade eu até gostava dela, dos seus cabelos claros e cacheados que sempre saiam debaixo do elástico preto que ela usava todos os dias, e até mesmo de suas unhas ridiculamente grandes e pintadas de forma colorida, como se ela quisesse sequestrar a atenção das pessoas para sua mão com um belíssimo anel de noivado. Mas hoje? Hoje eu não estava apreciando seu senso de dever comigo, ela bem que poderia simplesmente me ignorar e sorrir quando eu entregasse a prova a ela

Se eu conseguisse finalizar a prova, é claro

- Não senhora – eu falo suavizando a voz e fazendo questão de olhar em seus olhos – Somente tive uma noite ruim de sono, fora isso estou bem

- Ótimo – ela diz e sorri batendo com a unha em cima da prova – Qualquer dúvida estou aqui

Balanço a cabeça concordando e exalo silenciosamente quando ela se vira de costas para mim. Olho na direção de Sean e o vejo rindo com a mão na boca abafando o som, reviro os olhos e movimento os ombros.

Hora de focar na prova, eu tinha estudado a semana inteira para ela, tinha passado noites em claro fazendo anotações sobre tudo, inclusive sobre as intervenções

Eu conseguiria, viveria para contar história e não seria uma professora emburrada – provavelmente pensando que eu estivesse de ressaca – que mudaria esse fato.


––––––––


- E então, como foi? – Lucy pergunta jogando sua sacola com besteiras dentro na minha frente em cima da mesa de metal e eu franzo o cenho ouvindo o barulho ecoar em minha cabeça como uma maldita sirene estressante

- Horrível – respondo depois de o barulho cessar e minha cabeça voltar a funcionar. Lucy percebe a demora e sorri cruelmente

Ela sabe que eu provavelmente irei passar a tarde inteira de folga dormindo e sabe também que o que irá me salvar hoje de manhã para que eu consiga ir as aulas até três horas da tarde, é aqueles lanches miseráveis com gosto de óleo que ela compra sempre que passa em frente da lanchonete

- Sabe, eu jurava que alguém tinha dito que não tinha bebido muito noite passada – ela pontua mexendo nos lanches e em um piscar de olhos ela está segurando um enorme hamburguer com bacon

LYRIC: O Caos do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora