Capítulo 5 - Proposta irrecusável

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Adela Sean

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Adela Sean

Sinto um ardente desejo de dizer a Ava que ela não era as coisas que provavelmente estão rondando seu subconsciente, contudo não encontro palavras capazes de serem ditas em voz alta, então pergunto:

- De quem será que estão falando?

- Não sei, mas precisamos descobrir... Se chegarmos mais perto, talvez - Interrompo.

- Vão nos ver. - Afirmo o óbvio, meu pai me mataria se apenas suspeitasse que estou aqui, espionando uma cena de crime, ou fazendo qualquer coisa que fuja do seu roteiro de família perfeita. - Sabe o que mais me intriga? - Ela nega com um gesto de cabeça. - Por quê o Tadeu? Ele era o troll que mais evitava desavenças, não consigo imaginar um motivo para isso ter acontecido.

- É por que não há razões para alguém tirar a vida de outra, Ade. - Pontua, de forma sensata.

- Mas que merda! - Exclamo baixinho ao olhar o relógio digital, a tela azulada evidenciava que já passava das sete e quarenta e cinco.

Fudeu. - Xinga também.


Estamos a ponto de não poder entrar na escola e faltas significam ligações para os pais, o que vou explicar? "Ai pai, matei aula porque estava fingindo ser uma espiã e tentando descobrir coisas que claramente eu não posso saber, já que você não me conta". Nos olhamos e instintivamente concordamos que precisamos sair daqui urgentemente.

Odeio pedalar na velocidade que preciso nesses momentos entre o sufoco e a desgraça, sou uma sereia, meu habitat de conforto é a água, não em cima de uma bicicleta que exige esforço nas pernas, como as malditas aulas de ballet.

Quando passo pelos portões que estavam prestes a serem fechados, me permito controlar minha respiração e enxugar o suor que escorre na lateral da minha testa, odeio a forma com que Salmon me arrasta para suas loucuras imprevisíveis, mas adoro fazer parte delas.

Deslizamos pelos corredores vazios, fugindo da coordenadora ou dos vigias que averiguam se os alunos não estão fora da sala. Tento entrar no laboratório, todavia, aparentemente, Ava pensa em fazer isso em sincronia a mim, rendendo vários empurrões e murmúrios provocativos, no fim, ambas entramos.

Consigo flagrar no exato instante que os olhos de Tata, a garota indígena, pesam para minhas botas brancas que carregam provas de nossa rebeldia. Em uma tentativa calculada, arrumo minha postura, fazendo meu corpo ficar retilíneo e massageio meus cachos volumosos, caminho em direção aos materiais de proteção que o novo professor pediu para vestirmos.

Estico a mão, pegando a água oxigenada que a adolescente com pintinhas claras espalhadas na região do nariz afilado oferece. Ela tem "aquela expressão" impregnada em suas feições, o que faz minha ansiedade assobiar em meu estômago, resolvo perguntar sem rodeio:

- O que sua maldita mente perversa está planejando? - Arqueio uma das minhas sobrancelhas. - Adicione o detergente, por favor. - Peço.

- Eu? Planejando? - Se faz de sonsa, me pergunto se seria um ato violento enfiar as mãos magricelas dela dentro do pote de Iodeto de Potássio.

- Você está com "aquela expressão". - Faço aspas com as mãos.

- Não estou com "aquela expressão". - Repete os gestos. - Pera aí, de que expressão estamos falando? - Interroga indignada.

- Menos conversa e mais prática, meninas. - Diego repreende.

- A cara que você sempre faz quando vamos nos enfiar em mais um dos seus planos toscos. - Vejo-a adicionar sal ácido iodídrico.

- Deveríamos ir ao necrotério, antes da necropsia. - Como se o destino tentasse avisar que essa era uma péssima ideia, nossa Pasta de Dente de Elefante começa a ascender descontroladamente, até finalmente eclodir, por sorte nos afastamos tempo o bastante para não termos contato com os materiais químicos.

- O quê?! - Grito ao mesmo tempo que toda a bagunça termina. - Você está louca Ava Salmon! - A sirene anuncia que a aula havia acabado, todos olhavam-nos curiosos, fazendo com que eu note, finalmente, traços jamais frequentados em Serra dos Cataventos.


Piso firmemente meus pés, fazendo com que eles sejam vítimas da minha demasiada vontade de voar em cima da minha melhor amiga, repito de maneira esganiçada:

- Você está louca, biruta, seu cérebro derreteu quando fez essa mecha platinada!

- Adele, fala baixo. - Exige, envergonhada, mas eu sinceramente gostaria de manda-la para o raio que a partisse.

- Você me pede para ser cúmplice de um crime e ainda exige cautela?!

- Você não precisa ir, tá bom? Eu vou entender completamente se não quiser arriscar. - Assegura, com um tom de voz passivo, suspiro mergulhada em dúvida. - Aula de Educação Física, vamos trocar de roupa? - Encaro uma de suas maiores inseguranças, os olhos vítimas de uma rara condição. A falta de melanina fez com que uma de sua íris nascesse azul, não um vivo como os da novata, mais opaco, puxado para o cinza e com pequenas gotas do castanho âmbar da sua íris normal. A heterocromia por anos foi a causa de cenas constrangedoras pelo que passou, a marca do trauma ainda permanece - mesmo que velado -, aposto que ela não saber que sei os verdadeiros motivos por ter pintado essa pequena parte do cabelo ou de sempre permitir que os fios tomem conta do lado direito de sua face.

- Como vamos parar no hospital? - Pergunto cedendo ao plano que com certeza daria errado. 

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