Capítulo 2

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Coalas precisam dormir pelo menos dezoito horas por dia. Talvez meu professor de biologia discordasse de mim, mas eu acho que devo ter algo de colada no meu DNA. Porque, tipo, acordar às seis da manhã na segunda-feira foi praticamente uma tortura. Sério. E digo mais: confesso que apertei três vezes o botão soneca no celular. A verdade era que o único motivo para eu ter chegado antes das sete na escola era que meu pai me levou de carro quando saiu para trabalhar. Eu mal tinha voltado às aulas e já estava pronta para sair de férias.

Mas admito que fiquei feliz em encontrar minha melhor amiga de novo. Não que a Mariana e eu morássemos longe uma da outra. Na verdade, ela morava uma rua antes da minha. Porém, ela tinha estado ocupada todo o período de férias em um curso de verão de história da arte. Era o tipo de coisa que eu jamais faria, mas ela tinha ficado completamente fascinada porque ela gostava de desenhar, pintar e tal.

A Mari tinha me envolvido em um abraço esmagador do alto do seu 1,75 metro, quase me sufocando entre seu cabelo comprido, que estavam tingidos de ruivo.

— Você está uma bonequinha! — Ela comentou, efusiva, a respeito do meu cabelo. Certo, como se com meu 1,58 metro eu nunca tivesse escutado essa.

Ela iniciou um monólogo animado sobre o seu curso de maneira muito minuciosa — inclusive com muitas datas e termos técnicos, que eu nem desconfiava qual seria o significado — que me permitiu preencher a conversa apenas com "hum" e "a-ham" fingindo prestar atenção enquanto observava o movimento.

Permita-me dizer uma coisa: o ensino médio não é nem de longe tão glamoroso quanto você pensa quando está no ensino fundamental. Não é nem de longe tão bacana quanto parece naqueles filmes americanos. Sério. Pelo menos no último ano, eu não ouvi falar de nenhuma festa na piscina enquanto os pais viajam, poder entrar em qualquer balada ou adolescentes dirigindo carros conversíveis sob o sol, enquanto o vento bate em seus cabelos. Na verdade, a única coisa que eu notei diferença, foi na quantidade de disciplinas, que aumentaram consideravelmente.

Mas, para ser sincera, mesmo que existissem mesmo festas na piscina em mansões e tudo mais, eu definitivamente não seria convidada. Porque festas regadas a bebidas alcoólicas e drogas ilícitas até existem, assim como naqueles filmes americanos, mas eu não sou popular o bastante para ser convidada para uma dessas. Não passo nem perto de ser convidada.

Porque a minha escola, por exemplo, é dividida em grupinhos. O grupinho dos populares, que é basicamente composto pelas menininhas delicadas e bonitinhas que nasceram agraciadas por todos os quesitos em padrões de beleza e os meninos do time de futsal e de basquete. Tem o grupinho dos nerds, que são... bem, você sabe: nerds. E ok, eu até tenho notas consideravelmente boas em algumas matérias, mas definitivamente não sou inteligente o bastante para andar com eles – o que também não é exatamente ruim a julgar por todas as vezes que eles são os campeões no quesito vítima-de-zoação-dos-populares. Daí temos os grupinhos dos funkeiros, que passam o dia inteiro escutando funk sem fone de ouvido e o grupinho dos roqueiros – eu adoraria fazer parte do grupo dos roqueiros, não apenas porque eu gosto de rock, mas também porque os populares não vão lá tirar onda com eles porque acham que eles fazem rituais satânicos. E existem pessoas como eu, que não se encaixam em grupo nenhum porque são deslocadas sociais.

E as Vespas-do-Mar tinham acabado de chegar. Vespas-do-Mar é como meus amigos e eu chamamos o grupinho do pessoal popular porque a vespa-do-mar, sendo uma espécie de água-viva, não possui coração nem cérebro, mas possui um dos venenos mais mortais do reino animal. Sério, como uma das maiores párias sociais de toda a escola, eu posso garantir que o veneno que aquele grupinho destila por aí é bem poderoso.

Mas não todos. Não ele. O amor da minha vida. O Igor. Ele anda com os populares porque... bem, ele é popular e tal. Mas juro, ele não é malvado e cruel como os outros. Ele é diferente.

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