Gritos insuportavelmente altos.
É o que penso enquanto esfrego o chão da enfermaria, algo que é tão fácil que poderia ser feito em menos de dez minutos, e que está demorando quase uma hora. As pessoas ficam passando para lá e para cá com seu sapatos sujos de lama, o que dificulta a minha tarefa.
No alto-falante instalado nos corredores uma garota fala sobre uma pesquisa aleatória feita nos Estados Unidos. Se três pessoas estiverem ouvindo o que ela fala ficaria muito impressionada.
Olho para o relógio da parede pela décima vez e suspiro. Talvez se saísse agora não me atrasaria para o meu trabalho, porém ainda tenho que passar o esfregão em mais duas salas, se não alguém vai contar para Sra. Park que não terminei e terei que ficar até mais tarde por uma semana.
- Droga de escola - digo entre os dentes.
Depois de pensar mais um pouco decido sair sem acabar tudo, posso sempre inventar uma desculpa para a Sra. Park, ela acreditaria em tudo o que digo, já minha chefe não.
Corro pelos corredores, ouço de vez em quando os alunos me xingarem por esbarrar neles, e não me importo com isso, não é como se eles fossem me bater. Os rumores que rodam a escola são o suficiente para não ser espancada em um telhado de prédio qualquer, pelo menos minha vida escolar é melhor do que metade dos estudantes.
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- Esse já é a terceira vez essa semana! - Grita a Sra. Oh, consigo sentir um pouco da saliva dela cair no meu rosto, mas não ouso me mexer para limpar. - Eu sabia que não deveria ter contratado uma estudante! Não sabe o que é ser responsável! A única coisa boa de você estar aqui é ser uma vad*a barata!
- Desculpa - peço em voz baixa enquanto me curvo um pouco para tentar mostrar minha sinceridade, seguro o máximo que posso as lágrimas que tentam escorrer pelo meu rosto.
- Desculpa? Você ouviu o que ela falou? Só pode estar de brincadeira comigo! - Gritou ainda mais alto a mulher, tirando algumas notas de dinheiro do bolso e as jogando em mim. - Está demitida! Essa é a última coisa que você vai conseguir de mim!
Me ajoelho pegando as notas que agora estavam um pouco molhadas por terem caído no chão - recém limpo pela minha pessoa - e agradeço.
Sei que as pessoas da escola ririam se me vissem nessa situação, sendo desprezada em um bar de terceira categoria, onde os principais clientes eram homens velhos que viriam encher a cara e reclamar da vida patética que têm levado até o momento, só que eu não ganharia nada se levasse sempre em conta esse tipo de coisa. A dignidade não mata a minha fome, o dinheiro dessa velha nojenta sim.
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Eu estava a quinze minutos parada na frente de um pequeno restaurante com o nome de "frango cheongsan", criando coragem para entrar e falar com os proprietários. Deveria ter ido para minha casa e me arrumado um pouco, tirado o uniforme escolar e comido algo, porém não tenho tempo para isso, preciso de um emprego novo rápido, então terei que ir conversar sem estar verdadeiramente apresentável.
- Com licença, olá? - falo abrindo a porta, fazendo o sino soar alto, todas as pessoas ali presentes olharam para mim. - Senhora, eu queria saber se estão contratando...
Olho para trás da senhora de baixa estatura e cruzo meu olhar com quatro adolescentes sentados com a boca suja de molho, arregalo um pouco os olhos surpresa e me seguro para não sair correndo dali.
O que eu estava pensando, era óbvio que aquele lugar era da família do Cheong-san. Eu sabia que eles tinham um restaurante de frango, até porque o Gyeong-su fez a propaganda do lugar para a sala toda, e a loja é literalmente o nome dele, como fui tão burra ao ponto de não saber conectar as coisas.
- Oh querida, sinto muito. Não contratamos estudantes - disse a mulher, me tirando dos meus próprios pensamentos. Ela me olha da cabeças aos pés, dando uma atenção aos meus joelhos que estavam com alguns cortes por causa de mais cedo. - Você quer comer alguns frangos? Fiz uma receita nova e preciso de pessoas para provar.
- Não precisa Sra. Lee, obrigada - murmuro apressada e comprimento os quatro que me olhavam assustados. - Eu preciso ir, obrigada novamente.
Andando pelas ruas que não estavam tão movimentadas suspiro, agora era o melhor momento para procurar emprego, um pouco antes do horário de pico e é quando algum funcionário liga para falar que não pode ir por estar doente ou com algum problema familiar.
Paro em frente a um outro restaurante e prendo meu cabelo com o elástico que está a todo momento no meu pulso, alguns fios escapam por ele ser muito curto, mas não me importo com isso. Cabelo atrapalhando a vista é a última das minhas preocupações.
Foi assim que começei minha noite, passei o resto dela ouvindo dezenas de "não", parece que aquele não era meu dia de sorte.
- Esquece, amanhã resolvo isso - digo para mim mesma, desamarrando meus cabelos e os predendo novamente, só que agora em um coque alto. - Hora de ir para casa - sorrio para meu reflexo. Eu estava péssima, não era nenhuma surpresa não ter conseguido nada hoje.
Caminho pelas ruas olhando para frente, mas nunca esquecendo de prestar atenção no que acontece atrás, com as duas mão nos bolsos do moletom e a mochila nas costas, ando o mais rápido que consigo sem parecer estranha.
Por mais que eu não goste de caminhar pelas ruas do meu bairro tão tarde da noite, não posso evitar. A maior parte do meu dia eu tenho que estar na escola, sobrando só de noite para poder trabalhar. Eu poderia largar a escola ou algo do tipo, mas o governo deixou claro que essa não é uma opção.
Na minha mão direita está o meu amado bastão retrátil, que no momento estava fechado. Ele custou meses das minhas economias, e não me arrependo disso, ele foi de longe meu maior investimento, e é o único que eu confio de verdade
Na frente da porta do meu apartamento, comprimento levemente com a cabeça minha vizinha Mi-Ka, ela morava sozinha, porém era normal de se ver um homem ou outro entrando nele durante o dia, nunca de noite. De vez enquando penso no que eles tanto fazem lá.
Jogo minha chaves na mesinha ao lado da porta, tiro meu sapatos, e ando somente de meia pela casa que não estava tão limpa. Moro sozinha à muitos meses, e como passo o dia na escola, a noite trabalhando e no final de semana cuidando dos três filhos da senhora do condomínio ao lado, não tenho tempo de fazer uma faxina constante, e como só eu entrava naquele lugar, não havia problema.
O apartamento não era muito digno de se chamar apartamento, era só um cômodo onde de um lado da parede era a cama, e o outro ficava a pia, que a maior parte era ocupada pelo micro-ondas. Talvez pela casa não ter muitos móveis, isso a faça parecer maior.
Surpiro novamente e deito na cama sem trocar a roupa, amanhã de manhã me preocuparia com o banho.
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Ao longo do capítulo eu dei algumas dicas do passado dela, talvez demore um pouco para vocês saberem toda a verdade, mas se prestarem atenção conseguem ter uma ideia.
01/02
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𝗨𝗡𝗟𝗨𝗖𝗞𝗬 𝗗𝗔𝗬 ― all of us are dead
Fanfic。.•*¨*•🗡️✧ υทℓυcкy ∂αy ✧🗡️•*¨*•.。 "Uma epidemia mortal surge em uma escola. Encurralados, os alunos só tem uma opção: lutar com todas as forças para não virarem zumbis." 𖡉 p...