Capítulo 7 - Promessa

2 1 0
                                    

Adela Sean

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Adela Sean

Sinto as imagens invadirem meu hipocampo como relâmpagos violentos, essa parte do cérebro responsável pelas lembranças tenta sem cessar evitar que polua-se com tal cena. Belisco meu antebraço, tentando manter a razão acima da vontade de gritar e sair correndo, não conhecemos muito da Sect, contudo a mísera informação que foi permitido nos dar é capaz de atormentar vinte gerações minhas.

Tratam-se de uma seita milenar, pregavam tudo, menos a paz, na verdade acredito que para eles há apenas uma regra: ser sádico. Tenho o privilégio de nunca ter cruzado o caminho de um deles, meus pais me protegem de festas e bebidas, quanto mais desse agrupado de místicos metidos a "Nazaré Tedesco". Mas pela Fé, o que estão fazendo aqui? Por que flagelaram e roubaram a vida de um dos nossos? Não há um código restrito para evitar essas situações? A quem quero enganar, Sect não seguem regras, quebram-as.

Aurora, sábia bruxa e avó de Ava, costuma cantarolar para terra, ar e todos aqueles que possuem uma audição boa, que: No mundo, os bons e maus pairam em conjunto. Aparentemente o lado negativo dessa reflexão está caminhando demais por Serra dos Cataventos, tão perto de nós que meu corpo reage automaticamente - ficando em alerta constante.

A porta abre-se sem aviso prévio, fazendo um chiado estridente, Salmon fecha a gaveta metalizada com brutalidade, mesmo que essa atitude fosse o passe livre para chamar mais atenção. Incapaz de falar, ouço minha amiga perguntar com um tom ameaçador:

- O que diabos você está fazendo aqui Ruth?! - De fato, a menina de saúde frágil e ascendência asiática nos admira petrificada. Sabemos muito bem quem é a mesma, estudamos juntas desde o primário, porém jamais tivemos uma vivência que não passasse de saudações educadas.

-  O-o que vocês estão fazendo aqui? - O timbre falhado e pouco confiante evidencia seu medo, ou cautela. Percebo finalmente que fomos pegas, não por qualquer pessoa, mas por Ruth Alves. Cristã, devota assídua, ou seja, zero mentiras.

- Precisamos ir, Ava. - Sussurro, enrolando meu dedo indicador em um dos meus cachos crespos. Quanto tempo temos para conseguir um álibi? Posso dizer que estava na casa de Fernando, que droga ele tem aula de natação agora! - Ruth, podemos explicar. - Digo, tentando pensar em uma desculpa aceitável ao ponto de fazê-la fechar essa matraca.

- Explicar que estão em uma ala proibida e de CADÁVER?! - Se exalta na última parte, quando finalmente parece notar o óbvio: estamos em uma sala cheia de corpos. E, aparentemente, minha lucidez retorna, eu - a filha do prefeito - estou me envolvendo em um assunto restrito às autoridades locais. Quão ruim, de zero a dez, isso pode ser?

- Exatamente querida Ruth, e olha só... Você também está pisando em solo indevido. - Ironiza Ava Salmon, cruzando os braços. Todavia não é hora de palavras tortas e recheadas de humor duvidoso.

- Não tente fazer seus joguinhos de palavras. - Repreende Alves, parecia perder a paciência. Com certeza um dez, isso pode facilmente prejudicar as eleições do meu pai, estaríamos arruinados.

- Viemos apenas tirar dúvidas de... biologia? - No fim, parece mais uma pergunta do que uma afirmação, admiro Ava assoprar sua mecha pálida com desapontamento.

- Eu não sou tola, Adela. - Um fato verídico, Alves pode exalar inocência e bons atos, mas definitivamente não se enquadra no crime de ser uma pessoa possuída por tolice.

- Apenas bisbilhoteira. - Minha adorável colega inconsequente e olhos peculiares, provoca.

- Você não está ajudando, Salmon! - Esbravejo irritadiça, esfregando o rosto com frustração. Meu pai vai descobrir. Vai se decepcionar. Vai me odiar. Jamais vai me olhar nos olhos.

- Nada que dissermos vai anular o que ela viu, deixe-a pensar o que quiser, precisamos ir.

- Acho que sua mãe vai adorar saber que você passou para uma visita, Ava. - Ruth estava destinada a colher informações de nós duas, ou melhor, arrancá-las. Puxo todo ar, contudo este insiste em não vim ao meu encontro, minha mão treme e posso jurar que estou a beira de um colapso nervoso.

- Estou surpresa querida Ruth, pensei que faltava-lhe personalidade, bom, acho que estava escondida embaixo das saias longas e textos de pregação.

- Não insulte minha fé, seu humor ácido só vai instigar ainda mais minha curiosidade. - Começo a ficar nervosa com essa maldita discussão. Já consigo ouvir, no fundo da minha consciência, a voz de desaprovação.

- A curiosidade matou o gato. - A bruxa diz, quase aos gritos. Tento encostar em seu ombro, para impedir novas palavras de mau tom, porém a mesma dá um passo à frente, pronta para socar ou arrastar a adolescente de olhos puxados.

- Ainda bem que tenho mais quatro vidas para continuar aqui, esperando tudo - gira seu dedo em círculos desiguais - ser explicado. - Me pergunto, por meros segundos, porquê quatro e não sete, quando recordo-me levemente que três foi o exato número de vezes que precisou submeter-se a cirurgias de caráter decisivo. Vida ou morte. Toda essa pressão e picunhia faz minha cabeça girar e minha língua rasgar como chicote:

- Estamos investigando um assassinato! - Grito sem querer, tampando minha boca assim que as palavras terminam de serem ditas, assim que a ficha cai. Não falei para qualquer ser, antes fosse, abri minha idiota boca para uma Non Magi. Dei com a língua nos dentes para Ruth Alves.


Ava me olha incrédula, aposto todos os meus pijamas de seda que está procurando um feitiço onde resultaria minha morte por "causas naturais", Ruth dá dois passos para trás, medo é estampado em seu rosto. Não consigo encontrar motivos para ter aberto a verdade sobre essa situação, entretanto uma parte do meu íntimo consegue acreditar fielmente que ela não vai nos dedurar, que será nosso segredo, nossa mentira e talvez essa seja sua primeira inverdade.

- Adela eu juro que vou cortar sua garganta assim que sairmos daqui e estivermos em um lugar onde eu possa desovar seu corpo em paz! - Há possibilidades disso ser um plano a ser cumprido, não quero pensar nisso por agora.

- V-vocês estão o quê? - Murmura assustada, procurando alguma coisa no chão, talvez a sanidade depois dessa informação, que deveria ser sigilosa. Andamos até ela, que se afasta ainda mais como se nós fossemos as assassinas, seguro seu braço com firmeza, observando os arregalados olhos cor de ônix. Tão lindos e infinitos.

- Você não pode contar para ninguém, ninguém. - Diz Ava, trincando os dentes. Sua atitude e ação ameaçadora evidenciava que está com medo de perder oportunidades e confiança, assim como eu, mas como somos pessoas distintas, reagimos tal qual.

- Prometa, Ruth. - Peço, vendo-a assentir freneticamente com a cabeça. Não é o bastante, precisamos ouvir sua voz, preciso me sentir aliviada. - Prometa! - Aperto um pouco mais.

- Eu prometo. - Assegura com agilidade, puxando o braço bruscamente e passando as mãos pálidas no local dolorido. Penso em pedir desculpas por ter machucado-a, contudo me nego, perdendo para minha ansiedade de sair o mais rápido possível dessa sala fria. 

RefeitasOnde histórias criam vida. Descubra agora