Capítulo 2

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  Acordei sentindo os olhos pesados

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  Acordei sentindo os olhos pesados. Certamente estão inchados pelo choro de ontem. Senti outra vez o incômodo causado pela luz do sol. E como no dia anterior, minha visão se reduzira a cinzas - literalmente. Ainda deitada, posicionei a mão à frente do rosto - quer dizer, acho que fiz.

  Eu precisava confirmar que aquilo não passava de uma brincadeira de mal gosto. Que eu poderia enxergar como sempre. Que veria cores e contornos ao meu redor. Que não veria mais daquele infinito nada. O que eu queria era a confirmação de que aquele pesadelo logo acabaria.

  Não me surpreendi quando não obtive a resposta desejada. Mas não posso dizer que me conformei. Pelo contrário, a raiva me consumia ainda mais do que ontem. Quando aquele homem me trouxe a notícia de que eu estava ferida, pensei apenas no ferimento dos olhos. Qual foi minha surpresa ao tentar levantar da cama e sentir a dor invadir meu corpo?

  Mais precisamente, minha perna esquerda.

  Forçar-me a levantar da cama foi com certeza minha maior estupidez, e agora eu pagava o preço. Meu tombo foi feio. Senti os pontos abrirem - e eu nem sabia que haviam pontos. Senti a dor lancinante, que me fez ter certeza do osso quebrado. Senti pontadas nas mãos, provavelmente cortadas pelos vidros do copo. Senti também o escorrer do sangue, e embora eu não pudesse vê-lo, eu sabia que não era pouco. Tudo o que me restava era estanca-lo com os lençóis. Eu não chamaria aquele homem nem se minha outra perna dependesse disso!

  O choro veio novamente. A dor era insuportável, e tudo que eu podia fazer era continuar jogada no chão, apertando os lençóis na minha perna. Revoltada, me obriguei a voltar para a cama. Ignorei a dor e depois de muito tempo - e reforço - consegui me deitar novamente. Não que isso tenha sido de grande ajuda, pois eu ainda sentia as mãos ardendo, o corpo reclamando e as pernas doendo. Muito.

  A cada minuto sentia meus desgostos aumentarem. Minha garganta ardia, mas eu não conseguia encontrar o bendito criado mudo com a água - se é que ainda tinha água. E mesmo que o encontrasse, não me sentia disposta a me mover na cama outra vez.

  Senti as lágrimas chegarem mais uma vez, e com elas a lembrança dos dias anteriores, onde estive cativa desse homem para servir como moeda de troca. O choro agora veio mesclado de frustração e ressentimento. O responsável pela minha desgraça era ele, com toda certeza. Foi ele quem disparou contra mim. Eu pude sentir sua mira na minha cabeça assim como apontavam conta a cabeça da outra mulher.

  Lembrar-me dela me trouxe novas sensações. E dessas eu nunca havia provado. Uma mistura de empatia, preocupação e culpa... Sinto pesar com sua morte, e acabo preocupada com o retorno dos outros homens, afinal eu ainda estava viva, e isso poderia trazê-los de volta. E principalmente senti-me culpada. Não deveria ter aceitado participar do plano acima de tudo. E a imagem do corpo da mulher coberto de sangue antes que eu desmaiasse certamente não era a melhor obra de arte.

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