Sete "Fernanda"

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Você já fez uma coisa que nunca imaginou fazer e não falou disso nunca mais? Nunca. Pra ninguém?

Eu fiz. Bom na verdade o correto seria dizer "nós fizemos" porque afinal eu não estava sozinha lá aquela noite.

Eu vou contar pra você, mas é segredo.

Minha melhor amiga, a Luciana, se casou com melhor amigo do meu namorado, o Lucas. Então éramos quatro melhores amigos, dois casais. Um sonho. A gente se dava super bem fazia tudo junto, viajava, saía pra dançar, pra comer... Íamos à festas juntos, freqüentávamos uns as casas dos outros. E éramos dois casais apaixonados.

Existia uma cumplicidade muito grande entre nós, eu ouvia com uma certa incredulidade por exemplo, a Lu dizer que gostava quando o Lucas batia na bunda dela. Mesmo conhecendo a máxima de que "um tapinha não dói" isso não era coisa que eu quisesse experimentar.

Da mesma forma ela mostrava um determinada resignação quando eu admitia que dava o cu porque gostava. Ela não se conformava, dizia que fez uma vez e que tinha sido para nunca mais.

Coisas que tecnicamente deveriam pertencer a um casal, mas que dividíamos uma com a outra e me fazia pensar... Será que o Lucas e o Gil também falavam da gente? Eu era uma pessoa curiosa sabe? E ficava me perguntando isso às vezes.

Certo dia jantávamos juntos e contrariando todas as expectativas começou chover muito forte. Em pouco tempo havia pontos de alagamento, ficamos sem energia, um horror. Nós já tínhamos feito nossa refeição e dividíamos a segunda garrafa de vinho. Estávamos no apartamento de Luciana e Lucas e ela olhava pela janela o temporal. Eu estava sentada na sala e a observava, ela era linda e a silhueta que eu via com a luz dos relâmpagos estavam bem delineadas pelo vestido justo que ela usava. Era vermelho, uma cor que contrastava espetacularmente com a pele morena dela. E aquele corpo... Ela dançava desde criança, você sabe como são as pernas de uma pessoa que pratica tanta dança.

- É dona Fernanda. Que chuva. - Lu falou olhando para mim e sentando do meu lado, meio que encostando na minha perna. Mudei de posição para ela se acomodar melhor e aproveitei para tocar aqueles cachos negro e sedosos que ela mantinha sempre na altura do queixo. Eu amava tocar o cabelo dela. Em comparação com o meu era muito sem graça, um liso sem volume pra fazer uma trança que fosse e um castanho totalmente comum. Castanho esquilo.

-Que chuva dona Luciana...

-E o que faremos para passar o tempo já que o filme está fora de questão? - Lucas perguntou. Ele estava todo elegante, como sempre aliás. De calça social e camisa bem passada. Para jantar em casa. Sério, esse homem não existe.

Ele era o mais alto de nós, tinha o cabelo curto e a barba sempre bem feita, um rosto liso. A boca dele era linda. Ao contrario da esposa dele, ele não era um cara de exercício físico. Tinha uma barriguinha de cerveja respeitável.

O Gil era mais bonito se a gente for colocar assim. Mais forte, olhos verdes bonitos, cabelo louro claro que começava ficar branco nas têmporas, mesmo ele sendo jovem. Barba bem aparada que arranhava quando ele me chupava. Arranhava de um jeito bom... Ah para, você sabe como é.

-Jogar cartas?

-A Fernanda não enxerga nem com luz, que dirá sem. - Gil disse de bom humor sentado numa poltrona de frente pra mim, dando uma piscada.

-Bem eu mesmo né... Bem eu. - nós todos sabíamos que ele que era o problema ali.

-Acho que está escuro demais pra fazer qualquer coisa. - Lucas disse.

A Lu levantou do sofá animada,batendo palmas:

-Já sei! - os relâmpagos clareavam o ambiente ocasionalmente e eu pude ver que o que quer que ela tivesse pensado tinha deixado ela animada – Vamos retomar as aulas de dança!

Refrão Sobre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora