Capítulo 1 - Torres Eólicas

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Samara Reis

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Samara Reis

O motor do carro ronca, protestando por estar em atividade por tantas horas, batuco as unhas roídas na mesma sincronia que a música agitada adentra em meus tímpanos, usando o fone de ouvido verde água como instrumento para tal ação.

"Estamos indo para casa", a fala do meu pai tratava-se apenas de mais uma afirmativa tola para camuflar o verdadeiro motivo de estarmos saindo às pressas da capital pernambucana para um lugarzinho que tampouco é encontrado no google maps. Vou contar duas razões para alguém, em seu juízo perfeito, se mudar para Serra dos Cataventos: ou você nasce e é obrigado a continuar morando aqui, pelos infortúnios da vida ou você está fugindo de algo.

E realmente estamos. Escapando. Fugindo. Ignorando, para o meu bem, aparentemente. Mas bom, Serra dos Cataventos não é meu lar e jamais será.

Um frio repentino rodopia meu estômago, fazendo cócegas desconfortáveis à medida que subimos uma ladeira íngreme, já consigo admirar os restantes raios de fim de tarde reluzir na pradaria verde limão que aloja enormes torres eólicas dispostas longe uma da outra, impotentes, gigantescas, belas e sincronizadas por uma corrente de ar mediana.

Ao longe e circulando toda a micro montanha, onde o município foi estabelecido, encontram- se árvores altíssimas e arcaicas, cheias de galhos grossos que estranhamente lembram soldados prontos para proteger uma causa.

Uma placa larga de madeira tem sua superfície talhada com o dizer: Bem-vindo a Serra dos Cataventos, terra de ar limpo e possibilidades. Há detalhes em verde e espirais brancas desenhadas, além de trepadeiras rebeldes contornarem o lado direito e nem se enfeitarem com glitter e plumas esconderia o quão antiga e degradada se encontra.

Da mesma maneira que a paisagem de grama límpida surgiu, desapareceu, dando espaço para casinhas arquitetadas delicadamente no estilo clássico holandês com telhados alaranjados e enormes jardins que são protegidos por cercas claras, a verdadeira Gramado nordestina.

Sua intersecção fica entre Pernambuco e a Paraíba, há dias amenos, outros de sol agressivo - onde muitos locais se aventuram nas cachoeiras, pedreiras e riachos - e aqueles onde o frio está tão alojado que se assemelha muito ao clima sulista da cidade turística. Este é um desses dias, onde o queixo treme e bate freneticamente, puxo um moletom da mesma cor que meus fones de ouvido, enfiando-me o mais rápido possível dentro dele, como meus pais querem que uma recifense se acostume com esse maldito ar gelado?!

- Senti tanta saudades desse lug... - Interrompo os devaneios do meu pai.

- Não poluído? - Pergunto sarcasticamente.

- Também. - Riu mamãe. - Também senti falta, querido. - Reviro meus olhos ao ver os lábios pintados de liptint da minha mãe encostar na bochecha magricela de Augusto Reis.

Ambos eram a definição mais pura e verídica de "alma gêmea", se é que isso existe. Se conheciam desde a infância, vizinhos de quintal, estudaram juntos no primário e, obviamente, na única escola pública que disponibiliza ensino médio neste fim de mundo. Por incrível que pareça minha mãe só conseguiu notar o "brilhantismo" do meu pai, com interesse amoroso, quando tiveram que conviver na casa do estudante da Universidade Federal de Pernambuco, o nerdola apaixonado por engenharia elétrica e a perfeitinha garota que sente uma estranha excitação pela mente humana e suas malditas complexidades.

Crescer sendo obrigada a saber o que causa um curto circuito e indispensáveis "reuniões familiares" para saber como anda minha confusa mente juvenil, foi cansativo, mas olha só... Estou aqui, viva e pronta para morrer de tédio em uma pacata cidade cheia de "possibilidades".

- Por Deus Augusto, olhe lá! - Minha mãe grita empolgada, apontando para uma extensa praça em frente a uma igreja antiga, erguida por pedras largas e cinzentas, com uma torre clássica abrigando um sino dourado. Por perto crescia um aglomerado de pessoas, jovens, crianças, adultos e idosos, segurando ou prendendo bandeirinhas juninas em fios brancos para logo, logo serem estendidas no alto, junto a balões coloridos e enfeites de São João.

- Bandeirolas, iupe... - Finjo animação.

- Que tal pararmos para um churros? - Gostaria de negar, mas minha barriga roncando faz com que eu permaneça de bico fechado.

Sento no banco frio da praça, tentando ignorar os olhares curiosos que vieram todos em nossa direção, coloco meus cabelos loiros um pouco para frente, o jeito mais falho e tosco de esconder meu rosto. Mordo a massa salpicada de canela e açúcar, jurando que verdadeiramente era o melhor doce de leite que já havia provado durante todos os meus limitados dezessete anos. Minha vergonha e cautela foi toda por água abaixo quando ataco meu quinto churros, isso é dos deuses! E quando olho para o céu, me deixo admirar a redonda lua platinada que se encontra em seu auge, suspiro entorpecida pela quantidade de estrelas que podem ser vistas daqui, parando somente quando um pulsar incômodo faz minha nuca latejar e minha visão bambear, talvez minha pressão estivesse caindo.  

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Olá non magi ou místicos, espero que tenham gostado do primeiro capítulo, no início vai ser um pouco parado porque é meio que uma apresentação dos perfis dos personagens, mas confiem no processo hahaha! 

Se possível, aperta na estrelinha, comenta as partes mais legais e interajam com os personagens (eu adoraria trocar uma ideias com vocês) e compartilhem essa história :) 

Ps.: A história, a base dela, foi fruto de muitos momentos lendo livros e fanfics, escutando música, fazendo cocô kakakakak e assistindo desenhos e filmes no auge dos meus 9 para 10 anos - ou até mesmo antes, apenas não conseguia entender se era realmente uma ideia para um livro ou brincadeira de faz de conta com minhas irmãs -. Porém, obviamente está sendo escrita de uma forma mais madura e que se adeque ao leitores que desejo alcançar. Haverá uma revisão futuramente, principalmente de possíveis erros ortográficos, desde já, desculpa e obrigada sz. 

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