Capítulo 6

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Eu cheguei à escola um segundo antes do sinal tocar. Admito que perdi a hora — outra vez. Em vez de apertar o botão soneca quando o celular despertou, eu desliguei o alarme. Sim, sou uma imbecil, pode me julgar. Nem é como se fosse a primeira vez que faço isso.

Normalmente minha mãe acorda um pouco mais tarde que eu, porque ela só precisa chegar no trabalho às nove, mas ela levanta para fazer café-da-manhã para mim. Foi ela quem me acordou meia hora depois do ideal, enquanto falava com a vovó no telefone — sim, minha avó liga às seis e meia da manhã só para garantir que minha mãe está acordada, às vezes, inclusive no final de semana.

Acabei tendo tempo apenas para tomar um banho digno do Flash, me vestir de qualquer jeito e sair correndo para a escola. Poxa, justamente no dia em que eu queria chegar mais cedo e tentar falar com o meu "namorado". Em vez disso fui direto para a aula de educação física só para me sentir completamente humilhada em uma partida de vôlei. Eu só acho que assistir séries deveria ser uma modalidade esportiva. Se assim fosse, eu já teria nota máxima garantida.

Eu já deveria saber que aqueles eram só os primeiros acontecimentos de um dia que prometia ser uma porcaria. Eu não deveria ter me enganado com uma agradável aula de português ou a normalidade da aula de química — sim, porque era completamente normal que eu não entendesse a metade da explicação e que eu me distraísse pensando em um motivo plausível para o professor Cláudio ter um gibi da Turma da Mônica Teen entre seus livros.

Eu não tinha tido tempo de falar com o Igor ainda. Talvez ele até já tivesse esquecido a nossa conversa no dia anterior. Tipo, era de se esperar que ele, sendo meu "namorado", fizesse alguma coisa quando a Andreia jogou a bola de vôlei na minha cara de uma maneira nem um pouco acidental, apesar de ela ter jurado de pé junto para a professora que não foi proposital. Eu acho que eu diria algo se minha amiga jogasse uma bola na cara do meu namorado — ainda que ele não fosse um namorado de verdade — de propósito.

Então, sim, fiquei muito surpresa quando o Igor veio falar comigo quando o sinal do intervalo tocou.

— Oi — ele falou, sentando na cadeira à minha frente, que na verdade era o lugar do Lukas, do qual ele tinha acabado de sair.

— Oi — respondi, timidamente. Tipo, os meus amigos estavam bem ali do lado, nos observando.

— Você fez os exercícios de matemática?

— Hã... Fiz.

— Você pode me emprestar? — Ele me encarou, falando de um jeito sedutor.

Certo, não é como se fosse a primeira vez que alguém pedia o meu dever para copiar. Mas geralmente era alguma das meninas e nem sempre eu emprestava. Elas só insistiam comigo porque o Lukas nunca cedia, mesmo que elas chegassem a jogar um charminho. Ele é duro na queda, já eu sou meio otária.

Mas era a primeira vez que o Igor vinha me pedir algo e eu não pensei duas vezes antes de dizer, toda derretida:

— Sim.

O Igor sorriu para mim, quase fazendo com que eu me derretesse ainda mais. Senti meu rosto ficar vermelho. Aborrecido, o Lukas resmungou:

— É sério isso, Elizabeth?

Ele me olhava entre incrédulo e irritado. E nem precisava de tanto esforço, na verdade, já que ele deixou muitíssimo claro que estava aborrecido quando me chamou pelo nome. O Lukas quase nunca me chama de "Elizabeth". Tipo, ele sabe que eu gosto do Igor e tal — eu já falei muitas vezes —, mas agiu dessa forma porque sabe que eu gastei quase toda a tarde anterior para terminar aquela atividade. E agora ia simplesmente deixar que alguém copiasse tudo pronto.

O Igor cortou o que quer que eu pudesse responder.

— Fica na sua, quatro olhos.

O Lukas apenas o encarou de cara fechada. Também não é como se fosse a primeira vez que o Igor o chamava de quatro olhos ou qualquer coisa do tipo — nerd, frangote, maricas, Garibaldo, Barbie, rato de biblioteca, bambu, esquisito, Ana Hickmann e cegueta.

— Está tudo bem, Lukas — falei tranquilamente.

Peguei o meu caderno na mochila e abri na página dos exercícios, entregando nas mãos do Igor, que sorriu para mim satisfeito. Vi quando o Lukas suspirou, frustrado, e saiu da sala sem dizer mais nada, esbarrando em algumas carteiras. A Mari me lançou um olhar desaprovador, mas não opinou, apenas seguiu o Lukas para fora da sala.

Continuei sentada onde estava por um instante.

— Vem pra cá — o Igor me convidou, quando ele ficou de pé e se dirigiu de volta para o seu lugar habitual no fundo da sala.

Sentei em uma cadeira vaga à frente da mesa dele e acompanhei surpresa a movimentação quando ele sentou em seu lugar. Todas as Vespas-do- Mar o cercaram, formando uma espécie de rodinha para copiar a lição. Certo, eu não devia estar surpresa. Eu já devia ter imaginado que todos iam usufruir do meu caderno, não apenas o Igor. Mas eu estava mesmo curiosa quanto ao sorrisinho vitorioso que ele exibia quando voltou e com a pequena algazarra de entusiasmo feita pelas garotas.

Por fim eu apenas fiquei sentada ali sendo solenemente ignorada, exceto pelo breve olhar de nojinho que a Andreia me lançou uma ou duas vezes, como se não entendesse o que eu ainda fazia ali — como se eu não fosse a droga da dona do caderno do qual todos eles reproduziam as contas. E ainda fiquei com fome, porque eu não saí da sala de aula para comer no intervalo. Pelo menos, eu tinha passado um tempo com o Igor.

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