Capítulo 1 - A Menina do Calçadão

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     — Você precisa se arrumar, querida — A empregada dizia com o máximo de simpatia possível. July Harmond, na maior parte do tempo, também era amigável com os funcionários do seu pai, mas hoje ela estava verdadeiramente farta da aristocracia de Newdawn — O maquiador já está lhe esperando.

     — Eu sei Clementine, só preciso buscar uma presilha no meu quarto — July vira-se e anda apressada pelos corredores do casarão, por vezes olhando para trás, certificando-se de não está sendo seguida ou vigiada.

     Já no quarto, ela corre para o closet, onde troca o sofisticado vestido rosa por um traje comum e menos chamativo, do tipo que via os civis utilizando durante suas fugas. Em qualquer pessoa seria um traje normal, mas nela, e no seu corpo atlético forjado nas aulas de balé clássico e no auge dos seus dezessete anos, a combinação de cabelo repartido em duas "marias-chiquinhas" com botas de couro, a simples blusa branca de algodão, o colete cinza listrado combinando com a saia e o chapéu estilizado pareciam mais uma fantasia. Uma pobre menina rica fantasiada de uma rica menina pobre. Mas aquele disfarce sempre lhe caía muito bem.

     Ela abre a janela, observando o movimento da rua, nada fora do comum já que as vizinhanças ricas eram normalmente silenciosas de um jeito fantasmagórico. Ao erguer a vista, observa a Torre de Comando da cidade flutuante projetando-se algumas ruas atrás. Uma construção que sempre despertou sua curiosidade, não só por causa do design esquisito, muito mais altas do que qualquer outro prédio e com longas cordas metálicas saindo de seu entorno e passando por cima da vizinhança até o ponto mais extremo do lado leste da cidade como uma forma metafórica de mostrar que aquela área era protegida pelo governo, mas também pelo fato de, mesmo com a considerável importância social da família Harmond advinha das atividades bancárias de seu pai, July nunca recebeu autorização para visitar seu interior. Nenhum oficial também nunca havia reclamado dela utilizar as cordas para fugir de casa.

     Como uma das cordas passava a poucos metros da janela lateral do seu closet, no terceiro andar do casarão, July podia se agarrar a corda metálica com facilidade e, pendurada, percorrer alguns metros até a rua de trás, por onde usava um poste para deslizar até a calçada. A corda era grosseira e sua textura era áspera e um pouco desconfortável devido às pequenas protuberâncias que saiam de suas amarras e eram afiadas como agulhas de injeção, mas a garota ainda conseguia se segurar nela com a mão quase fechada, e ainda aproveitar o momento arriscado para avistar melhor o céu azulado por trás das grades de segurança. Ela sempre se perguntava como os antigos se sentiam ao ver a abóbada celeste se estender infinitamente por cima deles, enquanto ela tinha o mesmo firmamento se estendendo em todas as direções. Enquanto isso, por trás dela, a empregada via novamente sua façanha por uma das janelas traseiras do casarão.

     — Seu pai não vai gostar nada disso! — Clementine a repreendeu com tom de desaprovação.

     — Desculpa, mas ele sabe onde me encontrar — Nisso, July começou sua caminhada.

Coração a VaporOnde histórias criam vida. Descubra agora