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Vejo esta vida como uma videira que balança. Balança meu coração além do limite E no meu rosto está aparecendo sinais. Procure e você deve encontrar 

(Counting Stars - One Republic)


- Eu vou vomitar – Georgia avisa e eu seguro seu braço praticamente a carregando para dentro da sala onde teríamos a reunião em alguns minutos. Coloco-a sentada em uma cadeira e corro para o bebedouro enchendo um copo descartável com água gelada

- Aqui – falo e estendo o copo, ela agarra e bebe dois goles seguidos – Você foi maravilhosamente bem Georgia – falo orgulhosa e ela solta um gemido enfiando a cabeça no meio das pernas

- Porque fez aquilo? Estávamos quase indo embora

- Pensei que tinha apertado minha mão com a intenção de notificar que queria ser apresentada – falo piscando os olhos fingindo confusão. Georgia levanta a cabeça abruptamente fazendo com que fios de seu cabelo grisalho se soltem do rabo de cavalo

- Eu não fiz isso

- Ah não? – pergunto e suspiro – Puxa vida, sinto muito, traduzi errado

Georgia me encara e eu sorrio discretamente, ela percebe o sinal e revira os olhos bufando

- Você é uma pessoa péssima

- Uma pessoa péssima não conseguiria fazer com que você falasse com aqueles caras de gravata engomada e nem que respondesse perguntas que até eu fiquei confusa

Ela ri balançando a cabeça e eu sorrio me sentando ao seu lado, ela me olha de lado e suspira

- Obrigada – ela fala baixinho e eu aceno assentido, me viro quando escuto a porta se abrir e sorrio para os novos integrantes que estão começando a chegar. Me viro uma última vez para Georgia e a vejo franzir o cenho, se encolhendo novamente

- Não se esqueça Georgia – falo baixinho e ela se vira para mim – Toda grande mudança começa com um passo pequeno, não pule fases, curta-as um pouco. Admire o ponto em que está, não apresse, não tem motivo para correr contra o tempo. Tudo bem?

Georgia morde o lábio e acena fracamente, aperto sua mão e me levanto recebendo os outros. Eles sorriem vindo apertar minha mão e eu tento ouvir cada um, fazendo anotações mentais de seus avanços

- Hoje irá ter biscoitinhos? – Jacob pergunta e eu me viro para ele colocando as mãos na cintura, em uma pose de recriminação

- Ficarei extremamente magoada se disser que vem até aqui somente pelos biscoitinhos

- Mas ficará feliz também – ele aponta e eu estreito os olhos

- Pelo que?

- Pelo fato de eu ter sido sincero

Todos riem e eu reviro os olhos indo até a minha mesa. Mas quando me viro sorrio. Ele tinha razão, eu gostei da sinceridade


––––––––


- Srta. Thompson? – paro de anotar as observações sobre Georgia e me viro para a porta encontrando Lewis na porta – Posso entrar?

- Claro – falo e aponto para a cadeira a minha frente, ele se senta e vejo ele observar os desenhos que fizemos hoje. A proposta tinha sido simples, desenhar o que estava sentindo depois de cada um contar o que tinha acontecido em sua semana que desejava compartilhar

Tinha mais de dez desenhos contando a vida de cada um, e a parede da sala estava decorada mais uma vez. Lewis sorri quando olha o último desenho e eu olho na mesma direção. Um deles tinha pintado um restaurante elegante da cidade, mas ao invés dele estar lá dentro, ela estava fora, do outro lado da rua sentado em um banco e desenhando o restaurante. Ele também retratou isso

Era um artista

- Ninguém pode questionar a criatividade deles, isso é fato – Lewis comenta e eu balanço a cabeça negando. Ele se vira para mim e eu me preparo – Tem algo que eu gostaria de perguntar a você

- Ok – eu falo receosa e o vejo puxar uma respiração. Lewis Richard não era um homem comum, cabelos pretos com somente algumas mechas prateadas, barba cobrindo metade de seu rosto e um olhar de quem sabia bem o que estava fazendo

Sua mulher também concordava comigo, mesmo que tenha acrescentado que ele não sabia de tudo todas as vezes, somente algumas partes. Sorrio com a lembrança e o vejo sorrir para mim, sempre gentil

- Os avaliadores perguntaram muito sobre você – ele começa e eu faço uma careta tentando não me encolher na cadeira

- Eles questionaram minha posição aqui na clinica por eu ainda ser uma estudante?

- No começo sim – Lewis responde e depois se reclina na cadeira – Mas eu expliquei a eles o que você estava fazendo aqui nesse último ano, e mostrei seus projetos, suas notas e tudo o que envolve a faculdade

- Ah

- Pois é, foi bem fácil. A sua faculdade tem um carinho insistente por você

- Insistente? Que palavra estranha – comento e ele ri alisando seu jaleco

- Estou tentando fazer com que eles larguem do seu pé sobre o grande projeto de doutorado que estão oferecendo a você

Desvio o olhar pigarreando e abro e fecho a tampinha da caneta preta, o som repercute pela sala e Lewis interrompe meus movimentos

- Ainda não se decidiu?

- Não – respondo com sinceridade – A ideia é muito atraente, mas o programa de doutorado vai sugar toda a minha semana, inclusive vai sugar minha alma. Isso é um perigo

Lewis ri de novo e se estica, como se todo o peso do trabalho da tarde estivesse cobrando seu preço

- Não tenha pressa em decidir, seu lugar aqui está garantido – ele responde e eu estreito os olhos

- Tem certeza? E o que os avaliadores queriam perguntando sobre mim?

- Saber sua ficha completa, o que pode fazer, em que áreas pode atuar. Esse tipo de coisa

Fico em silencio e ele se levanta com um sorriso tranquilo em seu rosto

- A pergunta que eu queria fazer era se você estava disposta a cuidar do caso de John Finney – franzo a testa tentando relembrar de onde ouvi esse nome e Lewis percebe – O menino da ponte

Ah sim

- Espere – eu falo também me levantando – Você quer que eu assuma um caso de tentativa de suicídio?

- Quero

- Porque? – pergunto tento não parecer chocada e ele levanta um ombro antes de ir até o quadro de desenhos

- Ele tem alguns vícios, com bebidas e drogas. Achei que gostaria de ficar com esse caso, já que é a sua área de pesquisa

Pressiono os lábios indecisa. Porque a verdade é que sim, eu gostaria de ficar com esse caso, gostaria muito. Mas a pergunta era: Eu estava preparada para isso?

- Está depositando muita fé em mim – comento baixinho e Lewis se vira para mim

- Estou e antes que pergunte, sim, eu acredito que consiga

Olho para os desenhos na parede e sinto um aperto em meu peito, lembrando de todos no chão desenhando, animados enquanto conversavam uns com os outros

Era isso que eu fazia, lhes dava uma nova chance, lhes dava uma nova oportunidade de responder as questões que antes não estavam respondidas

- Tudo bem – respondo e Lewis sorri parecendo orgulhoso

- Ele virá semana que vem, prepare-se. E saiba – ele avisa enquanto desliza uma pasta marrom em minha direção – Você estará apenas no grupo de apoio, eu e outra psicóloga estará assumindo o caso, você nos auxiliará, tudo bem?

- Pode deixar

LYRIC: O Caos do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora