6- Passeio

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Robby Keene P.O.V

Eu o vejo, enquanto abraçava um dos garotos do seu dojô, ele parecia tão feliz. E eu percebo que a felicidade que senti  dentro do meu peito quando minha mãe falou que ele queria que eu morasse com ele, era em vão, afinal, ele já encontrou outras pessoas com quem se preocupar. Meu pai já não era mais meu pai, da mesma forma que nunca foi durante todos esses quase 17 anos.

-Robby?- ouço me chamarem enquanto eu continuo vendo meu pai, abraçado com aquele garoto, mas quando eu me viro, eu a vejo, a garota que visita meus sonhos nas últimas semanas

-Jade?- digo- O que faz aqui?- pergunto enquanto ela alarma o carro depois que um garoto sai

-Meu irmão resolveu começar a aprender caratê- ela diz- Esse é Eli- ela apresenta o irmão

-Sou Robby- me apresento a ele que apenas balança a cabeça, tímido

-Nos vemos depois, Jade- ele beija a têmpora da irmã e vai até o dojô do meu pai

-O que faz aqui?- ela pergunta

-Apenas olhando a região- digo tentando disfarçar o nervosismo por estar vendo ela de novo

-Tem algo para fazer agora?- ela pergunta e eu nego, já tinha visto tudo o que eu tinha para ver hoje- Vamos dar uma volta- ela sugere e eu assinto dando um sorriso de lado

-Está chamando um estranho para ficar sozinho com você no seu carro?- pergunto achando ela muito ingênua- E se eu for um sequestrador ou um assassino?

-Você é?- ela pergunta alarmando o carro e eu nego- Então não vejo perigo algum- ela sorri e eu sinto algo se remexer dentro do meu estômago, deve ser dor de barriga

Entro no banco do passageiro, depois de colocar o meu skate na parte de trás do seu carro. Ela vai em um drive thru, apenas para pedirmos dois milkshakes.

-Se você vai ser a motorista do nosso passeio, me deixe pelo menos pagar o seu milkshake- peço mais uma vez

-Você paga na próxima- ela diz entregando o dinheiro das duas sobremesas para a atendente

-Então vai ter uma próxima?- pergunto curioso com sua fala

-Você quer que tenha uma próxima?- ela pergunta e eu apenas balanço a cabeça levemente concordando com ela

-Odiei essa sua mania- digo e ela me olha confusa- De contornar minhas perguntas com outras perguntas

-É um costume meu- ela diz dando de ombros- Obrigada- ela diz para a atendente e pega os milkshakes, logo me entregando um

-Me fala de você- digo depois de tomar um longo gole da sobremesa gelada quando ela começa a dirigir

-O que quer saber?- ela pergunta

-Qualquer coisa sobre você- digo, ainda quero tentar entender porque achava ela tão intrigante

-Não sei o que falar- ela faz um bico fofo enquanto pensa- Tenho 16 anos, tenho apenas o Eli de irmão, sou a mais velha por meros quinze minutos, e somos apenas eu, ele e minha mãe

-E seu pai?- pergunto

-Me fale sobre você- ela diz, e eu percebo que o pai é algo complicado para ela

-Temos a mesma idade- digo e ela sorri

-Algo em comum- ela diz enquanto observa a rua

-Somos apenas eu e minha mãe, sou filho único- digo

-E seu pai?- ela faz a mesma pergunta que eu

-Você não me falou sobre o seu, eu não irei falar sobre o meu- digo e ela solta uma gargalhada gostosa de ouvir

-É justo- ela diz

-Para onde estamos indo?- pergunto

-Para onde nos conhecemos- ela diz

-Está me levando para a pista de skate que fica do lado da minha casa?- pergunto confuso e ela assente- Por que lá?

-Porque eu gosto do seu bairro, é tranquilo- ela diz

-O seu também- digo e ela faz uma careta

-Tem algo tão sufocante nesse bairro, principalmente na minha escola, mesmo lugar, mesmas pessoas, parece até sem saída- ela diz

-Sem amigos?- pergunto

-Tenho poucos, gosto de escolher as pessoas que vão estar ao meu lado- ela diz- Sou bem exigente nesse quesito

-Me escolheu como uma delas?- pergunto, ainda sem entender o motivo desse passeio, vejo ela balançar levemente a cabeça assentindo- Por que?

Ela para alguns segundos para pensar na minha pergunta, mas a resposta não vem, e então, ela começa a ficar confusa e olha para mim, ficando corada ao perceber que eu estava olhando para ela durante esse tempo

-Eu não sei- ela diz desviando o olhar e voltando a olhar para rua

Assim que ela estaciona o carro, pego meu skate que estava, e nos sentamos no capô, igual quando nos conhecemos, e ficamos observando o sol se pôr. Jogo os copos no lixo, assim que anoitece e a vejo encarando os skatistas na pista, igual ela fazia no outro dia.

-Você sabe andar?- pergunto e ela nega- Quer aprender?

-Vai me ensinar?- ela contorna minha pergunta mais uma vez, e eu abro um sorriso assentido

Ajudo ela a sair de cima do seu carro e seguro suas mãos para que ela suba no meu skate

-Com licença- digo antes de segurar firme na sua cintura, para lhe dar mais apoio

-Não me deixe cair- ela diz

Nossos olhares que antes estavam virados para o chão, se encontram assim que ela para de falar, e mais uma vez eu meu perco no azul dos seus olhos.

-Nunca vou deixar você cair- digo encarando seus olhos, mas ela desvia o olhar assim que suas bochechas ficam coradas mais uma vez naquele dia.

No MercyOnde histórias criam vida. Descubra agora