𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟎𝟒

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Não vou mentir, hoje eu me sentia bem.

Sei que é meio contraditório, já que a pouco tempo atrás estava quase sendo mordida por um garoto com o nome de um comediante. E a escola estava uma loucura com vários alunos mortos-vivos. Mas se pensar por outro lado, se não fosse por isso, eu nunca teria conversado com nenhum daqueles dois.

Por incrível que pareça a gente se deu muito bem. Eles não me perguntavam sobre os boatos, e nem se afastavam de mim por medo. Cheguei a cogitar a idéia que eles não soubessem sobre, mas descartei essa opção logo depois.

- Achei! - disse Sun-Young animada, em sua mão estava a marmita da enfermeira.

- Eu falei que ela sempre trás marmitas, vocês ficaram impressionadas como ela cozinha bem - Chae-soo se levantou da maca com a minha ajuda e fomos para a mesa onde Sun-Young distribuia a comida em três porções.

- Como você tem tanta certeza que ela cozinha bem? - Pergunto enfiando um pedaço gimbap na boca. E nossa, aquilo tava incrível.

- Usei um pouco do meu charme, e ela não resistiu - o garoto me mandou uma piscadinha fingindo que arrumava o cabelo, fiz uma careta e me afastei um pouco dele. Cara estranho.

- Ela deve ter te achado desnutrido, ficou com pena de um garoto da sua idade ser tão magricelo - diz Sun-Young rindo do amigo. - Caramba! Isso tá delicioso. Agora entendo porque você sempre fingia estar doente.

- Ei, cuidado com suas palavras, talvez eu tenha exagerado uma vez ou outra, mas minha cabeça estava doendo sim - Chae-soo falou com a boca aberta.

- Termina de martigar para falar, isso é nojento - me levantei e puxei minha cadeira para mais perto da garota me sentando novamente.

- Nojento? Acha isso aqui nojento, olha - ele abriu a boca vindo até mim.

- NÃO!! - Levantei e corri pela sala com ele me seguindo meio mancando. Sun-Young ria e continuava a comer o gimbap.

Até que um barulho vindo das caixas de som assustou todos na sala.

- Alunos e professores do Colégio Hyosan, aqui é a professora de inglês, Park Sun-hwa. Tem algo estranho acontecendo na escola. Alguns alunos estão atacando pessoas. Por favor, encontrem um lugar seguro e se abriguem. Se algum aluno ou professor que estiver ouvindo e  consiga, ligue para a polícia e para os bombeiros. Alunos, se escondam até a ajuda chegar. Se conseguirem sair da escola, por favor, saiam - nessas últimas frases a voz da Sra. Park já estava tremendo, ela parava e voltava a falar, dava para ver o quão assustada ela estava. - Eu repito. Alguns alunos estão... Pessoal, vocês estão bem, certo? Não se machucaram, não é? Eu não sei o que está acontecendo nem o motivo. Mesmo assim, encontrem um lugar seguro e se escondam. Não consigo ajudar. Sinto muito. Não se machuquem, ta bem? Vamos continuar vivos e nos encontrar. - Foi a última coisa dita pela professora no auto-falante.

- A Sra. Park parece que tá bem ruim. Será que estamos muito relaxados para quem esta em um apocalipse? - Perguntou Sun-Young com o rosto molhado pelas lágrimas, a garota deu um fungada e colocou seu último gimbap na boca.

- Não sabemos se é um apocalipse, até onde sei começou na escola. Então talvez ainda não tenha saído daqui. - respondo e olho pela janela do corredor, todos os ensanguentados estavam amontoados embaixo da caixa de som do corredor, tentando pegar ela com as mãos. É assim que eles são atraídos? - Temos que sair daqui, não podemos continuar parados, principalmente na enfermaria que tem muitas janelas.

- Podemos ir até a professora Park, a sala de transmissão não é tão aberta, e pode ser que mais alunos estejam indo até ela, ficar em grupos de sobreviventes é nossa única chance, até porque existe muitos zumbis. - diz o garoto. Chae-soo oferece o pano que eu tinha colocado na boca dele minutos antes para Sun-Young, que aceita e seca o rosto.

- Quando decidimos que chamaríamos eles de zumbis? - Pergunto confusa abrindo as gavetas da mesa, em alguma deles tinha que ter papel e caneta.

- A desculpa, você prefiria que fizessemos uma votação para decidir o nome? Como a Coreia é um país democrático, eu voto em zumbis.

- Eu também. - diz Sun-Young assoando o nariz no pano. - Se eu chamar pelos nomes vou chorar até não poder mais.

- Por favor não, apesar de tudo que aconteceu hoje, estou tentando terminar o dia sem ter nenhum pesadelo.

Riu da piadinho do garoto e coloco o caderno recém encontrado em cima da mesa.

- Eu tenho um plano para levar a gente até a sala de transmissão, mas isso não quer dizer que é um plano bom - sorrio tentando passar confiança para os dois.

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A base do meu plano era simples, distrair e correr. Não era um plano brilhante, porém era o que tínhamos para agora. Funcionando, nós saímos no lucro. Não funcionando, bom, ai nós seríamos mordidos.

A parte da distração seria mérito do celular da enfermeira, espero que ela não se importe com o aparelho quebrado.

- Droga, tem senha.

- Tenta 1234 - falo para a Sun-young. Enquanto ela cuidava da senha, eu e o Chae-soo estávamos cobrindo parte óbvias do nosso corpo com panos, para caso aconteça de algum zumbi chegar perto o suficiente para nos morder não consiga nada.

- Não, e também não é 4321.

- Já sei, 0408 - diz Chae-soo.

- É isso! Pera ai, essa não é a data de debut do exo? - Pergunta a garota, vindo até nós e cobrindo o corpo também.

- Sim, ela é fã deles. Você pensou que porque ela gosta tanto de mim? Eu sou quase um irmão gêmeo do Kai.

- Eca - murmura. - Tá ela é fã do exo, mas e você? Como sabia que essa era a data de debut deles? - Quando Sun-Young pergunta isso, o garoto só da de ombros.

Já que a conversa deles acabou, vou até o vidro da porta, encosto meu rosto nele e me arrepio por estar muito gelado. Do lado de fora tinha dezenas deles, eles batiam com a mão várias e várias vezes, manchando o vidro de sangue.

- É agora - digo, pegando uma muleta. - Usa isso aqui, não podemos ficar apoiando o seu corpo até o segundo andar.

Pego meu bastão que prendia a porta e abri uma pequena fresta, na qual passei o celular, já com o aparelho do lado de fora entro no aplicativo de músicas dela, e caramba, ela era fã do exo mesmo. Clico em uma aleatória colocando no último volume, e jogo o celular para o lado contrário da escada. Como o esperado os zumbis foram atrás do som, um sem querer acabou chutando e jogou o celular para mais longe ainda.

Faço uma contagem com as mãos. 3. 2. 1. Saímos devagar tentando fazer o menor barulho o possível, nosso maior problema era o Chae-soo, a muleta dele fazia barulhos irritantes, sorte que o celular era alto o bastante para eles nem perceberem a gente saindo.

Conseguimos chegar até a escada aperto firme o bastão na minha mão, e desci primeiro olho até o final da escada e não vejo ninguém. Aceno com a mão chamando os dois para descer, por sorte durante dois lances de escadas não tinha nenhum zumbi, eles estavam todos concentrados nos corredores. No quarto andar por exemplo, eles estavam na janela de uma das salas, enfurecidos. Azar de quem ficou preso ali.

Quando chegamos no terceiro andar tinha dois andando devagar, pareciam não ter notado que eu descia, fiz um sinal de "para" com a mão e levei o dedo até meus lábios pedindo silêncio. Na ponta dos pés, me aproximava cada vez mais deles, quando eu estava prestes a acertar um na cabeça com o bastão um grito cortou a escada até aquele momento silenciosa.

Era da Sun-young.

Tinha um zumbi grudado no braço dela.

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02/02

𝗨𝗡𝗟𝗨𝗖𝗞𝗬 𝗗𝗔𝗬 ― all of us are deadOnde histórias criam vida. Descubra agora